Na alegria e na doença

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Bárbara

O dia seguinte não amanheceu melhor que os anteriores. Estamos dormindo no quarto de  hóspedes por causa do colchão que precisou ser lavado e está secando no quintal, e pode ser que demore por causa do tempo frio. Mas voltando ao assunto mais importante da minha vida e que está me causando uma dor absurda: Macarena.

Ela está calada, tem estado calada desde que voltamos do hospital. Passa o dia todo dessa forma praticamente, não levanta da cama, apenas em ocasiões realmente necessárias. Tenho dado banhos nela porque se não o fizer, acredito que ela não o fará também; tamanha está sendo sua tristeza.

Parte-me no meio vê-la de forma tão cabisbaixa.

Fiquei encarregada de cancelar qualquer compromisso dela. Sei que Macarena precisará de um tempo, e estou cuidando dela para que não demore tanto.

– Depois posso subir para ver a mamãe?

Theo questiona a mim, olhando-me de uma forma cabisbaixa. Ele tem ficado mais calado também, como se soubesse e sentisse tudo o que a mãe dele está sentindo. E acredito que esteja mesmo, os dois têm uma ligação muito forte. Eu sorrio para meu pequeno, bagunçando seus cabelos longos que caem um pouco sobre os olhos.

– Claro, hijo. Não precisa nem pedir, só não a acorde caso ela esteja dormindo, ok?

Ele concorda com a cabeça e volta a comer sua comida, em silêncio, sem dizer mais nada. Terminamos nosso almoço assim, e depois de arrumarmos tudo, subimos os dois para verificarmos Macarena. Entro primeiro, apenas para me certificar de que ela esteja vestida, e está. Deitada na cama, olhando através da janela aberta a neve que cai do lado de fora, sua imagem parece tão fria quanto o tempo nesse momento.

– Mamãe?

O pequeno o chama, aproximando-se da cama. Macarena demora alguns segundos para reagir, mas então, olha para ele e abre um pequeno sorriso juntamente de seus braços. Isso tem me deixado mais confortada, ela nunca rejeita ou ignora nosso filho. Theo sobe rapidamente na cama e com cuidado abraça sua mãe.

Ele tem sido muito cuidadoso, pois sabe que ela precisa de cuidados.

– Estou feliz em ver que comeu tudo. - Comento ao olhar a bandeja sobre a cabeceira da cama, o prato que a servi está vazio, ela somente não tomou seu suco todo, mas isso não importa. – Quer mais água?

– Não precisa, princesa. Deite aqui conosco, por favor.

Ela pede de forma tão manhosa que quase me faz derreter, achando adorável sua manha. Não penso duas vezes antes de aceitar seu pedido, subindo na cama e abraçando os dois da melhor forma que posso. Ficamos assim os três olhando a neve, em silêncio, mas pela primeira vez em uma semana, não está sendo melancólico ou apavorante.

– Eu amo a senhora, mamãe.

Theo diz de repente, um tom baixo como se fosse algum tipo de confissão. Eu só consegui ouvir por estar bem perto. Ergo minha cabeça e encaro os dois, ela pressiona bem os olhos e o abraça forte, enterrando o rosto nos cabelos grandes dele. Essa imagem faz meu coração sentir como se estivesse aquecido, e me traz uma garantia de que tudo vai ficar bem.

Temos uns aos outros, vamos por esse momento difícil.

– Eu amo você, meu pequeno. Amo tanto que não cabe dentro de mim.

Permaneço quieta, admirando a imagem dos dois se abraçando de forma tão apertada. Me faz feliz e não me deixa enciumada, pelo contrário, me dá esperanças. Esses momentos entre os dois foram raros nos últimos dias, para ser sincera, não presenciei muito. Macarena tem estado tão reclusa, eu não sabia mais o que fazer para retirá-la do quarto e tentá-la animá-la.

Stupid Wife - BarbarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora