capítulo 14.

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(Não revisado!)

O dia acordou silencioso, um pouco frio e um tanto nublado. O quarto de hóspedes carregava algumas memórias, mas não todas. Ela não conseguia dormir na mesma cama onde existia muito de seu casamento, muito dela.

Miranda suspirou ao notar que dormira fora de seus aposentos mais uma vez, que seu corpo doía e que, provavelmente, estivesse ficando doente. Ignorou o seu primeiro vício ao acordar, que é checar as horas e o que deveria ser feito durante o dia. Não tinha condições físicas e mentais para acompanhar a agenda da revista ou qualquer reunião, não tinha vontade nem coração para ir ao hospital. Ao menos hoje. Depois de tanto tempo e de tanto sacrifício, se deu o direito de estar longe do caos. Precisava respirar e pôr tudo em ordem, mesmo que fosse motivada pelos piores sentimentos.

Com isso, levantou da cama e se direcionou ao próprio quarto depois de tanto tempo sem entrar no espaço. Subiu as escadas para o próximo andar com passos lentos e descansados, tardando o encontro inevitável. A primeira sensação que teve foi o aroma de sua esposa. As memórias vieram como um tornado, mas não a derrubaram. Um sorriso preguiçoso surgiu ao avistar um colar de Andrea, um cordão simples e feito em uma noite de Natal.

— Sinto muito sua falta, meu amor! — Miranda disse ao segurar o objeto e colocá-lo sobre um retrato.

Ela se direcionou ao banheiro e se viu no reflexo do espelho, a falta de brilho e a fragilidade gritando em seus olhos azuis. Seu corpo estava mais magro e os seus cabelos precisavam ser cortados novamente.

— Vamos, Miranda, você pode fazer muito mais do que isso! — Ela disse a si mesma, sussurrando.

Diante disso, se despiu e uma ducha gelada foi o suficiente para relaxar sua tensão corporal. Cada movimento do seu corpo foi feito sem pressa ou ansiedade, seu suspirar estava leve e silencioso. Seus olhos, seu andar, seu espírito estavam sós, melancólicos e, de uma maneira estranha, calmos. Ao finalizar o banho, ela suspirou, abraçou o próprio corpo e decidiu aliviar a tensão na nuca, movimentando a cabeça gentilmente de um lado para o outro. Foi até à bancada e buscou os seus melhores produtos, fazendo uma limpeza facial mais profunda e massageando cada pedaço de pele. Revirou os olhos e deu um sorrisinho ao notar que havia um pequeno frasco de tinta em seus cosméticos.

— Suas tintas nas minhas coisas, não, Andrea. Eu já te disse inúmeras vezes, mas você não aprende, não é?

Ela sorriu enquanto colocava o frasco na bancada, mantendo o produto longe de seus pertences pessoais. Poderia abrir o ateliê e o colocar em um local adequado, mas vê-lo tão perto mantinha Andrea perto de seu imaginário. E ela não se sentia capaz de entrar um cômodo onde a essência da esposa gritava e se expressava por todos os cantos.

Após terminar a limpeza, escovou os dentes e seguiu para o quarto. O dia estava se iniciando e era possível notar a pouca movimentação dos funcionários através da janela. O jardim estava impecável, como Andrea sempre gostou. Era um dos lugares favoritos da jovem, que conseguia arrancar pequenas risadas dos seguranças que pareciam grandes armários diante das portas da mansão.

Os toques suaves na porta anunciavam que Olivia estava ali, sempre à espreita, para cuidar de tudo.

— Entre.

A porta se abriu lentamente, revelando uma senhora doce e cuidadosa, de cabelos ruivos e olhos verdes.

— Bom dia, querida. Como está se sentindo?

— Estou bem, Olivia.

— Tem certeza?

— Sim. Nigel?

por toda minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora