Capítulo 1, trazê-la de volta.

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Ele não podia acreditar que ela havia fugido. Ele não podia acreditar que Baghra havia lhe convencido com tão poucas palavras enquanto ele a dias — meses — tentava lhe trazer para o seu lado, como iguais. Não havia se passado sequer uma hora; uma hora desde que ele havia saído às pressas daquela sala e a deixado lá, aguardando com uma expectativa singela e, por fim, quebrada em instantes. Era inacreditável.

As consequências daquela fuga. Quanto tempo levaria para que pudesse encontrá-la. Detalhes que antes ele sequer cogitava martelando em sua cabeça. Sua conjuradora, uma hora por entre seus dedos e em instantes não mais.

Primeiro a informação de um ataque. O assassinato de um grisha nos domínios do Pequeno Palácio, em seguida o desaparecimento de Alina. Tudo isso após a demonstração que ela havia feito em meio a tantos; um deslumbre, uma chama de esperança e uma oportunidade para aqueles que necessitavam dela para apaziguar o medo causado pela Dobra e alimentar sua fé. Sankta Alina. Sol Koroleva.

Por mais que os anos lhe tenham dado sabedoria e uma paciência de contingência quase monumental, o Darkling não conseguia evitar o desespero emergente diante do que poderia ser talvez uma catástrofe. Aquela não era uma situação cotidiana — o desaparecimento de algum grisha, a morte de alguém do Segundo Exército, um estopim político. Não, ele já estava habituado a isso tudo —, aquela era a fuga de uma Conjuradora do Sol. Sua Conjuradora do Sol. A única.

O Pequeno Palácio estava abarrotado, representantes de todos os lugares, figuras conhecidas, políticos, nobres, grishas e otkazat'sya. O autocontrole em fingir que nada havia ocorrido, pretender que ela havia se recolhido. Ido para seus aposentos.

Ele havia andado por cada canto, cada cômodo. Cada pista era um grande passo. Sua preocupação era tão grande que seus próprios oprichniki estavam encarregados de procurá-la, de trazê-la de volta ou de lhe entregar qualquer informação valiosa.

Depois do show de luzes, sua ausência no jantar seria algo que todos poderiam relevar.

— O que disse a ela? — mantinha a voz contida, embora um traço angustiante de algo que ele se esforçava para manter dentro.

Baghra tinha em suas feições uma incógnita. Um misto de triunfo e desinteresse. A presença de Kirigan em sua caverna era algo previsto, mas ao mesmo tempo algo que ela se esforçava para ignorar até que se cansasse e fosse embora. Uma criança emburrada porque não tem mais o direito da sobremesa.

— O que disse a ela, velha?! — finalmente alterando o tom de sua voz, deixando um pouco da raiva contida extravasar. As sombras aos poucos preenchendo as lacunas do local já pouco iluminado.

— Disse a verdade, moleque! — arfou, as sombras inquietas à sua volta — Agora não me perturbe! O que esperava? Que mais uma vez teria o trunfo na palma de suas mãos? Que a usaria em benefício próprio para aumentar seu poder? A Dobra? — ela parecia rir em meio a ira do General, ignorando qualquer consequência que poderia ter por conta das palavras afiadas — Acha que eu não sei que só quer o Cervo de Morozova para seu benefício, Aleksander? A menina estúpida jamais seria capaz de ver sozinha.

O cômodo jazia completamente envolto em sombras. As velas que faziam a precária iluminação do local não passavam de pequenos pontos na escuridão enquanto o General se concentrava em não matar a mulher à frente de si.

— Isso é mais do que benefício próprio. Ela é a luz que procuramos... Que eu procurei e esperei todo esse tempo! Ela é a garantia de uma Ravka segura para os grisha, velha! — Baghra o olhava fixamente mesmo em meio ao breu, enquanto as palavras estranguladas pela raiva a atingiam — Você sabe que é mais que benefício próprio...!

Darkness Encounters Sunshine || DarklinaOnde histórias criam vida. Descubra agora