Doze

1.3K 183 94
                                    

Alerta de gatilho
Agressão e pensamentos suicidas
______________________________________

Ainda na terça-feira

Lilith pov

Durante o jantar com Cronos, eu quase não encosto na comida. Me pergunto como chegamos a esse ponto.

Quando meus pais eram vivos, éramos tão felizes, meu pai contava piadas que só ele achava graça durante os jantares, mas a forma que ele contava tornava a coisa mais engraçada do mundo. Minha mãe ria tanto que parecia que ia explodir.

Nonna não estava acamada e contava sobre os quadros que ela estava pintando, enquanto tentava convencer Cronos e eu a posar para ela.

Cronos era gentil e super protetor comigo, foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta, ele me levava para pedir doces no Halloween, para tirar fotos com o papai noel na época de natal, ele que trocava meus dentes que caiam por dinheiro para que eu acreditasse na fada do dente. Ele era o melhor irmão mais velho do mundo.

Eu queria poder voltar para esse tempo. Antes de tudo desmoronar, antes do meu coração ser quebrado.

- A comida não é do seu agrado madame? - Cronos fala em um tom neutro que ele quase nunca usa.

- Não estou com fome - eu respondo e ele se levanta levando seu prato até a lava-louça.

- As coisas estão caras - ele fala dando a volta para ficar atrás de mim - Com o meu salário, eu tenho que pagar sua escola - ele fala com as mãos no meu ombro - A enfermeira, os remédios da vovó e ainda tem a droga do jardim - suas mãos vão subindo na direção do meu maxilar onde ele faz pressão - Então coma a porra da comida.

Ele pega o garfo da minha mão, enche de comida e enfia na minha boca enquanto eu luto para não engasgar.

- Eu faço tudo por essa família e é assim que você me agradece, sendo uma vadia ingrata - ele fala enfiando mais e mais comida na minha boca enquanto ainda aperta meu maxilar - Isso não é justo, nossos pais morreram e eu que tenho que cuidar de uma velha moribunda e uma adolescente mimada.

Ele me solta e eu corro para o banheiro para vomitar, ouço a porta da frente sendo aberta e fechada, meu irmão provavelmente saiu para encher a cara.

Eu preciso tomar um ar.

Vou até uma ponte que tem na cidade, eu gosto da visão daqui, as luzes, olhando assim as pessoas parecem tão pequenas e insignificantes.

O pensamento de me jogar na água passa pela minha cabeça, a ideia de encontrar meus pais me parece atraente.

- Se você pular não vai morrer - ouço uma voz conhecida dizer - Nessa altura só vai quebrar vários ossos do corpo e passar por uma longa e dolorosa recuperação.

- Não vou pular Frank - eu falo mas nem eu mesma acredito em minhas palavras.

- Eu sou velho garota mas não sou idiota - ele fala ficando ao meu lado - Não sei o que aconteceu para te fazer achar que a morte é a melhor opção, mas uma coisa eu te digo se você morrer vai deixar que vençam - ele fala olhando nos meus olhos - Não deixe que vençam.

Eu abraço o idoso não conseguindo mais conter as lágrimas.

- Eu gostaria de poder voltar para quando eu era feliz - eu falo entre soluços ainda agarrada ao homem.

- Quem não gostaria - ele fala fazendo um carinho em meus cabelos - Você me lembra a minha falecida esposa, o que eu não daria para vê-la novamente.

- Sinto falta dos meus pais - eu falo chorando ainda mais - Sinto falta do meu irmão.

Sinto falta de quem Cronos era antes de tudo desabar.

- As pessoas dizem que a dor passa com o tempo, mas isso não é verdade, todos os dias eu sinto a dor de quando minha Florence se foi.

- Como ela era? - eu pergunto me separando dele.

- Assim como você, ela era mais fechada e não gostava muito de socializar, mas também era intrometida. Uma vez ela entrou em uma briga com um  cara que tinha o dobro do tamanho dela porque ele estava agredindo a esposa, isso era bem comum nos anos 50.

É comum até hoje

- Florence era espirituosa, adorava ler e dançar, ela não costumava cantar mas sua voz era divina - ele fala com um brilho no olhar - A princípio ela me odiava por me achar narcisista e convencido.

Isso me lembra alguém.

- Eu me apaixonei à primeira vista, mas demorou muito até que ela me desse uma chance. Ela dizia que meu neto se parece muito comigo.

- Ele parece?

- De aparência não, mas a personalidade é semelhante, se você conhecê-lo provavelmente iria achar o mesmo que Florence achava de mim.

Provavelmente.
______________________________________

Midnight rain || Mason ThamesOnde histórias criam vida. Descubra agora