Criança vê tudo

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Enquanto Jimin estava sentado na cama dura e calçava o seu coturno, Jeongguk deu dois toques do lado de fora do dormitório, e no fundo, Taehyung e Jimin já sabiam quem era.

Entrou tomado de com pouco pertencimento sobre aquele dormitório que, bem que não era o seu. De banho tomado, ainda carregava nos ombros despidos a toalha de banho. Seus fios úmidos perdiam o volume ondulado em sua maioria, mas ainda continuava de um charme notável. Mostrou ter receio de se sentar esparramado no chão frio e sujo, então agachou-se sem sujar seu short e começou a procurar algo na mochila.

Taehyung preparava a cama e todos os três permaneceram realizando suas tarefas sem trocar uma só palavra. Por um tempo, foi escutado apenas o som de travesseiros sendo batidos e afogados para sacudir a poeira, o ruído do zíper de mochila para relevar algo à procura e, por último e não menos notável, os ruídos do grosso cadarço deslizando e passando por cada furo do coturno sendo amarrado por Jimin.

— Ouvi dizer que essa noite vai fazer frio — o capitão Kim Taehyung comentou de forma casual com os três, antes de direcionar a seguinte pergunta ao Jeon: — Quer dividir o cobertor ou você dorme sem?

— Tanto faz… — Jeongguk respondeu-lhe, sabendo que a pergunta era para si.

— E a cama, o capitão quer ficar no lado da ponta ou do lado da parede no canto?

— Tanto faz, fuzileiro — de novo, não fez questão. — Vou ali e já volto.

Avisou tirando alguns itens da mochila e levantou-se, saindo do quarto com os itens que pareciam ser sua escova e a pasta de dente na mão.

Jeongguk tinha sim as suas preferências, mas não estava em situação de escolher nada, mesmo sendo perguntado. Era só ter um espaço para dormir e pronto. A parede então foi o lado escolhido por Taehyung. Entre as opções, pensando por uma ótica negativa, era melhor ser empurrado para o canto do que ser empurrado para fora da cama e ir de encontro ao chão. Na missão anterior, lembrava-se muito bem do Jeon balançando a beliche em que dormiam, por se mexer em excesso durante a noite. Nessa nova experiência, não pagaria para ver.

No fundo, Taehyung já não tinha mais o que fazer durante aquela noite. Para falar a verdade, estava apenas esperando o capitão se deitar.

A falta do que fazer até levou-o a observar Jimin sentado na cama, quando aparentemente trocava mensagens, já com os coturnos colocados nos pés. Ele se levantou ainda escrevendo e parou, e Taehyung observava tudo. Alguns segundos depois, teclou de novo, parecendo ter concluído até bloquear a tela do celular e jogar no bolso traseiro da calça com um leve sorrisinho no rosto.

— Que sorriso é esse, Jimin?

— Nada demais… Rindo de coisas idiotas que o meu amigo diz.

— Aquele Yoongi?

— Ele mesmo.

— Hmm… — coçou o queixo. — Entendi.

— Estou indo terminar de me aprontar no vestiário — ele avisou a Taehyung e fingiu não ter escutado aquele tom de voz suspeito.

— Tá bom. Já vai começar o seu turno, né?

— Em poucos minutos — confirmou triste, sem ter tido tempo para descansar. — Boa noite, migo. Durma bem.

— Boa noite, Jimin. Bom trabalho.

Jimin abriu a porta e deixou Taehyung sozinho no quarto, partindo. Logo no corredor, o Park deparou-se com o capitão Jeon retornando ao quarto em um sentido oposto ao seu. Era estranho o que há de tão constrangedor quando se espera a passagem de alguém que não se tem grande intimidade. As pessoas se olham, e no mínimo pensam em dar um cumprimento com um aceno de cabeça. Elas podem dizer "e aí?!" ou "falô", e até mesmo "qualé", mas nada chega a sair da superficialidade. Piorava para Jimin, que depois de ter sido alvo de uma patada — um corte bem direto do outro —, estava sendo olhado de forma indiferente. Entretanto, isso já era normal. Acontecia a todo momento, com qualquer um. Jeongguk era assim. Aquele olhar não significava que ele estava procurando encrenca com alguém, como de fato percebeu ao cruzar com ele e cumprimentá-lo:

Ultramar [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora