O tapa machucou tanto que Aisha sentiu o gosto de sangue na boca.
Ela permaneceu com o rosto virado e os olhos fechados, desejando que o sangue corresse mais rápido e fizesse a dor parar. Suas mãos e pés estavam amarrados, de forma que nem mesmo poderia tocar o local dolorido.
- Já disse que não sei onde eles estão. - ela disse, trincando os dentes e se virando para encarar a Baronesa Pinoua.
- Não consigo acreditar nisso, Srta. Castillo. - disse a Baronesa. - Vocês iam para a mansão de inverno da família real, mas não tem ninguém lá. Onde eles estão? - a mulher perguntou e lhe deu mais um tapa na face contrária.
- Eu já lhe disse que não sei! - berrou Aisha, cuspindo sangue no chão.
Pinoua trincou os dentes e se virou, bebendo a água que estava sobre uma mesinha ao seu lado. Elas estavam ali há pouco tempo, mas suficiente para Aisha já começar a perder a conta de todos os lugares que doíam. A mulher asquerosa vinha batendo nela, em prol de descobrir onde estavam Asterope e o resto de sua família. Mas Aisha não sabia.
Eles deviam estar na mansão de inverno da família real, mas aparentemente, não havia ninguém lá. Pinoua havia enviado homens atrás de Asterope, porém a enorme casa de férias estava completamente vazia. Agora, Aisha era o fruto de informações mais acessível. E a pressa e a necessidade da Baronesa fizeram com que ela mesma interrogasse a jovem garota.
Para a sorte de Aisha, Pinoua não era uma boa torturadora. Ela apenas lhe dava tapas e de vez em quando puxava seu cabelo, arrancando alguns fios que deixavam seu couro cabeludo dolorido durante muito tempo. Mas tirando isso, nada mais. Aisha agradecia por isso, pois sabia que logo aquilo terminasse, poderia se cuidar e tudo passaria.
- Estou lhe dando uma chance, Aisha. - disse Pinoua, se aproximando da garota. - Venha para o meu lado e talvez eu deixe seu noivo e aquela irmã dele sobreviverem. Mas para isso, preciso que me conte onde eles estão.
Aisha sorriu.
- Eu. Não. Sei. - ela disse, bem devagar, como se a Baronesa fosse uma criança.
Pinoua trincou os dentes e ergueu a mão, desferindo outro golpe no rosto de Aisha. A jovem trincou os dentes, sentindo a raiva borbulhar. Ela aproveitou que a Baronesa havia baixado a guarda e se virou, cuspindo no rosto da mulher uma mistura de baba e sangue.
Pinoua arregalou os olhos verdes em cólera e preparou a mão para outro golpe. Aisha se encolheu, mesmo não querendo, mas o golpe nunca veio.
- Eu adoraria continuar vendo isso e até mesmo ajudando... - interrompeu um homem, segurando o braço de Pinoua. - Porém acredito que a senhorita aqui realmente não sabe o que queremos.
A Baronesa olhou para a mão que segurava seu braço e vociferou:
- Me largue.
O homem sorriu e apertou um pouco mais. Pinoua arregalou os olhos, mas antes que ela colapsasse, o homem soltou seu braço. Aisha encarou-o, segurando as lágrimas de dor que queriam cair.
Ele era enorme, com ombros largos e braços grossos. Sua pele era repleta de cicatrizes, tão feias que fez Aisha lembrar de Timotthe. Mas a que mais chamou sua atenção foi a que o homem tinha no rosto. Era uma cicatriz que começava desde seus cabelos raspados muito curtos e descia até a boca, retorcendo-a em um ângulo que fazia parecer que o homem estava sempre com a boca aberta. E quando ele sorria, ficava pior ainda.
Aisha engoliu em seco, sentindo um medo repentino. Os olhos do homem era negros, maldosos e pareciam como um poço de dor e tortura, além de haver um ar sádico neles. Ela estremeceu e se forçou a não desviar os olhos quando ele lhe encarou.
- Então esta é a noiva do filha da puta do Timotthe Odher.
Aisha piscou, surpresa. Não pelo fato de ele saber quem ela era, isso era algo esperado, mas pela forma com que ele chamou Timotthe. Quase como se o odiasse tanto que nem mesmo os piores xingamentos existentes poderiam descrever sua ira. A jovem evitou tremer, se controlando.
- Qual seu nome, senhorita? - perguntou o homem, porém o cumprimento mais pareceu um deboche do que respeito.
Aisha não respondeu, apenas ficou olhando para o poço de escuridão que eram os olhos do homem, procurando o significado de tanto ódio que parecia existir dentro dele. O homem trincou os dentes com o silêncio e seus olhos se arregalaram de forma maníaca, quase como se ele fosse estrangulá-la ali mesmo.
- Eu perguntei qual seu nome. - foi mais uma ordem do que uma afirmação.
- Pare com isso, não temos tempo... - Pinoua começou a protestar, mas o homem ergueu a mão, calando-a. E Aisha percebeu que até mesmo a Baronesa parou, temendo a reação dele.
A jovem encarou os dois e reparou naquele momento que havia apenas eles três dentro daquela sala. Se o homem se descontrolasse, não havia ninguém para pará-lo. E foi isso que motivou Aisha a abrir a boca.
- Aisha. - ela respondeu. - E o seu?
O homem sorriu, com a cicatriz se retorcendo.
- Eu sou o Carniceiro de Kroll. - ele respondeu e quando as palavras saíram de sua boca, Aisha teve que usar o que restou de seu autocontrole para não arregalar os olhos ou implorar por sua vida.
O Carniceiro de Kroll era um famoso guerreiro que havia lutado no lado inimigo na guerra. Ele não tinha uma nação específica e lutava apenas por prazer, matando quando tinha vontade e torturando pessoas como brincadeira. As histórias contavam que seu maior prazer era a tortura. Ele sabia muito bem os piores lugares do corpo, onde mais doía, onde fazer a pessoa sofrer sem perder muito sangue ou morrer. Esse homem era um diabo na terra e gostava do que fazia.
E fora ele que havia torturado Timotthe.
Aisha engoliu em seco. Sua noivo havia passado semanas, senão meses, sofrendo nas mãos daquele homem e a jovem presenciara as marcas que ficaram. Ela ainda se lembrava da sensação das cicatrizes de Timotthe nos dedos.
Aliás, por que ele estava ao lado de Pinoua? A Baronesa havia contratado ele como uma forma de piada para que torturasse Aisha também? Ou tinham outros motivos?
Aisha sentiu suas mãos tremerem levemente, mas fechou-as em punho. Se ela fosse morrer agora, então morreria com a cabeça erguida.
- Ah, querida. - disse o Carniceiro. - Não tenha medo, não vim aqui para torturá-la como fiz com seu noivo. Primeiro, eu prefiro torturar homens. É mais carne para cortar e eles resistem mais. - ele completou, com um sorriso que fez Aisha empalidecer. - Segundo, você não sabe de nada que a Baronesa necessita. Então não tenho motivos para tocar na senhorita.
Aisha nunca admitiria, porém ela sentiu um alívio tão grande, que quase se esqueceu de onde estava.
- Mas isso não significa de que no futuro nós não nos encontremos, querida. - Kroll completou, fazendo com que Aisha ficasse tensa novamente, porém o homem se afastou dela, andando até a porta da sala. - Deixa a garota, Pinoua. Temos outras pessoas para interrogar. - ele disse, por sobre o ombro, e saiu.
A Baronesa apertou o maxilar, com os punhos cerrados. Ela se virou com raiva para Aisha e disse:
- Não fique aliviada, nos veremos novamente.
Pinoua limpou as mãos em um lenço e seguiu o mesmo caminho que Kroll havia feito, deixando Aisha sozinha naquele salão. A jovem garota inspirou longamente, agradecendo pela solidão. Porém, esse alívio não durou muito. Sua própria cabeça começou a sabotá-la.
Timotthe e Asterope não estavam na casa de férias da família real. Onde eles estariam? Será que haviam fugido e abandonado ela? Será que Timotthe não sentia nada por ela, ao ponto de ter largado a jovem a própria sorte? Aisha tremeu na cadeira. Um medo e receio repentino bateram, porém ela afundou isso para dentro e inspirou mais forte, desejando que o ar silenciasse sua mente.
Seu coração batia tão alto que Aisha não conseguia ouvir mais nada. Mesmo quando guardas entraram na sala e a arrastaram para um dos quartos da mansão, Aisha apenas ouvia seu coração.
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Aisha - A Noiva do Lorde
Ficção HistóricaApós ser capturada protegendo Timotthe e Diana, Aisha está sendo feita prisioneira pela Baronesa Pinoua, enquanto seus amigos estão lutando para que a terrível mulher não domine Asteria para sempre. Do lado inimigo, Aisha vai ter que lidar com as ve...