Visita Íntima

0.6

GABRIELA

Eu não queria ir mais naquela visita. Cara, eu sair de manhã pra entregar currículo no sol quente e saber que só virar as costas vão rasgar e jogar o currículo no lixo por morar em favela e ainda ser chamada de puta? Cara tô desacreditada como a cabeça do homem é fértil, só por que eu fiz uma visita é por que eu sou puta? Eu só fui por que precisava do dinheiro.

Vou falar a verdade, já estou cansada desses playboizinhos humilharem quem mora em favela, se eles dessem oportunidade para nós, nunca que eu iria pra aquela visita e muitas crianças de 14 anos nunca entrariam nessa vida do crime vendo sua mãe entregar currículo e nada de resultados, esse país é imundo, não fazem nada para acabar com a desigualdade social, engraçado que em época de eleição vem pra FAVELA pra fazer uma média pra mídia, faz entrevista e vaza.

Desviei dos meus pensamentos com minha mãe me chamando.

- Filha, o que O 2F tá fazendo aqui?

- Como assim?- Levantei assustada.

- Ele disse que você tem uma dívida com ele, não me diz que você pegou dinheiro com ele pra pagar o aluguel?- Mulher já tava chorando e o 2F já entrou quase arrancando a porta no chute. Desnecessário.

- E aí porra? Fecha a porta na minha cara e fica me deixando esperar.

- Mas a porta tava aberta, era só chamar ou abrir.

- Tá achando que eu sou testemunha Jeová pra ficar chamando e esperar alguém sair? Se liga porra.- Fiquei até quieta, cara parece um cavalo.- Você vem comigo.- Apontou pra mim.

- Por que você vai levar minha filha?- Disse chorando e eu abaixo a cabeça.

- Ela não te contou?- Cruzou os braços e riu, balancei a cabeça pra ele não contar nada.

- O que ele quis dizer?- Olhou pra mim.

- Enfim, vem comigo logo porra, queria saber de showzinho de mãe e filha não. - Ele pegou no meu braço e foi me arrastando pra fora de casa, abriu a porta do carro e me jogou na parte de trás, acabei batendo minha cabeça em alguma coisa e apaguei.

Acordei com alguém me remexendo e fiquei com dificuldade para abrir os olhos.

- Vai, acorda porra.- Abri o olho contra vontade, pois a luz do quarto bateu no meu olho.

- Onde eu tô?- Perguntei confusa e vi que a Melissa tava também então já immaginei onde tava.

- Na minha casa.- A casa nem é dele.- Você vai ficar aqui pra visitar o DOPRE.- Meu Deus é tudo pra fuder mesmo.

- Mas eu posso muito bem fica na minha casa, cara.

- Mas é pra não correr o risco de você fugir, cara.- Imitou minha voz e me deu um tapinha de leve. Melissa só ficava olhando.- Melissa pega uma roupa sua pra elas que amanhã eu passo na casa dela e pego as roupa dela.- Ela só assentiu e ele saiu do quarto.

- Desculpa amiga, não queria que você estivesse passando por isso.- Ouvi a porta bater.

- Você sabe do que seu irmão me chamou?- Ela negou.- De puta e você sabe mais do que ninguém que eu era virgem e ainda me deu um tapa.- Comecei a chorar só de pensar, ela sentou do meu lado. Eu já tinha até esquecido da nossa briga, no momento eu so precisava de um abraço que me trouxesse paz e o dela sempre conforto em todas as vezes que eu chorava quando meu pai brigava com minha mãe e eu ia correndo pra casa dela, passávamos o dia inteiro juntas e eu esquecia totalmente dos meus problemas em casa.

- Ele é assim amiga, ele é um ogro, eu te entendo. Mas eu acho que você vai nas visitas até ele sair, eu escutei uma conversa deles no celular e não tem ninguém pra ir a não ser você, já que você é um alvo fácil, pois deve pra ele.

- Que merda, maldita hora que eu fui pedir dinheiro pro 2F.- Chorei mais ainda.- Agora sou alvo de bandido, merda de vida mesmo.

- Calma amiga, vai lá tomar um banho que eu arrumo uma roupa pra você.- Assenti e nos levantamos da cama, não tinha banheiro no quarto, então fui no corredor e tinha um do lado do outro quarto, provavelmente onde Melissa e 2F dormem, por quê ela saiu de lá e e me entregou uma roupa.

Entrei no banheiro e fui tirando minha roupa. Entrei no chuveiro e já tava me sentindo leve.

Precisava me aliviar mesmo e esse banho salvou minha noite. Molhei meu cabelo, desliguei o chuveiro e sai do box com uma toalha na cabeça. Coloquei a roupa que a Melissa me deu e fui direto pro quarto.