Capítulo 3 - Será um começo?

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Meu pé realmente ficou dolorido. E o pior é que eu não podia reclamar, porque ela avisara. Mas, a dança valeu a pena. Realmente valeu a pena.

Eu descobri uma Sofia cheia de sonhos e uma fragilidade sem tamanho. Em pouco tempo vi o que ela tem de bonita, tem de inteligente.

Ô rapariga inteligente! - meu avô português iria dizer com seu sotaque carregado.

Tem belíssimos 20 anos, está no último ano do curso de jornalismo. Eu não pude conversar mais um pouco com ela porque teve alguém que nos atrapalhou.

Enquanto dançávamos, sinto um cutucão no meu braço e me viro.

Olho, mas não tinha ninguém. Até que vejo braços sendo balançados e olho para baixo.

Um tampinha, com cabelos cacheados e grande olhos azuis me encaram com curiosidade. Vai até Sofia pega as mãos dela. Depois se vira em minha direção e me pergunta:

- Posso dançar com ela? - diz educado fazendo cara de inocente.

Olho para ela e ela sorri.

- Claro - assinto.

Antes que eu saia, Sofia pega meu braço e tasca um beijo na minha bochecha.

- Obrigada pela dança - sorri mais uma vez, pega as mãozinhas do menino e começa a dançar com ele.

- De nada - sussuro e ando em direção à mesa.

Sento e sinto um par de olhos me encarando.

- Cadê o meu pai?

- Foi pegar uma sobremesa. E então? Quem é ela? - minha mãe aponta com o queixo para a pista de dança.

- Uma menina - dou de ombros.

- Não era qualquer menina, filho. Ela prendeu a sua atenção até o último minuto.

- Ahh mãe, não exagera - reviro os olhos.

- Se você não percebeu, então tá doente, pois eu vi daqui - levanta as sobrancelhas. - Pegou o número dela?

- MÃE!

- O que é? Parece que vocês se entenderam, não custa pegar o número dela, pode ser que vocês nunca mais se encontrem.

Fico refletindo um pouco. Não quero me envolver, mas também não quero a perder de vista.

Resolvo ir até ela e não a acho.

Saio do salão e o vento frio chicoteia meu rosto. Me encolho e começo a andar.

Diante de uma luz de led (meio apagadinha, por sinal), vejo uma silhueta pouco conhecida. Hesito antes de perguntar:

- Sofia? - pausadamente pergunto.

A pessoa se vira. Seu rosto está encharcado de lágrimas.

- O que houve?! - sem perceber, lhe dou um abraço.

Ela chora livremente no meu peito e quando acaba, ainda fica abraçada a mim.

- Você quer falar sobre isso? - sussurro.

- Não - disse com um fio de voz.

Ela se afasta e limpa o rosto.

- Desculpa - ela diz apontando para a minha camisa. - Eu sujei toda sua camisa de rímel.

- Não tem problema - sorrio.

Nós ficamos nos olhando por vários minutos, até que lembro do meu propósito.

Às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora