Fama

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A água que caía no meu corpo era gelada, sentia o meu corpo inteiro tremer. Meus pensamentos faziam eu esquecer aquela tortura de temperatura.

– Será que eu devo pedir desculpas e agradecer? – Pensei alto enquanto esfregava as mãos pelo meu corpo. – Que nada, eu não errei em nada.
– Me corrigi, aquele diálogo sozinha me fazia parecer maluca. Meus pensamentos foram lançados para longe quando escutei o interfone ao lado da cama tocar, desliguei o chuveiro correndo e corri até lá para atender.

– Alô? ah, serviço de quarto? pode subir sim. – Respondi desanimada, pensava que era alguma proposta para tocar no saguão. Vai que? eu não posso deixar de sonhar.

Aproveitei que tinha saído e me sequei um pouco, penteei os cabelos e dei uma leve balançada me encarando no espelho. A toalha estava presa ao meu corpo por um simples nó. "Meu deus" pensei comigo quando vi o chão completamente molhado. Toc, toc. A camareira?

Abri a porta e vi uma figura inesperada para o momento.

– Você costuma correr das pessoas assim? – O rapaz grosseiro de antes me perguntou enquanto simplesmente invadia o meu quarto com meus esquipamentos nas costas.

– Não, e você? costuma ser um babaca assim sempre? – Respondi com um olhar mortal, ver a cara dele me irritava. Ele me passou uma péssima impressão e agora vou levar ela para o meu túmulo, mal educado e mimado.

Ele ignorou a minha pergunta, respondeu apenas com um pequeno riso e uma encarada.
Quando o garoto dos dreads parou de rir ele andou até a porta, eu parei bem a sua frente e cruzei os braços.

– Quem você pensa que é? – Perguntei.

– Quer se vestir comigo aqui ou vai me deixar sair? dependendo da resposta eu te digo meu nome. – Filho da puta, eu nem lembrava que estava de toalha e cabelo molhado. Mas que mané. Ele acha mesmo que eu sou uma oferecida? Empurrei-o para fora e fechei a porta com força, fazendo um enorme estrondo.

Fui ver se meus equipamentos estavam inteiros e por cima tinha um bilhete que dizia:
"Em troca, me liga. ***********
- Bill."

Li aquilo dando uma risada boba, era fofo o esforço dele em tentar me agradar. Apesar de ainda desconfiar deles eu queria agradecer o favor e como dinheiro era um grande problema me sobravam apenas sinceras palavras.

– Oi, aqui é o Bill! deixe o seu recado. – A voz animada me lembrou do seu sorriso, fiquei perdida.

– Oi Bill, é a... bom eu sou a Morgan, obrigada pela ajuda mais cedo e desculpa por ter saído correndo. – Disse sem graça e num tom baixo, nem o meu nome eu tinha dito. Caramba que furada.

Estava tarde e eu ainda não tinha comido, apesar de eu ter passado mal justamente pelo tempo em que eu estava de boca fechada eu não conseguia mastigar nem mesmo uma maçã. Tirei a toalha e deitei completamente nua na cama, meu corpo inteiro parecia que a qualquer momento iria quebrar. Dormi, ronquei alto e ainda babei.
O que me atrapalhou foi o despertador dizendo: Hora de trabalhar pobretona.

Coloquei uma saia jeans de lavagem escura e cintura baixa junto de uma blusa de manga longa preta, ajeitei meu penteado no espelho e passei um lápis preto ao redor dos olhos. Voilà! Pronta para mais um show de rua. Complicated seria a minha primeira música aquele dia, preparei tudo e comecei o meu espetáculo, era uma sensação maravilhosa ver as pessoas admiradas com algo que você faz de coração, você se sente no dever de dar o seu melhor.
You're trying to be cool, you look like a fool to me. – Eu segurava o microfone com as duas mãos enquanto deixava o som dos instrumentos tocando de fundo, assim que abri meus olhos, o garoto dos dreads encarava o fundo da minha alma. Era uma perseguição? que hotel doido.
Why do you have to go and make things so complicated? – Eu o encarava enquanto cantava, seu olhar me deixava nervosa. Fechei os olhos buscando concentração mas quando os abri novamente ele não estava mais lá, aquilo me chateou de certa forma. Eu o queria por lá. O busquei com o olhar enquanto me preparava para a próxima música.

– Perdeu alguma coisa? – A voz de Bill sussurrou próximo ao meu ouvido, me arrepiei e dei um pulo com sua chegada repentina.

– A vontade de ficar te olhando. – Brinquei dando risada mas me lembrei que, ele não era brasileiro e não entenderia a referência. Ele ficou confuso e talvez um pouco chateado. – É uma piada do meu país, desculpa.

– Não tem problema, você canta muito bem. – Bill se encostou num hidrante próximo e me encarou novamente. – Eu te trouxe comida.
– Ele me mostrou uma cesta com algumas coisas típicas de café da manhã, croissant, frutas e um suco natural. Estendeu a mão mas eu não peguei.

– Sou alérgica. – Menti, parecia que eu mentia compulsivamente para ele.

– Você mente mal.– Ele respondeu pela primeira vez de maneira seca, parecia estar mesmo super preocupado.– E eu ouvi sua mensagem ontem, não se preocupa. Se eu fosse você eu também teria corrido. – Bill deu risada e isso me fez rir consequentemente.

– Quem era aquele mal educado que invadiu o meu quarto? – Perguntei curiosa enquanto afinava minha guitarra. Ele suspirou e fez uma cara de espanto.

– Invadiu seu quarto? O Tom invadiu seu quarto? – Bill perguntou. Fiz que sim e ele caiu na gargalhada.

– Ele é o meu gêmeo, eu ia te entregar os equipamentos mas quando acordei eles tinham sumido e Tom fingiu que jogou fora.

– Qual o problema do seu irmão? – Perguntei ouvindo atentamente ao que ele dizia, eu nunca o vi na vida e ele me tratava com arrogância.

– Desconhecidos.

– Desconhecidos?

– É. Acho que a gente devia se conhecer mais, quer sair comigo mais tarde? – Questionou Bill, se aproximando mais ainda de mim e beijando suavemente a minha testa, as pessoas encaravam ele e cochichavam com olhares maldosos.

– Claro. – Aceitei. Ele era gentil comigo e eu não ia negar uma festa

– Aparece no meu quarto mais tarde. – Bill me deixou sozinha ali após aquela despedida, será que ele estaria sozinho? meu deus, que porra eu to fazendo?

Why are you being so complicated ? | Tom Kautilz.Onde histórias criam vida. Descubra agora