Capítulo Um

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Muito, mas muito obrigada por ler <3

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28 DE NOVEMBRO, 2006.

A noite estava estrelada.
As ruas da pequena cidade de Snowmass Village estavam vazias. Todos os pouco mais de dois mil moradores, dormiam pacificamente em suas casas, aproveitando o descanso que a terça-feira proporcionava naquele instante.
O inverno seria rigoroso, as temperaturas baixas e névoa constante indicavam que faltavam dois dias para o frio intenso começar. Então, o que levaria uma garota de oito anos, correr no meio das casas tão quietas, desesperada?

As pernas corriam como se a vida da pequena dona dependesse disso, porque dependia. Maldito dia em que havia escolhido acampar com seus tios, maldita hora que havia resolvido ir ao banheiro sem companhia, maldito lugar longe de casa.
Ela corria e, por vezes, tropeçava em seus próprios pés, mas nunca sendo derrubada. A adrenalina consumia seu corpo e seus pulmões pareciam querer colapsar pela quantidade de ar gelado que inalava. Seu nariz queimava com a temperatura, sua garganta estava seca e seus pés, pernas e braços doíam. Estava correndo há pelo menos, vinte minutos, entre tombos e passos desregulados. Já havia atravessado a pequena floresta, um pedaço do lago que cortava o espaço de camping e agora estava diante da rua principal, tentando achar o rumo de sua casa.
Ao ver o pequeno rio conhecido, automaticamente suas pernas a levam até lá. Ali seria um ótimo lugar para se esconder se ela soubesse nadar. Droga, havia se esquecido desse detalhe.

Os passos começam a ficar mais altos e pesados, uma respiração descompassada e quase desumana ecoava pelo pequeno parque perto do centro, mas o silêncio total deixava tudo ainda mais perturbador. O barulho da água correndo lentamente podia ser ouvido, o bater de asas dos morcegos e os grilos, compunham uma sinfonia de terror e desconforto naquele momento. Eram como uma verdadeira banda de estranheza.
Lutando contra o instinto de seu corpo, ela coloca os pés na água fria, tentando não fazer barulho algum. Com passos lentos, ela atravessa o lugar, sentindo que a qualquer momento, iria morrer de hipotermia. Mal conseguia sentir suas mãos e tinha certeza que seus lábios estavam roxos. Seu corpo todo tremia e seu pijama não colaborava para o aquecimento do seu corpo.

Assim que pisou novamente na grama, viu ao longe as luzes do parquinho e suspirou, estava perto de casa, não faltava muito.
Tomando toda a coragem e força restante em seu pequeno corpo, ela começa a correr, sem se importar com os barulhos que fazia. Naquele momento, estava mais focada em sobreviver. Sua mãe poderia a aquecer novamente, mas não poderia a tirar de um caixão.
Ao atravessar a rua, ela sente algo bater em sua cabeça e vai de cara ao chão. Alguém a atacou. Aquilo a atacou.
Ela sentia algo escorrer por sua nuca quando levantou e tentou terminar seu trajeto, mas foi pega por mãos grandes e levada de volta ao rio que acabara de cruzar. Já se sentia fraca quando foi jogada por entre as pedras, sendo lavada pela água fria que batia contra seu corpo.
Finalmente, ao olhar para o rosto de quem a perseguia, não soube dizer se era um homem, uma mulher, ou algo entre os dois, tudo o que conseguiu ver foi um brilho maníaco no olhar, que refletia a luz dos postes. A figura usava um capuz e tinha roupas pesadas em seu corpo, impossibilitando a visão de qualquer característica física que pudesse ser marcada. Não que fosse sair viva dessa para contar história, mas seria ótimo pelo menos morrer sabendo quem era seu assassino, ou assassina.

Uma risada diabólica ecoou, antes que a figura virasse as costas, sabia que deixando a criança ali, não levaria muito tempo para morrer de hipotermia. O corpo com um pijama fino não aguentaria a temperatura tão baixa, por muito tempo. Pelo menos assim, não haveriam testemunhas.

Em seus últimos segundos de consciência, observou o céu estrelado e sua constelação favorita brilhou uma última vez. As memórias de sua vida inteira passavam em sua cabeça e, apesar de desesperada para impedir o que iria acontecer, seu corpo não respondia mais.
A água batia contra seus membros e ela podia jurar que via sangue. Sua nuca ardia pelo objeto que a acertou, não sabia se era uma pedra ou outra coisa, mas tinha certeza de que era afiado.
Ela não sentia suas pernas, seus braços e agora, deixava de enxergar.
Pouco a pouco, sua audição também foi embora. Mas antes de seu sistema desligar, ela podia jurar ter ouvido um grito igualmente desesperado e jovem como os que deu no acampamento. Não sabia se era realidade ou não e, naquele momento, já não importava mais. Não teria de lidar com isso. Na verdade, não teria de lidar com nada nunca mais. Assim como nos fliperamas que jogava, sua moeda única havia ido embora e, seu tempo de jogo, já estava esgotado.

Survivor's Guilt (wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora