Aisha desceu a longa escadaria atrás de Kroll, copiando seus passos.
Ali dentro era muito escuro e úmido. O cheiro que impregnava as paredes era uma mistura de suor, sangue e gritos. Estavas silenciosos demais, quieto demais, mas Aisha não se importava mais.
Ela tinha certeza que Kroll não a machucaria. Que ele nunca ergueria a mão para feri-la.
Ao chegar ao fim da escada, um mundo de escuridão se abriu, revelando grades e um altar no meio do que parecia um enorme salão. As paredes eram de pedra, iluminadas por escassas lamparinas, que davam um ar quase cerimonial para o ambiente. Em cima de uma mesa no canto, um incenso queimava, mascarando um pouco o cheiro desagradável.
Aisha observou em silêncio, reparando por tempo demais numa mancha no chão.
- Aqui é o seu covil? - ela sussurrou.
- Eu não chamaria de covil. - Kroll respondeu, parecendo agitado.
Aisha inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha.
- O que está escondendo? - ela perguntou.
Kroll sorriu. Suas mãos se flexionaram.
- Sabe por que eu lhe trouxe aqui? - ele perguntou. - Eu queria lhe mostrar onde eu me divirto. Onde contribuo com o mundo.
Aisha ficou confusa e sentiu vontade de rir, mesmo que amargamente.
- Torturar pessoas? Chama isso de contribuir com o mundo?
- Eu não as torturo, eu as concerto. - Kroll respondeu, olhando-a como se não tivesse gostado de sua pergunta. - Os humanos são falhos, com sentimentos demais, motivos demais para cometerem erros. Eu apenas quero torná-los melhores.
- Não acho que essa seja a forma correta. - Aisha disse, olhando o salão.
Kroll balançou a cabeça, como se conversasse com uma criança que não consegue compreender. Ele parecia triste, mas agiu de forma calma, sem a tradicional crueldade.
- Você não compreende ainda, Aisha, mas o que faço é transformar as pessoas. - Kroll caminhou até o altar, passando a mão lentamente pela pedra. - Só que você nunca vai entender isso sem ver em primeira mão.
Aisha franziu a testa. O que ele queria dizer?
Naquele momento, uma das portas do salão se abriu, dando espaço para que um homem entrasse. Ele tinha as feições comuns e passaria despercebido para qualquer um, se não fosse por seus olhos.
Eram dois poços de escuridão morta. Opacos. Quase como se todo o brilho que existira houvesse sido extinto. Mas ao mesmo tempo, havia muita... paz.
Kroll se aproximou de Aisha, dizendo:
- Esse é Moer, meu aprendiz e assistente. Ele era falho como todos os outros, porém foi o único que resistiu a purificação, foi o único que se tornou bom, melhor.
Aisha franziu a testa. O que Kroll havia feito com aquele homem? Será que a inexpressividade e o vazio em seus olhos era culpa do Carniceiro? De onde viera tanta ruptura?
- Agora, ele é o exemplo da pureza, da perfeição. Sem sentimentos, infalível. Nada pode fazer com que mude de ideia quando decide uma coisa. Ele é perfeito! - Kroll voltou seus olhos para Aisha e sorriu. - E posso torná-la como ele.
A jovem garota congelou. O quê?
- Posso fazê-la deixar de sofrer, Aisha. Posso fazer com que toda aquela dor suma. Todas as suas lágrimas e gritos desapareceriam. - Kroll continuou, com os olhos brilhando em adoração, aproximando-se cada vez mais de Aisha - Você nunca mais seria espancada, nunca mais congelaria.
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Aisha - A Noiva do Lorde
Исторические романыApós ser capturada protegendo Timotthe e Diana, Aisha está sendo feita prisioneira pela Baronesa Pinoua, enquanto seus amigos estão lutando para que a terrível mulher não domine Asteria para sempre. Do lado inimigo, Aisha vai ter que lidar com as ve...