Capítulo 15

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A noite se aproximava e Bianca Koria só pensava que desejava estar em qualquer lugar, menos naquele salão infestado de aristocratas corruptos.

Ela estava sentada ao lado do trono de Pinoua, que antes pertencia ao rei de Asteria e pai de Asterope. A jovem garota sempre se perguntou onde estava o tal governante. Sabia que ele estava sofrendo de uma doença, mas mesmo com a fuga da família real, ele não fora visto. O que era estranho, já que deveria ser complicado transportar um enfermo tão rapidamente. Mas ela não fazia suas perguntas em voz alta, aprendera cedo a se manter calada.

- O que está achando da festa? - perguntou a Baronesa, sentada ao seu lado.

A garota bebericou do suco em seu copo, antes de responder:

- Como todas as outras, Baronesa. Está fantástica.

Sua voz era baixa e sem vida, como fora treinada para ser. Percebera o pequeno V se formar na testa de Pinoua, porém continuou inexpressiva. Ela tinha apenas 9 anos, mas sabia perfeitamente como esconder seus sentimentos.

Bianca odiava aquele lugar na mesma medida que odiava seus pais. A corrupção impregnava as paredes e ninguém nem mesmo tentava esconder as atrocidades que aconteciam pelo palácio. A Rainha de Koria já presenciara mais de uma vez mulheres inconscientes e drogadas serem arrastadas para quartos por aristocratas bêbados e agressivos. Não se surpreendia de nunca mais vê-las. Porém, não podia dizer nada.

Seus pais abdicaram do trono para colocá-la em favor de cancelar os tratados com o império de Asteria, para que assim, pudessem se aliar a Pinoua sem problemas. E agora, sua mãe, Evangeline Koria, estava reunindo um exército para entrar no país.

Bianca ainda se lembrava das palavras da mulher, dizendo para que permanecesse impassível, fingindo ser aliada de Pinoua. Pois as verdadeiras intenções de Evangeline eram invadir Asteria em um momento de fraqueza e tomar o poder para si. Assim, a família Koria dominaria e unificaria os dois impérios sobre o brasão do império de Bianca.

A garota não protestara, sabendo o que aconteceria se o fizesse. Podia sentir as cicatrizes das algemas arranhando o tecido do vestido verde nos pulsos e nos tornozelos, vindas das punições que seus pais lhe davam.

Desde que Bianca tinha apenas 4 anos, qualquer erro seu era punido com longas horas acorrentada num quarto preparado por sua mãe, passando fome e sede durante dias. Sob o pretexto de que era para o seu bem.

Koria era um império majoritariamente matriarcal, de forma que seu pai, Mario Koria, mais parecia um escravo nas mãos de Evangeline do que um marido ou um pai. Bianca já estava acostumada com a cabeça abaixada e as palavras de obediência dele. Sua mãe sempre dizia que fazia aquilo para que Bianca se tornasse uma rainha poderosa, digna do império de Koria. Transformando a garota naquele poço de escuridão.

Bianca apoiou a cabeça na mão, com os cabelos castanhos escorrendo pelo seu ombro. Ela estava a perfeita imagem de uma rainha, porém seu corpo miúdo e magro demais demonstravam a idade real da menina. Mesmo que seus olhos fossem opacos e silenciosos.

Ela passou a língua nos lábios secos, bebendo mais do suco. Na realidade, a garota tinha vontade de devorar tudo com avidez e se empanturrar, porém tinha que se controlar. Ela não estava sob punição. Estava em uma corte estrangeira e tinha que se comportar. Sabia muito bem que Mario Koria, seu pai, estava ali apenas para vigiá-la e que qualquer erro seu seria reportado para sua mãe e transformado em horas acorrentada. Então, era melhor ficar quieta.

- Onde está a banda que estava tocando ontem? - Bianca perguntou.

- Eu os troquei. - Pinoua respondeu.

Aisha - A Noiva do LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora