Ir ao chão

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Na boca de Taehyung, ainda morava um pouco do gosto do Jeon — o doce sabor que um romance pode ter. — Ele estava de fato com um calor no coração. Conseguiu espairecer um pouco e, se tivesse oportunidade, teria beijado aquela mesma boca muitas outras vezes. Com sorte, Jeongguk talvez tivesse a mesma linha de raciocínio que a sua.

Na ida, partindo, eles andaram lado a lado após saírem do dormitório. O Jeon lhe perguntou nas encolhas — bem baixinho — se o fato de estarem ficando vinha atrapalhando em algo da rotina. Taehyung virou a cabeça para a direção do rosto de Jeongguk e tranquilamente pôde responder que não. De sobrancelhas juntas, estava convicto, dizendo que vinha tentando separar todas as coisas, apesar de perceber que se envolver com o outro fosse um assunto muito delicado e inimaginável a princípio. Assegurou, nas entrelinhas, que queria continuar. E com a resposta dada, o comandante assentiu, como alguém que entende ou que vê concordância em relação a o que foi escutado. Pareceu suficiente e mútuo. Claro, existiam algumas interrogações sobre como eles estavam entendendo a realidade, mas Jeongguk não queria ter uma conversa sobre isso agora, nem no meio de um pátio enquanto caminhavam rumo ao portão principal.

— Dia intenso... — Jeongguk comentou por alto e se espreguiçou erguendo os braços em direção ao céu. Deu uma alongada, se esticando no caminho, e então, disse: — Já nos despedimos, certo? — ele se certificou. — Não vou lhe dar um abraço porque, enfim, assim é mais adequado... Acho que o fuzileiro tem maturidade para entender o porquê.

— Eu entendo perfeitamente os limites, comandante.

— Que alívio — ele pôde dizer, ainda que com um nível de frieza intrínseca àquele comentário.

Eles estavam chegando na saída da base e não cabiam muitos pensamentos quando era necessário um estado de concentração. Chegando lá, Taehyung bateu continência aos seus superiores presentes na partida, e nem sequer deu um aperto de mão ao Jeon. Se mantiveram distantes, respeitosamente. A única aproximação foi quando Taehyung tirou o boné da cabeça e Liu lhe deu um novo capacete. Jeongguk, prestou-se a pegar o boné de Taehyung enquanto este fazia a troca, para agora usar o capacete. Lançaram olhares confiantes e pareceram se entender, ficando por isso, até que Taehyung caminhasse de cabeça erguida em direção aos demais que estavam lhe esperando.

Jeongguk não esperou Taehyung sumir da vista para virar as costas e ir embora. Estava inegavelmente preocupado — murcho e com aquele leve aperto no coração —, mas tentava reafirmar para si mesmo que isso era algo que não poderia deixar um sentimento sobrepor. Missões acontecem a todo momento. Uns vão, outros não. Alguns voltam e outros ficam apenas na memória, e isso é um evento comum. Em um otimista cenário esboçado pela equipe, era esperado que estivessem de volta em, no máximo, 48 horas. Jeongguk não iria morrer de saudades, por maturidade e entendimento de que todos estavam, sobretudo, trabalhando, mas a grande questão era: ter aquele cuidado especial por alguém era outro indício de alerta sobre a relação em construção.

— Foco... Não vim pra namorar — alertou, sibilando ao seu murcho coração.

[...]

Distante da base, horas depois, acontecia uma nova etapa sendo colocada em ação.

Desta vez, foi preciso de um caminhão para transportar a tropa, não havendo a necessidade de usar um carro complementar. Na espécie de caçamba da caminhonete camuflada, dois apoios para sentarem nas duas laterais. Basicamente, eram bancos as duas chapas de aço, e dos bem desconfortáveis. Os corpos dos fuzileiros se trombavam com frequência, ombros empurrando ombros e as pernas abertas se encostando, mas ainda assim era um meio de transporte bem seguro — só não era confortável.

Taehyung recostou a cabeça no apoio da caminhonete. Sentado em uma das chapas que havia, ele deixou-se fechar os olhos, mas não tardou para que ocasionalmente pudessem precisar de alguma informação sua.

Ultramar [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora