- Não. - Respondi pela milésima vez a resposta de uma pergunta simples, mas minha avó sempre fora imensamente teimosa.
Queria saber como ela teve a misera ideia de me arrastar para sua fazenda, alegando estar extremamente doente, achando que não estaria ali até a minha visita marcada em três semanas, me fazendo ir antes do planejado. Quando pisei meus pés dentro da casa em meio ao pasto e aos animais da enorme fazenda, a vi saudável beijando o fazendeiro vizinho pouco mais velho que a mesma.
Agora eu estava tentando ir embora, mas uma senhora com quase noventa anos dizia que seria bom eu sair da cidade grande por mais do que duas semanas, que seria bom tirar a mente das confecções de joias. Confesso que seria bom para mim, contudo eu não tinha como parar meu trabalho por um período de tempo tão longo.
- Minha filha, fique um pouco e me ajuda, prometo pagar pelo tempo que você "vai perder" ficando aqui. - Disse ela na cadeira de balanço da varanda grande na entrada principal da casa, com uma vista vasta para o campo repleto de animais e a estrada de chão. - Você precisa descansar, vive com a cabeça nesse seu trabalho. Quando foi a última vez que saiu com alguém? Que transou?
- Vó! - Sua falta de tato para assuntos sexuais sempre foi um tabu grande na família. Dona Mayumi nunca se importou de falar sobre a vida sexual ativa que tinha com seu marido há trinta e tantos anos antes na grande fazenda rica do interior, muito menos quando se recuperou do luto e começou a sair com alguns homens como o vizinho que vive à alguns quilômetros de distância.
- O que? É isso mesmo, S/N? Não acredito! Uma mulher tão bela como você não transar! Se eu tivesse o corpo que você têm, minha neta, acredite, eu sairia com todos os homens e mulheres que eu pudesse!
- Me admira muito a senhora só ter tido dois filhos e nunca ter pego nenhuma infecção sexual. - Comentei em resposta me sentando ao seu lado no pequeno banco de madeira. - Eu estou esperando alguém especial, vovó. Não quero sair me relacionando com todo mundo.
- Não é com todo mundo, só com quem você aceita ir à um motel. - Completou, fazendo-me revirar os olhos e soltar um suspiro. - De qualquer forma, quero que você fique aqui por um tempo, vai ser bom para a sua saúde.
Ela fez um carinho em minhas mãos, se levantou e foi para dentro de casa, dizendo que faria uma torta de maçã com as frutas do pomar que tinha atrás de casa. Respirei fundo. Ela estava certa, não podia negar que precisava de um descanso das buzinas, da cidade que sempre estava iluminada, da multidão e do trabalho cansativo.
Dirigi até a cidade, preparei outras mudas de roupas, avisei aos funcionários que estaria fora por um mês, recuperando maior parte das férias que eu não gostava de tirar, porque pensava demais e relaxava pouco. Voltei com roupas o suficiente para dois meses, por conta da garantia de chuvas, tempos frios e o calor do sol enquanto trabalhava dentro do milharal e dos campos de arroz.
Quando abri a porta da casa, carregando metade das minhas malas, minha avó estava em pé na sala, servindo uma fatia generosa a um homem de cabelos negros. Não servia para estar ali, ficava deslocado no ambiente simples e pequeno da sala, o homem parecia alto mesmo estando sentado, tinha ombros largos e as costas marcadas pela camiseta branca.
- S/N! Finalmente voltou. A torta já está pronta, sente-se. - Disse a senhora de cabelos grisalhos presos em um coque baixo.
Fiz como a mesma ordenou, deixei as malas ao pé da escada e me sentei no outro sofá, ao lado da poltrona onde a mais velha sempre sentava e de frente ao sujeito estranho. Ele tinha muitas cicatrizes pelo corpo, desde os braços até o rosto, também tinha piercings que estranhamente combinavam com ele, a calça jeans gasta torneava bem as pernas fortes e as mangas da camisa apertavam nos músculos dos braços e dos ombros.