Inspiro fundo o cheiro de terra molhada ao sair do aeroporto e olho em volta.
Quando comecei de verdade minha vida, conheci a garota com os olhos mel mais impressionantes que já vira.
E me descobri feliz ao seu lado, dividindo o apartamento, noites cheias de emoções, e flores cheirosas entregadas todos os dias para a mulher da minha vida.Um dia ela me perguntou: "você tem medo de querer largar tudo e viver no paraíso? Há tantos lugares bonitos nesse mundo e nem procuramos. Tem medo?".
Ainda sim, antes de eu responder, fechou seus olhos e dormiu.
Ela provavelmente levou como uma pergunta retórica, mas fiquei pensando isso durante a madrugada e me perguntando: será que ela tem medo?
E ela não tinha.
Devia ter desconfiado desde quando ela fizera essa questão.
Numa manhã de segunda-feira ergui o braço para alcançá-la do outro lado da cama e, ao invés dela, encontrei um bilhete em cima de seu travesseiro.
Meu amor,
A vida nos prega uma peça que não sabíamos que ia acontecer.
O mundo algumas vezes não nos espera e por alguma razão, também não esperamos por ele.
Eu escolhi não esperar.
Os meus planos eram diferentes dos seus, e, pra falar a verdade, não queria estragá-los.
Você foi o meu amor, e agora o deixo partir. Sentia que o sufocava, não o deixava voar.
Espero que me perdoe um dia e encontre seu paraíso
Lisa.
Eu, perdoar?! Vamos ver se acontece - provavelmente nunca.
Sua atitude me deixou enjoado e provei a mim mesmo que o amor não valia a pena para mim.
Eu não aguentava mais viver no mesmo espaço que dividíamos com toda a felicidade e amor.
Decidi sair da cidade - e do país, inclusive - que tanto me lembrava dela e recomeçar.
Chamo um táxi, guardo minhas malas e indico o local para o humilde taxista.
Olho pela janela cheia de gotas de chuva e pergunto a mim mesmo o que estava fazendo na minha vida.
Chego e tudo continua da mesma forma: o jardim da frente com as flores bem aparadas, a casa, antes com o vermelho sangue vivo, agora desbotada criando uma cor direcionada ao vinho e as janelas distribuídas pela mobília em madeira.
Pago o motorista e logo chamo a campainha.
Ting Tong.
Vejo uma massa de cabelos loiros por entre a fenda da garagem e espero.
- Peter? Oh, querido que saudades! Chegou mais cedo.
Me aconchego no abraço gostoso de minha mãe e respondo.
- Que saudade, mãe! É, o vôo adiantou uma hora e vim correndo para cá.
- Por que não ligou para o seu pai? Ele teria te buscado - minha mãe faz uma cara triste.
- Não, não, tudo bem. Não queria atrapalhar.
- Você não atrapalha nunca!
Logo entramos na sala e sou recebido pelo cheiro de bolinhos de chuva. Que cheiro bom!
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Às Avessas
Teen FictionPeter convivia com sua linda namorada, Lisa, em Nova Iorque. O que não esperava era que ela lhe deixasse, sozinho e desamparado. Não aguentando mais, Peter volta para sua cidade natal e sua antiga vida. Mas, o que não esperava era encontrar uma garo...