Poder contar

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Começava a chover, e o primeiro pingo de chuva caiu bem na ponta do nariz do comandante Jeon, enquanto retirava o capacete com apenas uma só mão. Na outra, carregava sua prancheta. Andava sobre o seu par de coturnos bem amarrados e chegou a jogar aquele item de proteção da cabeça para o Capitão-de-Fragata Kim Seokjin assim que conseguiu desprendê-lo. Continuou caminhando ao passar pelo amigo no grande convés do navio. Havia finalizado o treino dos grupo de atiradores de elite após 18 horas de exercícios com uma parabenização aos militares sob sua responsabilidade. Estava pleno com o trabalho feito, orgulhoso de ter dado conta, mas não poderia negar que estava exausto depois de ter virado a noite em claro.

Chacoalhou o cabelo e puxou a mecha de fios brancos para frente, arrumando o visual intuitivamente na falta de um espelho para se ver. Percebeu a presença do Coronel Wonho não muito distante dali, o que lhe fez saber que havia demorado mais que ele. Seus militares estavam jogados ao chão matando a sede com garrafas d'água e enxugando o suor na manga de suas camisas camufladas. Com o trabalho duro, Jeongguk seguiu sem perguntar a Wonho sobre os resultados da equipe dele. Eles poderiam discutir isso em uma outra hora, após o próprio Jeon se comunicar com sua equipe também.

— Guarde para mim, por favor — esticou a prancheta para o Capitão-Tenente Park Jimin que veio a seu encontro.

— Positivo, senhor — o Park logo pegou a planilha do comandante e passou a andar ao lado dele, na mesma direção, enquanto rapidamente corria os olhos no relatório e conferia que ali haviam bons resultados. — Irei guardar.

— Lhe agradeço — Jeongguk respondeu com cordialidade, mas percebeu de soslaio a expressão dele diante o seu relatório louvável. Foi trabalho bem-feito, e limpando a garganta, ainda com aquele ar de neutralidade, quis saber: — Por um acaso o senhor sabe a localização do Capitão-Tenente Kim Taehyung?

— No dormitório, senhor.

— Hm — murmurou indiferente.

— Por quê?

O Capitão-Tenente Park perguntou.

— Nada. Apenas controle de equipe — justificou e parou o andar. Jimin acompanhou a mesma ação e foi então que Jeongguk tirou oficialmente seu time de campo: — Caso precisem de mim, repassem a demanda para o vice-comandante, pois eu não preguei os olhos até agora, preciso ao menos de um cochilo rápido.

Instruiu, se referindo ao Capitão-de-Fragata Seokjin que assumiria o comando momentâneo.

— Entendido, comandante.

O Park bateu continência em sinal de respeito ao seu superior.

Jeongguk deu as costas, ganhando distância do Capitão-Tenente Park Jimin que rumou a outro local. Passando pela meia-nau do navio, Jeongguk viu alguns grupos já se preparando para outra bateria de exercícios aquáticos. Ajeitou a postura e não se deixou transparecer o cansaço existente. Seu cansaço era de grande parte mental. O corpo sentia a noite em claro, obviamente, mas era exigido muito de seu psicológico e cálculos durante o seu treinamento.

Entrando no corredor principal, acessou os dormitórios e rumou ao dos comandantes, tentando assim, trocar uma palavra com um de seus colegas de equipe. Deu duas batidinhas na porta e girou a maçaneta, abrindo uma fresta e colocando a cabeça para enxergar o ambiente.

— Licença... — chamou a atenção do Kim, em um tom de voz suave. Encontrou Taehyung sentando na própria, esfregando o rosto de forma preocupada. — Como está?

Taehyung olhou para a porta. Não percebeu a redução da postura egóica dele, estava muito mais preocupado com a desconfiança de ter sido traído para perceber isso.

Ultramar [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora