1997.
– Se arruma logo, Morgana.
– Eu estou indo, papai! – Corri até a mamãe e a abracei bem forte, ela parecia triste.
– Mamãe?
– Sim? – Ela se ajoelhou e eu pude ver seu rosto completamente machucado, seus olhos marejados doíam meu coração. Eu podia ser nova mas eu sabia que o que o papai fazia não era certo.
– Morgana, coloque as malas no carro, agora. – Papai ordenou enquanto eu abraçava a mamãe, não queria deixar ela sozinha com ele, ignorei seu pedido e continuei no abraço.
– Morgana. – Senti alguém puxar meu rabo de cavalo com força e me tirar do chão. – O que foi que o papai disse?
– Para, amor. Por favor, ela é só uma criança... – Mamãe implorou e eu ouvi um grande estalo, ele havia dado um forte tapa em seu rosto novamente.
– Fodase que ela é uma criança, é justamente por isso, ela precisa aprender a me respeitar. Assim como você.
– Eu vou agora, me desculpa papai. – Ele me soltou e eu corri para o lado de fora. Eu odiava viver daquele jeito, eu odiava o meu pai e odiava a mamãe por aceitar aquilo, aquilo não era amor.
Peguei todas as malas e coloquei no porta malas, eu sabia que não podia voltar para dentro então entrei no carro e comecei a brincar que eu estava dirigindo.– E a mais nova vencedora é: Morgana Louren't. – Imitei uma voz masculina e grave, levantei os braços comemorando a minha vitória, puxei o freio de mão e o senti travar. Será que eu quebrei? eu não queria apanhar de novo então eu simplesmente voltei para o banco de trás e fingi estar dormindo, estava cedo então faria sentido o meu sono.
A porta abriu e papai entrou furioso.– Vocês duas algum dia vão se foder muito e não vai ser na minha mão, duas piranhas. Tal mãe tal filha. – Mamãe respirava ofegante e tentava por o cinto, estava apenas com um olho aberto então eu não conseguia ver direito o que estava acontecendo. O carro deu partida e finalmente estávamos indo até a casa da vovó, as ruas do Brasil já não eram muito boas e como não tínhamos boas condições, o carro balançava toda hora com os enormes buracos que tinham pela estrada.
– Papai?
– Diz.
– Em quanto tempo vamos chegar?
– Umas cinco horas. Dorme e cala essa boca. Não suporto a sua voz.
– Tudo bem, desculpa. – Odiava ser tratada daquele jeito, seriam cinco horas de tal forma. Não me lembro de muita coisa depois daquilo, eu me esforcei para dormir e evitar qualquer tipo de briga, só lembro de acordar com um grito do meu pai.
– MORGANA. – Ouvi ele gritar o meu nome e quando abri os olhos tinha um enorme caminhão cobrindo todo o nosso carro, ele virou o carro para o lado em que minha mãe estava e.
Fim.– Querida? consegue abrir os olhos? – Ouvi uma voz doce e feminina me chamando, uma luz estava sendo colocada nos meus olhos.
– Ahm?
– Qual o seu nome? – A voz perguntou.
– Morgan.
– Morgan. Qual a sua cor favorita?
– É rosa. – Respondi mas logo gemi alto por conta da dor, meu abdômen estava dolorido e meus braços completamente sem movimento.
– Rosa? que legal, a minha é azul.
– O que aconteceu?
– Você pode esperar até chegarmos no seu quarto?
– Meu quarto?
– Estamos indo para o hospital. – Quando a voz me respondeu eu abri os olhos em desespero, debatendo meu corpo e empurrando todos ao meu redor, toda aquela luz me cegou e os apitos começaram.
– Ela está em choque, aplica duas miligramas do sonífero.
– Não, não! Eu quero a minha mãe. – Gritei e tentei me soltar de todas aquelas pessoas de branco que me seguravam. – MÃE, MAMÃE POR FAVOR.
– Calma, Morgan. – Meu corpo foi ficando leve e meus olhos se fecharam conforme os segundos passavam. Acordei numa cama confortável com novamente, aquela suave voz me chamando.
– Oi Morgan. Como se sente?
– Sequestrada. – Respondi.
– Você está no hospital. Eu vou chamar uma amiga minha pra conversar com você, tudo bem?
– Não precisa me tratar igual uma retardada, senhora. Eu entendo bem as coisas.
– Ah, desculpa. Bom, você e seus pais sofreram um acidente de carro.
– Eu estou bem?
– Está sim, pequena.
– E meus pais?
– Seu pai está ótimo, tem apenas algumas fraturas.
– E minha mãe? – Silêncio.
– Ela não estava viva quando chegamos no local. – Não conseguia nem chorar, eu estava com raiva. Deus me tirou a pessoa que eu mais amava e deixou esse mostro vivo comigo? se com a presença da mamãe eu já sofria, imagine sem ela.
– Morgan?
– Oi?
– Sinto muito.
– Tudo bem. – Assim que a respondi escutei uma voz alta. "MORGANA".
Era o meu pai, ele gritava do quarto dele.
Me encolhi na cama e dei às costas para a enfermeira ali comigo, ela percebeu o meu medo então acariciou meus fios.– Vocês vão ser afastados.
– Oi?
– Você e seu pai, ele vai fazer terapia e depois vai ter sua guarda novamente.
– Não vai funcionar.
– Oras, não seja tão pessimista.
– Você é otimista porque não conviveu com ele. – Aqueles foram os melhores dias da minha vida, apesar dos ferimentos e de tudo que envolvesse o hospital. Não ter meu pai por perto era a melhor coisa que estava me acontecendo. Durante todas as madrugadas do hospital eu chorava e perguntava para quaisquer forças o motivo de terem tirado minha mãe de mim. Por que?
Minha felicidade durou alguns meses, já que aquele que se dizia meu pai voltou. Ele bateu na porta do meu quarto e entrou junto de Roseane, a enfermeira da voz doce.– Oi, meu amor.
– Oi.
– Me desculpa, por tudo. Será que podemos conversar?– Ele se aproximava cada vez mais da cama em que eu estava.
– Eu tenho opção?
– Olha, eu sei que tenho sido um péssimo pai mas eu prometo eu estou melhorando. Nunca mais vou fazer nada, eu prometo. De dedinho.
– Vou deixar vocês a sós. – Rose, saiu do quarto.
– Não precisa fingir, papai. – O homem se aproximou mais ainda e segurou meu queixo com força.
– Isso tudo é culpa sua, o freio não ter funcionado e agora essa merda de terapia. Sua imunda. – Ele não estava gritando mas estava forçando e me machucando com aquela mão enorme.
– Sua vida vai ser miserável, Morgana.
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Why are you being so complicated ? | Tom Kautilz.
Roman d'amourMorgan é uma garota com diversos problemas para carregar sozinha, tudo melhora (ou piora) quando ela acaba se envolvendo com um combo de garotos que invadem a sua vida de forma repentina.