capítulo 6.

531 56 21
                                    

[Capítulo não revisado!]

[Dica de música para o capítulo: Joe Brooks- All of Your Colours]

"Quando estamos a beira de um precipício, nos achegamos de maneira cuidadosa, ansiamos ver o que há debaixo de nossos pés, por mais que seja perigoso e imprevisível. Precisamos constatar o que há do outro lado. Nossos olhos são os buscadores de nossas ansiedades, verdades, curiosidades, são as janelas em uma casa sem porta. É onde podemos, de maneira sucinta, enxergar o outro lado. Mesmo que não haja saída ou uma rota de fuga, onde não podemos, de maneira alguma, fugir de nós mesmos.

Uma paisagem nunca foi tão reconfortante e vazia aos olhos de Andrea, que encarava o sol em sua frente. Estava tão próximo, mas tão longe. Era quente, aquecedor, mas às vezes queimava a sua pele além do que poderia suportar. Ardia como saudade e secava os lábios da alma como a tristeza. Seus olhos buscavam o precipício, mas havia o medo do desconhecido. O céu azul era idêntico aos olhos de Miranda, até quando a noite tropeçava diante de seus olhos ou quando precisava se abrigar da chuva.

Uma tempestade que caía todas as noites e era tão quente como a forja de um ferreiro, tão salgada como o mar que abraçava o castanho de seus olhos. Os tons azuis eram idênticos aos de sua esposa, que não estava ali, ela simplesmente não estava. Já havia procurado em cada canto, mergulhou no mar a ponto de se afogar, mas não a encontrou. Voltou a costa sozinha, mais uma vez.

Já havia buscado Miranda em cada flor, em cada perfume que sentiu, mas apenas encontrou o vazio. Todas as noites sentava no farol para ouvir uma canção que vinha na direção do mar, o tom era fraco e pouco conseguia ouvir, ali era o único lugar iluminado durante as noites.

— Você sabe que precisa voltar, não sabe?

A jovem reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo, foi o primeiro tom doce que ouviu em seus primeiros segundos de vida. Era a saudade mais bruta que sentia durante todos os anos em que sobreviveu, até encontrar a sua alma gêmea.

— Mamãe?

— Sim, sou eu, minha joaninha! — A mulher disse em um tom doce, sentando ao lado de Andrea.

As duas estavam no topo de uma montanha, adornada com flores, árvores e pássaros. Ao olhar para frente conseguiam encontrar a areia e o mar as abraçando.

— Você ainda se lembra? — A jovem perguntou em um tom quase infantil carregado de incredulidade, era como se pudesse voltar no tempo e alcançar o que lhe foi tirado.

— Eu nunca me esqueceria, minha filha.

— Aqui é tão calmo, tão lindo... — Andrea disse, ao sentir o quebrar das ondas em seus ouvidos.

— Sim, aqui é tudo isso, mas você não está em paz.

Cada tom lembrava algo de alguém que amava, sua esposa, seus avós, seus poucos amigos e as tintas que eram parte significativa de sua vida.

— Como sabe? — A artista tornou a olhar para sua mãe, que agora tinha uma aparência saudável — Isso é um sonho?

— Acho que sim, meu bem. Eu realmente não sei.

— Estou com medo, mãe.

— Sei que sim, mas não tenha, aposto que existem pessoas maravilhosas lhe esperando do outro lado, Andrea. Seria uma tristeza deixá-los.

— Miranda... — A jovem sussurrou ao olhar o céu azul, que lembrava a calmaria de sua esposa.

Fechou os olhos na intenção de lembrar o cheiro que lhe embriagava a alma, mas que a cada dia enfraquecia em sua memória. E isso a deixava desesperada.

por toda minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora