Sentei na cama, li a carta três vezes, eu não podia acreditar no que estava acontecendo, a Gleisi não podia estar fazendo isso comigo, ela não podia fazer isso conosco.
Peguei meu celular, liguei pra ela, tentei uma, duas, três, quatro vezes e só dava desligado. Não pensei duas vezes, peguei meu carro e fui desesperado em meio a lágrimas rumo ao aeroporto, não sei como cheguei vivo, sem cinto, avancei diversos sinais, com certeza chegariam inúmeras multas, mas eu precisava chegar a tempo, ela tinha que estar lá, eu precisava vê-la.
Estacionei meu carro às pressas no estacionamento do aeroporto e desci do carro desesperado, corri até o portão de embarque que levavam pra Brasília, sem algum dela, me aproximei da moça que ficava no portão e perguntei se o voo pra Brasília já tinha saído e veio a resposta que eu não queria...
Moça: senhor, saiu a aproximadamente 40 minutos.
40 minutos que a Gleisi havia me deixado, 40 minutos que ela tinha decidido me deixar aqui, 40 minutos que ela tinha tomado a decisão por nós dois.
Voltei pra casa, fui até nossa adega e bebi tudo que eu consegui, bebi muito, secava garrafas na boca, não satisfeito quebrei todo o restante, quebrei tudo, eu estava com raiva, ela não podia ter feito isso comigo, ela não podia ter feito isso conosco. Ela estava sofrendo mas eu também estava, ela me deixou.
"Only love can hurt like this
Must have been a deadly kiss
Only love can hurt like thisSay I wouldn't care if you walked away
But everytime you're there, I'm begging you to stay
When you come close, I just trembleAnd everytime, everytime you go
It's like a knife that cuts right through my soul
Only love, only love can hurt like this"Acordei na sala de casa com o barulho estridente da campainha, achei que tudo não tivesse passado de um pesadelo quando olhei pra sala de casa, vidros espalhados, almofadas no chão jogadas e só então eu soube que era verdade. Sai do meu devaneio quando a campainha tocou mais uma vez, levantei com um pouco de dificuldade afinal o álcool ainda se fazia presente no meu corpo e por um momento eu achei que fosse ela, que ela tivesse voltado, que conversaríamos, que ficaríamos bem, para minha decepção era a Janja.
Janja: ela me ligou.
Lind: ela não podia ter feito isso.
Janja: eu não concordo com a maneira que ela fez isso, mas eu entendo o lado dela também assim como entendo o seu. (Falou vindo até o sofá perto de mim e analisando o estado da minha sala, e o meu próprio)
Janja: você bebeu?
Lind: é o que parece.
Janja: chega, vai tomar banho, nós precisamos sair.
Fiquei confuso, pra onde iríamos? Não tinha nada do partido, não tínhamos combinado de ir pra vigília hoje o que poderia ser? Lembrei da carta... "vou pedir que ela me ajude a cuidar de você..."
Lind: você não precisa fazer isso, é irresponsabilidade dela colocar sobre você o peso de ter que ser ombro e cuidar de algo que ela fez questão de terminar de destruir.
Janja: não vou fazer isso por ela, farei por você. Quando você juntamente com ela me escolheu para ser madrinha do bebê de vocês criamos um laço, quando Luís e eu escolhemos vocês como padrinhos foi na certeza que para sempre seremos uma família e eu faço isso pela família. Eu quero fazer isso por você.
Abracei Janja e disse que iria tomar um banho, subi as escadas, minha cabeça tava doendo muito, tomei um banho, chorei muito durante o banho, demorei muito também, sentia que eu precisava lavar minha alma, sai do banho fui ao closet me vesti, passei perfume, cheguei na cama e a carta ainda estava ali. Peguei com cuidado, dobrei, peguei o porta retrato o beijei e levei até o closet, procurei na parte superior uma caixa, naquela caixa havia o resultado do exame de sangue que confirmava que Gleisi estava grávida junto com uma caixinha de veludo, dentro dela havia um anel, eu estava esperando ela contar para a mãe da gravidez para que eu aproveitasse e fizesse o pedido, agora já não tinha mais filho, não tinha mais pedido, não tinha mais ela, não tinha mais nós.
Desci e Janja tinha dado um jeito na bagunça da minha sala, agradeci e entramos em seu carro, estranhei o caminho, ela me levou num parque?
Lind: o que estamos fazendo aqui?
Janja: estamos decidindo a sua vida.
Lind: num parque?
Janja: não, na contemplação e na conversa, vem senta. (Ela senta na grama e apoia uma bolsa ao meu lado, estranhei ela nem tava com bolsa e a bolsa era da minha casa)
Janja: pode comer, foi o que achei na sua geladeira e como eu te acordei vc não tinha tomado café da manhã resolvi trazer essas frutas, sanduíche e suco. (Agradeci e começamos a comer e ela começou)
Janja: ela foi muito forte. É preciso ser muito forte para deixar quem amamos por mais que amemos muito em prol da felicidade da pessoa Lindbergh.
Eu conheço minha amiga, sei que não foi fácil pra ela, e você também sabe disso.Lind: ela te contou da carta?
Janja: contou, e me fez entender que vocês precisam de ajuda mas juntos vocês vão acabar se magoando e muito e você sabe disso não sabe?
Por mais que fosse difícil assumir eu sabia que ela tinha razão, eu não conseguia ficar perto da Gleisi sem chorar ou ficar mal pelo que tinha acontecido, aquilo tava me deixando mal e sabia que ela ficava mal por me ver triste.
Lind: sim (afirmei baixando a cabeça)
Janja: eu marquei um psicólogo pra você amanhã aqui e liguei pra uma ótima que conheço em Brasília pra ela. Vocês tão ficar bem e na hora certa e quando conseguirem vão ter essa conversa.
Lembranças off.
Lind: foi muito difícil passar todos esses meses longe de você. Eu senti sua falta todos os dias, e nos nossos raros encontros nas vigílias eu só queria te abraçar e te levar pra casa.
Gleisi: eu também, senti sua falta mas vi e acompanhei sua melhora, você se livrou da culpa meu lindo. (Ela falou enquanto fazia um carinho em minha mão)
Você é muito corajoso, é preciso ter muita coragem para ser forte e se livrar de uma culpa que não era sua como você fez. Eu estou orgulhosa de você por isso.Eu puxo Gleisi pros meus braços, eu não precisava de mais nada, não precisava de afirmações, eu não precisava de palavras, estávamos bem, estávamos curados, eu precisava dela, do seu beijo, do seu toque.
Estava abraçado ao corpo dela e ela ao meu, fui passando as mãos pelas suas costas, subindo e descendo e vi ela se arrepiar, subi uma de minhas mãos até sua nuca enquanto a outra abraçava firmemente sua cintura, a fiz olhar pra mim, estávamos a menos de 10 centímetros, ela olhava em meus olhos e para a minha boca e eu não esperei mais nenhum minuto, a beijei.
"Um beijo bom se sente, se entende, se molda... É preciso ter falta de inquietude, malícia e principalmente saber a dosagem exata de safadeza sem perder o nosso carro-chefe, o carinho.
Durante o beijo o gostoso é trocar as rédeas, cada um domina um pouco e adverte o outro que a partir de agora provocar é uma máxima que deve ser levada à risca.
Gosto de beijos que dão suspeita de saudade, daqueles brincados, com direito a mão atrás da nuca, cabelo atrás da orelha, duelo de mordidinhas e a minha melhor barba desbravando o seu melhor caminho: boca até ouvido. Engraçado, mas eu sei exatamente o que você gosta de ouvir ao pé do ouvido, mas como recompensa só quero arrepios, daqueles que se traduzem como "não para" no nosso dicionário íntimo. Você melhor do que ninguém sabe do que eu estou falando e no auge dessa saudade lhe digo com todas as palavras que não existe coisa mais gostosa do que isso. Nem Nutella."
Estávamos em sintonia até que fomos interrompidos. Os noivos estavam ali assistindo tudo. Janja é a primeira a reagir, ela corre e abraça Gleisi, Lula me abraça também e ambos dizem o quanto estavam felizes por nós. Olhei para Gleisi, ela me olhou com aquele sorriso que os olhos ficam miudinhos e ali eu sabia, ela era minha de novo. Estávamos curados.
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De novo nós.
FanfictionLindbergh Farias e Gleisi Hoffmann estavam separados porém ainda se amavam mesmo que dissessem o contrário. Era o dia do casamento de Lula e Janja, os dois se reencontrariam, que sentimentos e ações esse casamento traria para a vida do nosso casal?