Por Mike Rangel

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Hoje, eu estava animado achando que algo de bom poderia sair daquela ligação, uma forma de capturar Giulio Morello! Meu dia estava ótimo, depois de alguns anos procurando aquele otário, eu finalmente ia pega-lo. 

Essa ligação ainda veio a calhar, afinal eu precisava dispensar a Susana sem parecer ... um babaca.

 Na real, não tinha certeza se era Susana ou talvez Sara, mas com certeza tinha S em algum lugar do nome dela. Ela nunca me deixava em paz, era uma daquelas em que dorme um dia com a gente e já fica fazendo planos para uma vida inteira. Não era má, só não percebia o tipo de homem com quem ela dormia, no caso EU. 

    E agora aqui estou eu, quase gastando o meu réu primário com essa metidinha a policial, essa toupeira estava parada em frente ao meu carro pedindo pra eu atropelar ela, agora pensando bem com o humor que eu tenho é realmente incrível que eu ainda seja réu primário.

— VAI PASSA POR CIMA DETETIVE MICHAEL!!— 

Ela bateu forte no capô do carro me dando dor de cabeça, fechei os olhos tentando me acalmar mas sua voz estridente e debochada estava começando a me dar nos nervos.

Vamos ver se a gatinha é tão corajosa assim, liguei o carro, não engatei a marcha, é claro, mas acelerei, acelerei e imaginei eu passando com as rodas da minha blazer naquela cabecinha oca

—ANDA SEU ESTÚPIDO VAMOS VER SE PASSA MESMO.

Ela deu um passo em direção ao carro, e aumentou o tom de voz que eu achei que não pudesse ficar pior, algumas pessoas começaram a olhar me fazendo bufar

—Ta ok, princesa , entra no carro.

—Não me chama de princesa, não sou suas vagaba!

Ela entrou no carro e bateu a porta com força, sim, ela fez isso com a minha Ana. Pra começo de conversa Ana era o meu carro. Todo o ódio que podia me dominou e agora eu já estava tentando pensar porque o Giulio deixou ela viva. Saí com o carro devagar tentando voltar ao meu estado normal.

—Hmm, que bom que você me deixou entrar, senão eu não ia sair da frente do seu carro.

—Eu percebi.

—Vamos pra onde?

—Você vai ver.

Liguei o rádio por uns instantes esperando que ela entendesse que eu não queria conversa. Estava tocando uma música qualquer, eu só queria que ela calasse a boca. Mas não, é claro que a Senhorita Mendez ia continuar falando.

— Mas você vai me ajudar com os papéis? E  a decorar toda a história do Giulio?

— Vou, você não me deixou opção, deixou?

—Então eu acho que pra gente trabalhar junto a gente devia...

Todo esse falatório me irritava, era por isso que não trabalhava com outras pessoas, eu sou melhor sozinho, sempre fui. Tive parceiros ao longo da carreira e as coisas não correram bem, então eu não sou bom com pessoas. Eu logo tratei de interrompê-la, senão ela já ia engatar mais uns 40 minutos falando.

— Hey... Mendez, eu sei porque o Giulio não te matou.

—Eu também, você falou que eu sou parecida com a Taia né, a noiva sei lá o que dele 

—Não, é porque você é tão irritante que nem ele aguentou ficar perto de você.

Ela me olhou, fechou a cara e cruzou os braços e finalmente calou a boca, GRAÇAS A DEUS! Apesar disso ela era atrevida, meteu a mão no meu rádio e começou a mudar de estação, olhei pra ela com meu olhar mais furioso mas ela não parecia se importar, trocou a estação até que achou uma música. Nirvana - The man who sold the world. É o que dizem as pessoas não são 100 por cento ruins, tem que ter seu lado bom, e pelo menos a Mendez tinha bom gosto musical.

—Me avisa quando chegar.

  Ela fechou os olhos e se deitou no banco ao som da música, e acho que cochilou, ainda dormiu rápido, pelo menos não ia me infernizar. 

 O local que eu estava a levando ia demorar um pouco. Estávamos em uma força-tarefa contra o Giulio Morello, qualquer cuidado era pouco, e eu já tinha o lugar perfeito para discutirmos o caso, apenas por enquanto, porque eu não ia ficar fazendo parte dessa força-tarefa falida.

  A olhei de relance e realmente como ela lembrava a Taia, não no jeito, mas fisicamente, o cabelo da Taia era  bem maior mas tinha a mesma textura e cor, assim como os olhos, os olhos eram da mesma cor, aqueles grandes olhos verdes, só que os olhos de Taia já estavam sem vida, sem esperança quando a conheci. 

   Respirei fundo e apertei o volante me lembrando o que aconteceu com ela, e como não pude impedir. O Morello destruiu a vida dela aos poucos, ela nunca teve uma chance e por causa disso eu jurei que iria pega-lo.

Depois de algum tempo dirigindo, encostei o carro em uma estrada de chão, e falei alto a acordando sem dó.

—Chegamos.

Saí e bati a porta do carro, Mendez pulou de susto dentro do carro, mereceu, ela não fica atenta, tinha que ser novata. Depois de alguns minutos ela saiu do carro e veio atrás de mim, correndo como sempre.

—Onde estamos?

—Se eu contar vou ter que te matar.

Ela bufou, parecia sem paciência, o que me fez querer rir, tinha um tempo já que eu não dava um sorriso, mas ainda não foi o suficiente para quebrar esse ciclo.

—Custa falar?

—Estamos em uma fazenda no interior da cidade, é mais seguro aqui.

  Passamos por uma enorme cancela, e fomos andando até a casa principal, o caminho era de terra, levava alguns minutos para chegarmos lá.
  Como sempre fiquei em silêncio, diminui um pouco meus passos para que a Policial Mendez pudesse me acompanhar e não ficasse correndo com aquelas pernas curtas e rápidas dela, enquanto isso, ela pareceu ficar feliz por não ter que correr.

Eu passei a admirar o caminho, havia algumas árvores e vários pássaros cantando, passei uma boa infância aqui, mas já tinha um bom tempo que não vinha, a casa não fica largada, ela está em um bom estado, o vizinho cuida pra mim, Seu Antônio, o único que eu confio.
  Eu não sou rico, na verdade esse é o único lugar meu realmente, bem afastado de tudo, mas com o meu trabalho não posso ficar aqui, mas um dia quando me aposentar é aqui que eu vou ficar, longe de pessoas.
   Finalmente depois de alguns minutos andando, chegamos até a casa.
Por dentro ela estava um pouco com a pintura gasta, e precisava de alguns reparos, mas era exatamente de como me lembrava, o que me fez ficar nostálgico, passei bons anos da minha vida aqui. Entrei e logo senti o cheiro característico de pinheiros, havia uma grande plantação na fazenda do lado e o cheiro tomava conta de toda a casa, enquanto eu tentava entrar em sintonia e ficar um pouco em paz ouvi um barulho de algo caindo no chão, quando olhei pra trás Mendez estava tentando pegar um porta retrato do chão, aquilo foi o suficiente pra novamente minha paciência sumir, essa mulher não sabia ficar quieta no lugar

— Me desculpa

Ela deu um sorriso amarelo, e colocou o porta retrato no lugar. Eu odiava aquela foto e tudo que ela me fazia lembrar, e eu sabia que logo viriam mais perguntas Mendez era curiosa.

—Tudo bem Mendez, só... Mantenha essas mãos nervosas dentro dos bolsos de repente você para de quebrar coisas

Pude perceber que se ela ia fazer uma pergunta ela desistiu logo em seguida, ponto pra mim, eu não estava disposto a responder aos curiosos.

Até por que eu e Mendez não precisávamos criar vínculos, logo, logo eu não trabalharia com ela, era só uma questão de tempo.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora