Não é um prazer

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Nesse belíssimo ano eu tinha acabado de ser emancipada então simplesmente estava me virando, às vezes dormia em hotéis e às vezes dormia na casa de alguma amiga de uma amiga.
Não fui emancipada para ter uma vida própria, infelizmente foi mais um livramento para os meus pais. Eu sempre trabalhei com música e o meu trabalho era nas ruas, eu passava quase o dia inteiro tocando e cantando esperando alguns trocados.
Eu estava nessa tinha cerca de quatro meses e não foi uma adaptação nada fácil, check-in toda dia em um lugar diferente era chato e cansativo.
Voltando para onde eu estava hospedada esse dia, eu comecei a ter calafrios já na entrada. Disfarcei dando um "boa noite" animado para todos aqueles presentes na recepção e caminhei até os elevadores, conforme eu subia os andares eu me sentia fraca e com os olhos pesados. Ouvi algo, um homem estava comigo no elevador. Deduzi suas palavras e formei um:
"Você está bem?"

— Estou bem, obrigada. – Saiu como um sussurro, logo mais elevador abriu e eu não sabia nem se aquele era o meu andar apenas joguei o corpo para frente e sai dali caminhando me segurando nas paredes, eu andava e aquilo não tinha fim.

Depois disso eu só me lembro da dor dos meus esquipamentos caindo nas minha costas, acordei num quarto gelado e as primeiras coisas que eu identifiquei foram: O ar estava ligado no mínimo e eu estava com um fino lençol no corpo.
Abri os olhos e calmamente vi garotos. No PLURAL.

– MEU DEUS. – Gritei como instinto de sobrevivência, todos ali se assustaram e se aproximaram mais ainda.

– Olha, nós não damos autógrafos no hotel. – Ignorei tudo o que foi dito, peguei os travesseiros que estavam atrás de mim e joguei na cara do primeiro que estava se aproximando.

– Você acha que eu quero a merda de um autógrafo? EU ACORDEI NUM QUARTO CHEIO DE HOMEM. – Eu não controlava meu tom de voz, não era de medo e sim de raiva. Autógrafo? eu acordo num quarto parecendo a porra de um frigorífico com homens desconhecidos e eles vem dizer que não dão autógrafos? seria uma boa ele dizer: Não te sequestramos.
Eles se assustaram com o meu tom e eu não esperava menos, um garoto de cabelo espetado mesmo receoso se aproximou de mim com um sorriso gentil que exalava felicidade genuína.

— Eu sou o Bill, o meu amigo ali. – Ele apontou para o rapaz mais afastado.– O Georg, te viu passar mal e acabou te rondando para ver se você estava bem, você desmaiou e ele te trouxe aqui. – Apesar de ser uma boa ação, é meio estranho você enfiar uma desconhecida no seu quarto.

– Muito bem, Billy. Se foi só isso eu vou indo embora, obrigada. – Tentei levantar enquanto dizia tais coisas mas ao tentar levantar, o coqueiro preto me deitou num empurrãozinho com o dedo indicador.

– Desculpa, não vou te deixar sair enquanto não tiver a certeza de que está bem. – Ele estava tão próximo que me senti invadida mas não de uma forma ruim, era provocativo. Recebi uma bela encarada e logo ele se afastou e apontou para os meus equipamentos e minha bolsa, mostrando que "podia confiar neles". Uau, não eram uma quadrilha maluca. Fiquei quieta e apenas observei todo o local, todos presentes ali estavam me encarando como um alienígena.
Eu não era a única com instrumentos aparentemente e já que o quarto era gigantesco ele estava uma completa zona. Homens são todos cachorros bagunceiros mesmo?

– Não tenho paciência pra lidar com gente que eu nem conheço, ela pode ser uma maluca e vocês enfiaram ela aqui. – Um outro garoto soltou a voz e se dirigiu até a porta de saída.

– Me enfiam no quarto e eu sou a maluca? – Retruquei, ele paralisou na porta.

– Infelizmente a escolha não foi minha de te por aqui.– Assim que terminou ele saiu, eu estava em choque com tudo isso. Primeiro eu passo mal, depois me colocam num quarto e ainda por cima com um mal educado metido a besta? eu quis pegar a minha guitarra e quebrar nas costas curvadas daquele esquisito.

– Não liga, ele é temperamental. Eu sou o Gustav. – Finalmente eu sabia o nome de todos.

– Não vou mentir, não é um prazer conhecer nenhum de vocês. – Disse dando uma risada nasal, eles acompanharam.

– Você sabe o motivo de você estar tão fraca? – Bill me perguntou enquanto se encarava no espelho e ajeitava aquela juba enorme com um spray para cabelos.

– Eu não sei. - Menti.

– Você comeu? – Georg acrescentou a pergunta do Bill.

– Sim. – Menti novamente.

– Seus lábios estão brancos como uma folha, você não comeu. – Deduziu Bill, acertando em cheio.

– Idai? é engraçado ver alguém que conheço tem cinco minutos estar tão preocupado comigo.

– Você vai comer. Em troca da sua ajuda eu vou te pedir um favor, você não tem a opção de recusar. – Bill respondeu sério enquanto se virava para me encarar novamente, seu olhar ferveu pelo meu corpo.

– Não. Eu não te conheço. – Aproveitei que ele se mantinha longe e levantei correndo até a porta, os G's estavam em outro mundo então não conseguiram me pegar. Me senti uma fugitiva.

Eu não sabia o que fazer, eu não sabia se pegava meus instrumentos e ficava com aqueles estranhos me encarando comer ou ia até o meu quarto e me salvava de um possível tráfico humano.

Me joguei na cama dura do hotel e suspirei após fazer a escolha mais inteligente que eu tinha, assim que meu corpo encostou no colchão ficou nítida a diferença. Eu estava no quarto mais pobretão com um colchão de pedregulho enquanto eles possivelmente dormiam em ovelhas felpudas e bebiam a coca que estava no frigobar.
Estava agradecida pela ajuda mas ainda sim estava perdida, era uma situação tão irreal que aquilo tudo parecia uma alucinação do Zolpidem, será que logo mais eu iria acordar?

Why are you being so complicated ? | Tom Kautilz.Onde histórias criam vida. Descubra agora