Survivor's Guilt (wenclair)

Capítulo Doze

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- Enid Sinclair -

Assim que ouvi a frase de Wednesday, meu coração errou uma batida e meu estômago se comprimiu. Voltar para Snowmass. Voltar para o centro do meu pesadelo.
Pude perceber que ela estava receosa com a pergunta e por isso, começou a explicar.

- Não precisa se não quiser, okay? - acho que percebeu a falta de resposta e imaginou minha reação - eu só perguntei por que pensei que talvez você quisesse algum tipo de resposta também. Eu vou ir assim que sairmos do Skywalk, são mais de trinta horas de viagem. Desculpa se te trouxe memórias ruins, Enid.

Ainda estava pensativa. Eu queria respostas. Eu quero respostas.
Mas o problema é enfrentar o pacote que vem junto com tudo isso: reviver algo que eu sequer superei. Reviver pesadelos que tiram meu sono e rever lugares que jurei nunca mais voltar. Meu medo não é o lugar em si, mas como vou reagir diante de tudo.
Me permiti pensar por mais algum instantes, ouvindo o batuque das unhas da morena através do telefone. Ela também estava ansiosa e apreensiva, talvez tivesse seus próprios motivos e não estava assim por minha causa.

- Enid? - ela suspirou cansada - desculpa. Acredito que seja melhor deixarmos isso pra lá. Boa noite, durma bem e de novo, perdão por te trazer memórias ruins. Te vejo amanhã?

- Tenho até amanhã às seis para te responder? - finalmente disse alguma coisa.

- Você tem todo o tempo do mundo para pensar - seu tom mudou para um mais doce e compreensivo. Algo que eu estava passando a gostar - se resolver ir junto comigo no último segundo, não tem problema algum. Podemos passar na sua casa para pegar as coisas e depois partimos em direção ao Colorado. Eu só quero que tome essa decisão por você, para você e com você. Não julgue outras opiniões. Você é a prioridade nisso, okay?

- Eu sou a prioridade? - as palavras pareciam se embolar e minha dicção pareceu se esvair no segundo em que ouvi o que ela disse.

- Sim, Enid. Não tem como eu decidir algo por você, sabendo que isso envolve uma ferida ainda aberta - ela suspirou - durma e você me responde amanhã, hm?

- Okay - sussurrei - okay.

- Boa noite Enid. Bons sonhos - foram as últimas coisas que ouvi antes da ligação ser encerrada.

Nem percebi quando Kent saiu. Provavelmente ficou curioso demais e se decepcionou com a falta de informação, algo que não é muito fora do comum pra ele.
Senti um peso ser retirado de meus ombros.

"Você é a prioridade nisso, okay? Não tem como eu decidir algo por você, sabendo que isso envolve uma ferida ainda aberta."
Compreensão. Acho que nunca me senti verdadeiramente compreendida por alguém.
Levarem em conta a minha opinião sobre algo é raro, um exemplo é a decisão de me mandarem para um hospital psiquiátrico. Ainda restava uma grama de angústia e uma tonelada de raiva sobre esse assunto.

- Enid? - ouvi a voz da minha mãe.

Um calafrio percorreu meu corpo.

- Pode entrar - me ajeitei na cama.

- Quero falar com você - ela fechou a porta e se aproximou lentamente - vi que passou o dia fora.