É assim que começa

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Em uma manhã seguinte, já não se sentia tão horrível quanto no fatídico dia da descoberta de um amante. Porém, era inegável que também não havia se curado daquela ferida. Naquela manhã, quando Yoongi abriu a porta do apartamento, Taehyung já estava no elevador. Eles até se viram, mas foi tão inesperado que um deles continuou surpreso na porta e, o outro, com sua imagem interrompida, deixando de ser vista por causa das portas do elevador se fechando. Apesar do desencontro, Taehyung ainda pôde dizer: "diga pro capitão Jimin que eu agradeço por tudo!" E se foi de vez com a sua mochila nas costas.

Não passava por sua cabeça estar vivendo as últimas horas quase como um nômade, indo de um lugar para o outro.

Considerando que saiu às 07:09 do apartamento de Jimin, agora estava novamente desabrigado por aproximadamente 6 horas, no carro, estacionado em frente a escola de seu filho. Dentre essas horas, considerava-se o tempo que foi gasto saindo do carro, esticando as pernas e dando uma voltinha na rua. Embora não ser tão familiarizado com a região devido a recentemente ter se tornado um habitante dela, havia percebido a padaria no fim rua naquela volta que deu fora do carro para esticar as pernas.

Leu um jornal — coisa que honestamente já não se lembrava a última vez que fizeram —, bateu papo com alguns senhores aposentados e bebeu um copo de café preto com biscoitos. Apesar a preferência por chá, o padeiro dissera que café preto curava todos os males. E nisso, cabia a questão de: com qual cara estava Taehyung naquela manhã? De certo, com a perceptível cara de derrota.

Talvez, também tenham escutado um pouco da conversa dele no telefone com a esposa.

Taehyung havia combinado de ver o filho naquela saída da escola. A conversa de em pouquíssimas palavras incluiu também o pedido de que Eun-Ji trouxesse alguns dos cartões que estavam no armário do casal. Jeongguk ficaria com eles, comunicando que encerraria a conta conjunta, porém não iria deixar de arcar com os gastos que os dois tinham da criança deles.

De volta ao carro, ficou sentado batucando com os dedos no volante até o sinal sonoro soar e sair. Poucos minutos depois, em passos quase imperceptíveis, Eun-Ji se aproximou e o cumprimentou.

— Oi.

— Oi — ele respondeu.

— A escola ligou para você?

— Não... Por quê?

— A diretora pediu para que ao menos um responsável do nosso Tonton comparecesse à escola.

— Você nem me disse nada...

— Não fazem nem 10 minutos — argumentou —, eu estava no caminho.

Taehyung bufou. Cruzou os braços e perguntou-a:

— Mas o que houve, Eun-Ji?

— Eu estou tão por fora quanto você, Taehyung.

E Taehyung aceitou a resposta, soterrando de vez qualquer outro assunto que ambos poderiam ter. Se não fosse pelo filho, nem conversa teriam.

As crianças passavam pelos inspetores e cruzavam o portão, correndo para seus pais ou seus transportes. As crianças bem pequenas arrastavam suas mochilas de rodinhas que talvez fossem mais pesadas do que elas. Outras, choravam com catarro verde escorrendo pelo nariz. Os adolescentes saiam grande parte autorizados para irem sem companhia de responsáveis. Seus celulares ficavam na mão e geralmente tinham algum colega por perto. Haviam até aquelas com visuais chamativos. Unhas pontiagudas e cabelos coloridos. Delineador era o que não faltava nos grupos de meninas que passavam pelo casal, até que lá no fundo de um grupo de estudantes, uma garota tentou se enfiar no meio da multidão vestida diferente das demais.

Ultramar [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora