Capítulo 7

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Aisha olhava os jardins do palácio pela janela de seu quarto, observando o tapete branco que se formava sobre as coisas.

Desde aquela primeira neve no seu aniversário, os dias vinham se tornando cada vez mais frios, e agora, até mesmo o chão se tornava branco com a chegada do inverno. O sol ainda lutava para aquecer as almas das pessoas, mas nada ganhava do frio que tomava conta.

Aisha estava encolhida dentro de um cobertor, tremendo de frio, mas se recusando a sair da janela. Ela estava sentada no parapeito, com o corpo virado para dentro. A corrente em seu pé estava esticada, impedindo que ela se movesse muito mais do que isso. Porém, Aisha precisava ver um pouco do lado de fora ou enlouqueceria.

Ela desejava conseguir ver as pequenas flores ou até mesmo os pássaros que pousavam ali de vez em quando, mas o inverno afastava todas aquelas pequenas coisas. Não que ele fosse ruim, mas o frio era ao mesmo tempo belo e letal.

A brancura do mundo refletia a luz e fazia tudo brilhar, porém brilho demais machucava os olhos. Não que Aisha se importasse. Preferia ficar ali tremendo de frio e sentindo o vento no rosto do que amarrada numa cadeira, sendo espancada por Pinoua.

Ela esfregou as mãos, soprando para que se aquecessem. Lambeu a boca, sentindo-a incrivelmente gelada, ao ponto de perder a cor. Seu nariz escorria e ela fungava de vez em quando, desejando que a lareira estivesse acesa. Assim o quarto não ficaria tão gelado e vazio.

Aisha ficou mais um tempo no parapeito, mas logo se levantou e caminhou com passos rápidos até a cama, os pés descalços entrando em contato com o chão gelado. Ela pulou sobre o colchão e se enrolou em mais lençóis, desejando que seu corpo se aquecesse mais rápido. Porém, ela não teve muita chance de ficar ali, pois uma batida na porta anunciou a chegada de alguém.

O trinco foi aberto e a porta rangeu, com uma silhueta se formando pelas luzes do corredor.

- Imaginei que estaria encolhida por conta do frio, mas é mais patético ver isso pessoalmente. - uma voz grave disse e Aisha imediatamente congelou.

O Carniceiro de Kroll estava ali. O que ele estava fazendo ali? Viera buscá-la? Iria torturá-la, enfim? 

O desespero tomou conta do corpo de Aisha, mas ela continuou imóvel, apenas olhando para o homem que se assomava na porta de seu quarto. Ele sorria sadicamente, com a cabeça raspada inclinada para o lado.

- Ninguém fez o favor de acender minha lareira, então a culpa não é minha. - Aisha retrucou.

Kroll gargalhou, a cicatriz se retorcendo.

- Sorte que eu vim lhe visitar, senão poderia ter morrido de hipotermia. - ele se aproximou e Aisha encolheu. - E isso não seria nada divertido.

O Carniceiro chegou perto e a jovem tentou se afastar, porém seu corpo estava travado pelo frio, de forma que não foi difícil para que ele a segurasse e desembrulhasse dos cobertores. Aisha sentiu o vento gélido passar por seu corpo e bateu os dentes, tremendo.

- Estou com frio, sabe. - ela disse, se perguntando de onde vinha tanta coragem para falar assim com o Carniceiro de Kroll. - Poderia pelo menos me deixar embrulhar no cobertor invés de me fazer andar pelos corredores assim.

O Carniceiro gargalhou.

- Realmente, mas o lugar para onde vamos é quentinho, então não se preocupe. - ele disse, sorrindo de uma forma que não confortou nada Aisha.

A jovem estremeceu quando seus pés tocaram o chão frio, mas por algum motivo estranho, agradeceu que pelo menos a mão de Kroll estava quente. Ele a arrastou pelos corredores, andando com passos largos e pouco se importando que ela tivesse dificuldade de acompanhar.

Aisha - A Noiva do LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora