Darkness Encounters Sunshine || Darklina

Capítulo 2, Ryevost por acaso.

*Uma breve nota da autora: Os capítulos a partir de agora vão começar a ficar relativamente maiores e com um ritmo um pouco mais lento para explorar certas questões dos personagens e também dos acontecimentos. Bastante coisa está por vir e vai acontecer. Aproveitem a leitura!

Por mais chocante que pudesse parecer, ela não estava tão distante. Seus olhos ainda estavam vermelhos, o rosto ainda inchado. Ela simplesmente não podia acreditar, era impossível, irreal; nunca se sentira tão traída e enganada em toda a vida; seu coração partido e a confiança perdida. Durante todo aquele período ela havia acreditado, meses confiando nas palavras de um monstro que no fim apenas usaria seus poderes para ampliar a força gigantesca que ele já possuía. Em nenhum momento, ele sequer demonstrou qualquer sombra de verdade, apenas omissões. O quanto ele não havia manipulado? Como ela poderia não ter percebido?

A verdade é que ela não sabia em que acreditar. Em quem. Naquele instante ela tentava pensar com a cabeça e não permitir que seu coração interferisse em qualquer pensamento, mas como? Horas atrás ela estava aos pés daquele homem, desejando-o ardentemente, confiando em quem ele havia demonstrado ser... Há algumas horas atrás, se nada disso tivesse ocorrido, teria permanecido naquela sala. Teria esperado. Diria sim ao seu pedido e ele teria ido ao seu quarto, ele seria seu primeiro. A ideia desmantelada de um amor que agora ela acreditava ter sido de uma única via; apenas ela tinha nutrido tal sentimento. Era óbvio que estava apaixonada, mas ele? E ele?

— Ele só queria me usar todo esse tempo! A mim! Meu poder, me tornar uma escrava... — Sussurrava consigo mesmo com uma voz devastada, as lágrimas mais uma vez fazendo um rastro fino por suas bochechas — Libertar Ravka... Quem eu... Eu achando que pertencia a um lugar... No fim só estava sendo feita de boneca... — soltou o ar em um riso triste, passando uma das mãos pelo rosto com rispidez.

O balançar da carruagem vez e outra lhe tirava de seus devaneios, fazia-a se recordar que a cada segundo se distanciava mais e mais de Os Alta. Todas as certezas que tinha até então estavam enterradas naquele lugar e por mais que sua insegurança gritasse dentro de si, ela sabia o que tinha de fazer; o Cervo de Morozova. O único ponto claro de sua mente. Seus sonhos até então lhe guiavam até ele, ela sabia que tinha de encontrá-lo, independente de qualquer promessa que Kirigan lhe tivesse feito. Através dele, daquele amplificador, ela sentia, acreditava cegamente que seria capaz de destruir a Dobra. Seu medo é que não o encontrasse primeiro. Estava sozinha, fugitiva em um baú na parte posterior de uma carruagem. Já ele possuía um exército, uma infinidade de soldados — grishas — posta às suas ordens.

'Keramzin'. Ela suspirou ao pensar na vida simples que possuía antes de tudo. Pensou no orfanato, em sua humilde posição de cartógrafa no Primeiro Exército, em Mal. Tudo o que lhe foi tirado. No fundo desejou que a Conjuradora do Sol não existisse, queria ser apenas Alina, uma órfã que faz mapas, que nunca foi grisha, que nunca beijou o Herege Negro — pois era isso o que ele era. Quem ele era.

Ela tinha raiva de si mesma por ser tão tola. Se lembrou de Baghra; respirou fundo ao recordar suas palavras.

"— Não seja tola, criança! Kirigan é o Herege Negro! Ele já teve muitos nomes e forjou muitas mortes. — cuspia as palavras olhando diretamente em seus olhos, como se Alina fosse a criatura mais burra a andar pela terra — Um pássaro feliz em uma gaiola dourada. Ele só está usando você."

Alina sabia para onde deveria ir, apenas não sabia exatamente como, tampouco como chegar até lá. Lembrou-se de uma das últimas vezes que havia conversado com Kirigan sobre o Cervo, sabia que talvez o encontrariam próximo à fronteira de Fjerda — Tsibeya. Era o único local que palpitava mais forte em seu coração.