Sem sacrifícios, não há vitória - Parte 2

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Músculos mantinham o comandante Jeon de pé há horas, em meio ao breu de uma das salas do trigésimo andar de um prédio comercial abandonado em Cabul. Curvado, estava à espreita. A ferrugem o cercava diante da corrosão de metais ao redor, inclusive, da janela em que estava com o seu fuzil de precisão e sua mira capaz de aproximar através da lente o conflito. Bem afastado dos colegas de equipe — absolutamente isolado —, dificilmente se tornaria visível camuflado com roupas escuras em meio ao breu. De fato, ele não estava no olho do furacão, mas de alguma forma se fazia presente. Seja na constante observação, direcionamentos ou prontidão para agir se necessário, afinal, Atiradores de Elite não atiravam com frequência.

Quanto mais disparos, maiores eram as chances de ser encontrado.

De lá, ele via o seu foco principal: o refém. Um homem de meia idade estava sob o poder de um jovem paquistanês. Enquanto o caos se instalava principalmente na rua, o refém e o jovem estavam dentro do banco, atrás de caixas eletrônicos derrubados como barricadas. Em algumas vezes, se aproximavam da vidraça e recuavam novamente, dificultando para Jeongguk, mas logo voltavam e Jeongguk se enchia de esperança de que logo conseguisse atirar sem tantos riscos envolvidos numa negociação.

O trigésimo andar daquele prédio comercial abandonado oferecia uma visão privilegiada o bastante, a ponto de ter visto Taehyung quase ter o crânio perfurado. Precisou dar um toque e pedi-lo cuidado, e não porque achava que ele sempre iria se arriscar igual a um doido. Assim como o disse, confiava que ele soubesse o que estava fazendo, mas, às vezes não estamos isentos de confiar em alguém e mesmo assim pedir para que essa pessoa tome cuidado. É um zelo à parte. E depois disso, pode ser que fiquemos mais tranquilos por termos dito isso.

Depois que Jeongguk percebeu que a relação de parceiros de trabalho poderia ser amistosa entre os dois, estava quebrando pequenas barreiras levantadas há um tempão. Ambos eram pais, tiveram de vivenciar um divórcio — embora por diferentes motivos — e pareciam pensar o mesmo sobre o perigo de misturarem a sexualidade com o ambiente de trabalho. Se conectaram em alguns aspectos e, para Jeongguk, era insustentável manter aquela sua mesma visão inicial sobre Taehyung. Via-o com outros olhos depois de se aproximar, mas só de pensar nisso com maior profundidade, sentia que estava pecando no tom de envolvimento.

— Está indo bem — na escuta, o comandante comentou suavemente para o Kim. Nos intensos minutos, precisavam mais do apoio um do outro.

"Estou tentando abrir o caminho para o senhor fazer o tiro na negociação, mas tá foda!" — o Kim gritou na escuta intra-auricular.

E Jeongguk sussurrou, concentrado:

— Vá no seu tempo, fuzileiro... Sem afobação. Respire.

Taehyung, em outras situações, arriscaria dizer que Jeongguk estava sendo carinhoso. Por outro lado, o Jeon jamais se acharia carinhoso por dizer isso.

Jeongguk via Taehyung lá embaixo investindo em agressividade a todo momento. O Kim era um cara gentil e tranquilo fora de um combate, mas reunia tamanha força e reatividade quando entrava em um, que parecia uma máquina. Havia uma dedicação fervorosa. Sinalizava comandos, se arriscava e chamava o grupo para chegar junto, pedindo constância dos seus aliados. Diante da escuridão da noite, ele estava muito bem, porque tudo se tornava mais complexo de visualizar. Para o Jeon, isso se tornava mais simples por equipamentos que permitiam adaptar o seu fuzil de precisão para uso noturno.

Sem esse equipamento, dificilmente perceberia o que acabava de reparar como uma ameaça. No instante em que viu, enquadrou-o em sua mira e lentamente foi apertando o gatilho. Mais e mais, até realizar o disparo e segurar com ombro firme o recuo violento que a arma fizera ao atirar.

Ultramar [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora