A data mais esperada do ano. Onde as crianças pedem presentes para um velhinho que não existe, ou troca de presentes entre os amigos e familiares. A felicidade espalhada por todos os lugares.
Menos na minha família.
Mamãe estava agachada na estreita cama do hospital, ajoelhada diante do corpo já vazio de esperança e lágrimas de tristeza e derrota.
Papai havia morrido.
Com uma maldita doença que ninguém consegue evitá-la ou sequer pára-la de movimentar em um corpo, ele havia partido. Células cancerígenas se multiplicavam cada vez mais em seu corpo. Até ele morrer.
O meu pai.
O que fora meu primeiro amor, aquele que me segurava quando eu nasci, com amor e carinho, enquanto chorava com mamãe de alegria. Aquele que me socorreu quando eu caí da bicicleta, aprendendo a andar. Quando ia sair para uma festa me alertava e me abençoava para chegar em casa bem.
E para completar, Tiago tinha terminado comigo. Preferiu acabar tudo no momento mais difícil da minha vida. Dissera que a pressão era muito ruim e não queria me ver sofrendo. A repugnância de suas palavras, foram como um tapa no meu rosto. Todos os anos que ficamos juntos foram jogados no lixo com elas. Não tinha melhorado em nada terminado comigo, foi ao contrário, me deixou pior que estava. (Sei lá, você pode insultá-lo aqui com qualquer palavra)
E lá, no meio daquela desgraça, meu pai sempre sorria ou contava histórias engraçadas. Mas eu sabia que era para não me deixar cabisbaixa, mamãe e Danilo. Amanda ficava fora disso, ainda criança, em seu mundo de bonecas e princesas. Mas ela sabia que ele estava morrendo, e isso era doloroso.
A notícia de sua morte foi um baque para nós.
Roendo as unhas até a carne. Estou andando pra lá e pra cá, agoniada.
Danilo, mamãe e eu deixamos a casa às pressas. A chamada de emergência que recebemos nos deixou em alerta.
E minha esperança indo embora.
Não morra, não morra. Pai.
Amanda tinha ficado em casa com a nossa ajudante. A menina ficou tão assustada com o movimento da casa depois do telefonema, que quase fiquei com ela. Mas a minha mãe agarrou meu braço em desespero e apertou com toda força. Ela chorava desesperada me empurrando para a porta, já pensando no pior.
Danilo estava comunicando tio Paulo para irem para o hospital. Meu irmão estava se segurando para não chorar à caminho do fim. Eu sabia que era.
Todos estavam desesperados, mas eu estava com raiva. Com raiva do que estava acontecendo, com raiva do meu pai, da minha mãe, meu irmão, e até a pequena Amanda. E principalmente com Deus. Como Ele pôde fazer isso?! Não via que a minha vida estava uma droga, meu pai morrendo e eu aqui, desamparada, perdendo meu pai.
O médico chega. Pela sua cara, a situação não parece nada boa, se quer saber.
— Familiares do sr. Solano Magalhães.
A minha família inteira se levanta, apreensivos. O médico engole em seco e diz a pior coisa que poderia acontecer na minha vida:— Eu... sinto muito, podemos o possível, mas o sr. Magalhães não resistiu. Eu sinto muito - e sai. Coitado, não sabia como lidar com essa situação, e o pior: eu também não.
Meu mundo desaba.
A notícia que meu pai tinha morrido era tão bizarra, que poderia dizer que era mentira. Poderia dizer que ele estava do meu lado, contando uma piada ou eu estando com a cabeça em seu colo, quando ficava triste e ele me consolava, cantando uma música bem baixinho e mexendo em meus cabelos. A presença do meu pai era tão forte em um ambiente que, quando alguém desconhecido estava ao seu lado, ele puxava um assunto. A alegria que ele carregava espalhava por todo ao seu redor.
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Às Avessas
Teen FictionPeter convivia com sua linda namorada, Lisa, em Nova Iorque. O que não esperava era que ela lhe deixasse, sozinho e desamparado. Não aguentando mais, Peter volta para sua cidade natal e sua antiga vida. Mas, o que não esperava era encontrar uma garo...