As férias de verão haviam começado, com isso meus pesadelos também. Tinha que presenciar logo de manhã minha mãe se drogando com o pó que inalava em cima da mesa da cozinha, depois tinha que ir para o trabalho na loja de discos, que por sinal eu mal tinha um descanso, parece que as pessoas preferem ouvir mais músicas no verão.
E durante a noite eu tinha que fazer horas extras no meu “emprego” noturno. E sobre, Chaeyoung? Bem, depois daquele dia não nos falamos mais, eu até poderia a mandar um torpedo, mas me contentei em saber que o seu pai ainda não a mandou para o convento.
— Você é bem novinha — Diz um homem, com o charuto na boca enquanto toma um whisky e aparenta ter uns trinta anos pelos seus músculos sobressaltados pelo terno azul-marinho e uma pele recém-jovem. — Não vai me responder? Tudo bem, podemos ficar em silêncio.
E ficamos ao silêncio. No entanto, eu olhava ao redor e me perguntava o que me fez parar aqui? Me sinto como uma pessoa drogada, vazia, imunda por dentro que para se sentir viva ou útil, deixa caras de meia-idade a molestar.
— Tô no último ano da escola
— Tá aqui por hobby ou profissão? — Ele ri, e apaga o charuto em cima do balcão, fazendo algumas cinzas caírem no chão.
Eu o observo como se comporta, e ele não precisava está aqui, poderia está em um lugar descente com uma mulher do seu nível, tomando um daqueles vinhos caros e comendo aquelas comidas que mal devem encher o estômago.
Isso só demonstra que ele é mais vazio do que eu.
— Necessidade — Tranco o maxilar e ele fecha a expressão como se tivesse me ofendido com o comentário anterior. — E você? Por que tá aqui?
— Porque aqui é o único lugar da cidade que posso ser eu mesmo — Que ironia alguém falar isso, justamente quando alguém está em um lugar no qual os homens pagam para se esfregar nas meninas.
Me atrevo a beber o resto do seu whisky e levanto do banco, segurando em seu ombro e olhando em seus olhos.
— Acredite, existem lugares melhores pra você ser você mesmo — Dito isso, saio em direção ao beco vazio do estabelecimento, porém, já tem uma figura naquele local escuro, parada bem em frente a mim e com um cheiro reconhecível.
— Por favor, podemos conversar? — Pergunta, com os lábios em linha reta e o queixo abaixado.
É engraçado, que mesmo depois de algumas semanas, eu ainda sinto todas as sensações que Chaeyoung tem sobre mim. O amor é ela, que parecia o molde perfeito para se encaixar em mim.
Eu me perdi para ela, e ela me levou, mas tanto na palavra especial até eu acreditar que só tinha olhos para me vê, mãos para me sentir, corpo só para estar ao meu lado. Contudo, isso esvaziou de uma hora para outra.
— Podemos — Respondo, e me encosto na parede buscando uma sustentação.
— Quero que você esqueça tudo, todos os erros que cometemos juntas. Eu tava apenas entediada quando isso aconteceu, não podemos ser o que você quer que sejamos — Agora você estava agindo como um daqueles homens lá dentro, Chaeyoung. E não tinha como eu não querer socar sua cara.
Por que fui me apaixonar por você? Se eu soubesse que eramos autodestrutivas, eu manteria meu coração longe.
— Você tá mentindo, tá mentindo, tá mentindo. Chaeyoungie, pare de mentir — Me debato contra ela, porém Park me contém colocando o braço entre meu pescoço e a parede. Pressionando nós duas ali.
Está estampado em seu rosto que ela está dizendo coisas que não queria dizer. Só quero que nossa relação volte a ser como antes, que ela me toque como antes…
Tento dizer alguma coisa que a faça ficar, que seja tão comovente que ela mude o que disse, mas, parece que uma rolha de garrafa de vinho está presa na minha garganta, fechando aos poucos a respiração da minha traqueia.
De repente, eu pareço um cadáver, fria, olhos vazios, lábios amargos, mãos sem forças e paradas. Parecia até que eu havia sido esfaqueada e minha assassina estava bem na minha frente, Chaeyoung, que surpreendentemente me abraçou, fazendo-me desacelerar.
Os sons ficam mudos, e a lua torna-se a única evidência daquele abraço que mais parece uma despedida. E o que prevalece, é a sensação da mão de Chaeyoung envolta da minha cintura e a curva do seu pescoço acomodando minha cabeça.
E apesar de durar só alguns segundos, o seu abraço eterniza até quando nos separamos e eu deixo a mão ainda repousando nas suas costas, desejando que me abrace novamente, mas Chaeyoung faz melhor, puxa minha cintura e uni nosso lábios, cujo gosto de cereja ainda derretia em minha boca e trazia sentimentos nostálgicos.
Sua mão na cintura, sobe até minha nuca querendo aprofundar o beijo, evidenciando em que aquelas palavras que dissera, não comprovava com o que sentia. Porém, logo após em que busco por sentir mais de seus lábios, Chaeyoung, segura meus ombros e me olha assustada.
— N-não, não podemos — Diz, desesperada, enquanto a impeço de fugir segurando na barra da sua camisa, mas o tecido escapa da minha mão e mesmo correndo atrás de Park ela consegue fugir e eu paro na calçada, usando os joelhos como apoio, buscando por fôlego e segurando as lágrimas.
— Tá vendo? É ela ali, é com isso que ela trabalha, sendo puta — Minhas pernas fraquejam quando escuto aquela voz, e fraquejam mais ainda quando levanto a cabeça, no entanto, me arrependo, pois vejo minha mãe com os olhos estreitos e agitando levemente a cabeça.
— Mãe não é o que… — Não tenho tempo para explicações, porque minha mãe bate em meu rosto e eu tenho a certeza que essa reação foi gerada pela droga, que ainda está em seu corpo. É o que mais me deu ódio, foi vê o sorriso perverso/ satisfeito do meu padrasto.
— Não me chame mais de mãe, a partir de hoje você não tem mais uma — Se você quer saber, eu nunca tive.
Presenciei a cena do meu padrasto consola-lá e erguer os lábios para mim em outro sorriso, dessa vez vitorioso.
Eu havia perdido tudo em uma única noite.
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Sabor De Cereja - Chaennie
FanfictionJennie e Rosé são "Heterossexuais" declaradas, porém o rumo da amizade das duas começa a mudar quando uma pergunta impertinente rodeia a cabeça de Kim. Seria uma simples demonstração, mas Jennie acabou precisando da ajuda de sua amiga para outros af...