Capítulo 1 - Seguir em frente.

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Inspiro fundo o cheiro de terra molhada ao sair do aeroporto e olho em volta.

Quando comecei de verdade minha vida, conheci a garota com os olhos mel mais impressionantes que já vira.
E me descobri feliz ao seu lado, dividindo o apartamento, noites cheias de emoções, e flores cheirosas entregadas todos os dias para a mulher da minha vida.

Um dia ela me perguntou: "você tem medo de querer largar tudo e viver no paraíso? Há tantos lugares bonitos nesse mundo e nem procuramos. Tem medo?".

Ainda sim, antes de eu responder, fechou seus olhos e dormiu.

Ela provavelmente levou como uma pergunta retórica, mas fiquei pensando isso durante a madrugada e me perguntando: será que ela tem medo?

E ela não tinha.

Devia ter desconfiado desde quando ela fizera essa questão.

Numa manhã de segunda-feira ergui o braço para alcançá-la do outro lado da cama e, ao invés dela, encontrei um bilhete em cima de seu travesseiro.

Meu amor,

A vida nos prega uma peça que não sabíamos que ia acontecer.

O mundo algumas vezes não nos espera e por alguma razão, também não esperamos por ele.

Eu escolhi não esperar.

Os meus planos eram diferentes dos seus, e, pra falar a verdade, não queria estragá-los.

Você foi o meu amor, e agora o deixo partir. Sentia que o sufocava, não o deixava voar.

Espero que me perdoe um dia e encontre seu paraíso

Lisa.

Eu, perdoar?! Vamos ver se acontece - provavelmente nunca.

Sua atitude me deixou enjoado e provei a mim mesmo que o amor não valia a pena para mim.

Eu não aguentava mais viver no mesmo espaço que dividíamos com toda a felicidade e amor.

Decidi sair da cidade - e do país, inclusive - que tanto me lembrava dela e recomeçar.

Chamo um táxi, guardo minhas malas e indico o local para o humilde taxista.

Olho pela janela cheia de gotas de chuva e pergunto a mim mesmo o que estava fazendo na minha vida.

Chego e tudo continua da mesma forma: o jardim da frente com as flores bem aparadas, a casa, antes com o vermelho sangue vivo, agora desbotada criando uma cor direcionada ao vinho e as janelas distribuídas pela mobília em madeira.

Pago o motorista e logo chamo a campainha.

Ting Tong.

Vejo uma massa de cabelos loiros por entre a fenda da garagem e espero.

- Peter? Oh, querido que saudades! Chegou mais cedo.

Me aconchego no abraço gostoso de minha mãe e respondo.

- Que saudade, mãe! É, o vôo adiantou uma hora e vim correndo para cá.

- Por que não ligou para o seu pai? Ele teria te buscado - minha mãe faz uma cara triste.

- Não, não, tudo bem. Não queria atrapalhar.

- Você não atrapalha nunca!

Logo entramos na sala e sou recebido pelo cheiro de bolinhos de chuva. Que cheiro bom!

Às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora