𝐒𝐚𝐢𝐭𝐚𝐦𝐚

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- Espero que o mercado não tenha fechado. - Murmurei calmamente enquanto caminhava pela rua parcialmente vazia.

Já fazia algum tempo desde que surgiu algum vilão e isso trouxe uma tranquilidade esses dias. Mas o tédio ficava grande, não tinha muita coisa interessante de se fazer além de jogar e assistir algumas animações.

King disse que talvez eu devesse arranjar uma garota legal. Que seria bom para mim, que sairia da rotina e que ela me traria mais felicidade. Contudo, eu não conheço alguma garota que me traga interesse. Todas são muito chatas e mal humoradas. Não poderia ser uma heroína, não quero ter que ficar me preocupando toda vez que ela iria para uma missão, mas ela também teria que ser forte, para poder se proteger sozinha.

Esse lance de "arranjar alguém" é muito complicado...

O mercado estava surpreendente vazio. O que era de se estranhar com a promoção de carnes.

Fui passando pelos corredores junto de uma cestinha e pegando tudo o que eu precisava. Uma sensação de estar sendo observado me incomodava, mas cada vez que eu olhava para trás não tinha ninguém.

Meus dias de paz tinham acabado. Fui até um corredor mais vazio, esperando que qualquer que fosse o ser me acompanhasse junto.

Dito e feito.

- Quem está aí? - Questionei com um pacote de cerais orgânicos em mãos.

Algo agarrou minha calça, com o susto, dei um passo para trás e um baque surdo se fez. Olhando para baixo, aos poucos uma criança foi surgindo, como se antes usasse uma tinta invisível. Os olhos estavam em lágrimas enquanto ela ajeitava o pequeno chapéu escolar na cabeça.

A garotinha se levantou e segurou minha perna novamente, abraçando-a firmemente.

- Ei, onde está seus pais? - Perguntei gentilmente me abaixando.

- A mamãe tá' fazendo compras! Ela disse que ia ter ensopado de carne hoje! - Disse a jovenzinha com uma sorriso de ponta a ponta.

- Sério? Parece gostoso. Onde está sua mamãe? - Questionei ao pega-la no colo.

- O senhor é careca! - Brandou eufórica.

- Eu não sou... - Antes que eu conseguisse concluir a frase, a criança tirou o chapéu da cabeça, revelando a ausência do cabelo. Não precisei de mais para entender a doença.

- Eu também sou! - Disse em um sorriso que revelava as pequenas frestas que os dentes de leite deixaram. - Você é um herói?

- Sim, eu sou. Mas acho que você é mais forte que eu.

Voltei a andar com o corredor com ela no colo, tagarelando sobre sua mãe e de como elar era linda, falava da escola e que não tinha muitos amigos por ser diferente, contou que o pai tinha ido para o céu e que amava ler. No meio de suas falas descobri que seu nome era Alba, sua mãe tinha a batizado assim por que nasceu de manhã cedo.

Era uma garota bem falante, não do tipo ruim. 

Quando estávamos na sessão de carnes, passos apressados podiam ser ouvidos dando eco pelo corredor quando uma voz assustada.

- Alba! - Gritou a mulher que logo pegou a criança no colo assim que ela se jogou. Realmente, ela era uma mulher bela. 

Os cachos castanhos caiam pelos ombros, não tinha um corpo de modelo, mas curvas sutis de uma mulher comum, a pele bronzeada e os olhos azuis com tons de verdes eram magníficos, exalava um perfume da brisa oceânica. Ela não aparentava passar dos trinta anos.

- Eu estava preocupada. - A voz era tranquila, combinando com ela.

- Desculpa, mamãe. É que eu vi alguém que nem eu. - Disse a garota começando a pular ao lado da mãe e apontando para mim. - Ele disse que eu sou mais forte que ele! Eu sou mais forte que um herói!

O orgulho da pequena fez um sorriso aparecer no rosto da mãe, era um belo sorriso que fazia o ambiente brilhar.

- Desculpe pelo incomodo e obrigada por cuidar dela. - Disse olhando para mim, fazendo com que eu perdesse o fôlego e, como uma antiga mania, levasse uma das mãos ao pescoço.

- Não tem que me agradecer, ela é uma garota bem energética que se orgulha muito da mãe. Mas, venha cá, Alba. - Disse me abaixando e sussurrando no ouvido da garota. - A sua mãe é linda, mas acho que você é muito mais. 

A garotinha se afastou incrédula e segurou a mão da mãe.

- Mentira! A mamãe é muito mais bonita! - Esbravejou. - Olha o cabelo da mamãe, é lindo e cheiroso!

- E precisa de cabelo para ser lindo? - Perguntei levando a mão até o peito, fingindo estar incrédulo.

- É que você é garoto, mas para garotas precisa!

- Você sabe que não precisa, querida. - Disse a mulher ficando na altura da garota. - E aquele senhor está certo, você é muito mais bela que a mamãe.

- Dois contra um! Ganhamos! - Brinquei mostrando a língua para ela que se desatou a rir.

Eu as acompanhei até o caixa e paramos na frente do supermercado. A criança estava no colo da morena, sonolenta, quase dormindo. A mãe de Alba e eu conversamos dentro do mercado, ela parece ser uma mulher extremamente gentil e não tenho dúvidas sobre a força que ela tem.

- Ei, tudo bem se eu a acompanhar até em casa? Deve ser um pouco difícil carregar as sacolas e ela. - Ela me olhou surpresa, mas esboçou um sorriso e disse que eu podia pegar as sacolas cheias das mãos dela.

Fiz como ela sugeriu, coloquei as sacolas no braço e peguei a criança do colo dela e a embrulhando em meus braços.

- Eu posso leva-la! - Sussurrou tentando pegar a criança de volta que não ajudou quando segurou minha camisa.

- Eu faço esse favor. Se não for muito descarado da minha parte, eu gostaria de ter o seu número.

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