Mike Rangel

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— Aqui...

Quando entreguei os arquivos de Taia, ela não me pareceu surpresa com a semelhança, mas ao folheá-lo ela ficou nervosa demais pro meu gosto.

— Mas que...

Ela não terminou o que eu achei estranho, mas pelo pouco que eu vi, Mendez era estranha.

Seus olhos verdes se arregalaram e pareceram se escurecer, parecia mais que essa doida estava tendo uma crise de pânico. Não acredito que encontrei a única policial que tem medo de mortos, definitivamente essa carreira não era pra ela, revirei os olhos, e ela continuava encarando o arquivo

— Essas fotos da Taia foram ... as últimas?

Ela perguntou com os lábios trêmulos, achei estranho quando ela colocou uma de suas mãos no lóbulo da orelha e começou a apertar, como se fosse um tique, era melhor eu tirar o arquivo de suas mãos antes que ela surtasse, segurei a pasta e a puxei de uma vez a tirando do transe que ela parecia ter entrado

— Sim foram...

— Vocês não fizeram nada pra salvar ela? É claro que tinha alguém vigiando.

Ela começou a se meter em algo que ela nem mesmo sabia, e claro começou a me irritar, tirei a porcaria da pasta pra ver se ela não surtava, e ela claro que ia falar mal do trabalho dos outros.

— Que tal você se preocupar em não surtar quando ver a foto de um cadáver? Antes de se meter no trabalho dos outros?

— Sério? Vai dizer que o estúpido que estava vigiando ela não imaginou que essa merda ia acontecer? Que ela ia morrer?

— CALA A BOCA!— me levantei e bati com força na mesa, afinal esse estupido que ela estava falando era eu.

 Imediatamente ela me olhou e os olhos dela pareciam ter fogo, ela estava furiosa, eu peguei o arquivo e o abri novamente até depois das fotos do corpo de Taia. Agora ela iria ver o que aconteceu.

— OLHA O RESTO DESSA DROGA, ANDA MENDEZ — Joguei a pasta aberta em cima da mesa— Você não aguentou olhar pras fotos dela morta? Olha o resto, olha.

Comecei a passar página, e lembrei desse dia, foi o último que falei com Taia, e o último que a vi viva, o restante das fotos eram de como o Giulio a espancava todos os dias, era assim que íamos pega-lo, precisávamos de provas, e a Taia nos garantiu, ela garantiu pra mim que ele nunca passava disso, ele precisava dela ali todos os dias, e o pior de tudo é que ela o amava. Enquanto estava perdido em meus pensamentos não percebi que Mendez não olhava mais pro papel o que fez eu me irritar

— Termina de ver, quando ele terminou de dar uma bela de uma surra nela, ELA ESTAVA VIVA

Eu bati o dedo na foto em que Taia se sentava novamente em frente a janela depois de ter levado uma surra imensa de Giulio e sorria pra mim, como se ela dissesse tudo bem. Ela confiava em mim para protegê-la e no fim da noite ela estava morta. Mendez me olhou e fez uma cara estranha, isso não ia dar certo

— É que...

— Mendez, se você não tem capacidade de ver fotos de um cadáver... Você está na profissão errada 

— Não é isso, é que...

Ela percebeu que ia falar algo e ela mesma fechou a boca, essa droga não ia dar certo, essa mulher é maluca. COMO TODAS ELAS, MAS A MENDEZ ERA PIOR.

— Eu vou ligar pro capitão, isso não vai dar certo.

Saí de perto dela, eu estava no auge do meu nervoso, e ela permaneceu sentada por algum tempo, eu peguei o telefone e comecei a ligar até que senti um toque macio em meu ombro e um cheiro característico de pêra pairando no ar.

— Não faz isso...Por favor — A Mendez havia encostado uma mão em meu ombro, e o seu tom de voz era baixo e aveludado agora, isso me fez fechar os olhos e me acalmar, ela realmente era uma tremenda de uma bipolar.

 Continuei calado e continuei a discar os números do capitão, eu sabia de cor, da quantidade de vezes que ele me ligou pra implorar pra eu fazer parte da sua força-tarefa falida. E era falida pelo motivo que Giulio era esperto demais pra não perceber que estava sendo enganado, e o outro motivo era a Lana Mendez, que era bipolar e não conseguia lidar com casos de violência doméstica e cadáveres sendo uma policial, quando o capitão atendeu, Mendez puxou o celular da minha mão e desligou,  virei de frente pra ela e ela estava ali parada me encarando.

Ta aí, essa era a maior diferença entre Lana Mendez e Taia. A Lana apesar de maluca, era guerreira, o pouco que eu vi hoje, ela era extremamente cabeça dura, e que ela não descubra mas ela parece ser incrível. A Taia não, ela era dependente do Giulio e o fim dela foi trágico.

— Lana, me devolve esse celular, quer dizer Mendez

Ela sorriu quando eu a chamei de Lana, e nem eu entendi porque fiz isso, só saiu

— Pode me chamar de Lana, eu te chamo de Mike, até gosto. Mas tudo que eu preciso é uma chance pra eu te provar que eu posso te ajudar nisso tudo

Ela me olhou com firmeza e esticou a mão devolvendo meu telefone, me dando a chance de decidir ligar ou não pro capitão, ela sabia que se eu falasse o capitão acabaria com a força-tarefa, não era orgulho, era apenas uma grande verdade, e se fosse em outros tempos eu já teria feito e estaria em casa. Mas algo nela me chamou atenção, a esperança naqueles grandes e belos olhos verdes dela. Espera, eu pensei belos? Só são grandes mesmo.

— Ok, tudo bem, mas não surta de novo.

Respirei fundo e andei novamente em direção a mesa para continuarmos tudo novamente. Passamos o dia todo estudando sobre Morello, ela era esforçada apesar de 5 em 5 minutos me tirar do sério. Depois que ela viu as fotos de Taia, ela ficou distante e mais quieta, não sei ao certo porquê, mas era claro que algo a incomodava.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora