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                                      Fabrini ⚔️

Hoje era mais um daqueles dias em que eu simplesmente só pensava em fumar, fumar, fumar. Bolei um fininho daquele jeitão e traguei fundo, sentindo a onda batendo de um jeito sinistro.

Deitei na cama onde nem tinha dormido, passei a noite inteira só pensando em uns bagulho que tava estranhando aqui na favela. É foda confiar em alguém desconfiando, não que eu confie em alguém aqui, até porque em qualquer oportunidade que alguém tiver pra subornar com dinheiro e poder, os cara não vão pensar duas vezes antes de mudar de lado. Tava lombradão já, os olhos vermelhos e dando risada do nada olhando pro teto quando escutei a campainha tocando. Minha vontade era de nem atender, tava mó de boa aqui, tá ligado? mas eu morava sozinho então não tinha outra opção a não ser ir ver quem tava enchendo meu saco em plena oito horas da manhã.
Sai do quarto andando bem devagar mermo, a droga tava fazendo efeito, a ressaca da bebida de ontem tava batendo e não tinha comido ou tomado nada descente. Desci as escadas e passei pela sala indo em direção a porta, xingando alto quando a campainha não parava de tocar.
Abri a porta já puto, dando de cara com o Matheus que estava parado na porta com as mãos nos bolsos, me olhando com uma cara risonha.

— Pra que essa agressividade toda uma hora dessa, meu mano? — ele riu e eu me afastei da porta voltando pra sala e me jogando no sofá. — Bom dia — ele disse, fechando a porta e entrando, sentando na poltrona que tinha ali.

— Bom dia o caralho — eu disse, tampando o rosto com o braço, sentindo a dor de cabeça bater e meu estômago doendo de fome. — tá fazendo o que aqui uma hora dessa? — olhei pra ele

— Nada, só vim ver como tu tava, bebeu bastante antes de ir pra casa ontem — apoiou os cotovelos no joelho e me encarou — Tu vai viver assim até quando? se isolando de todo mundo — eu respirei fundo, já farto das coisas que ele ia falar porque não seria a primeira vez — A Melissa vai voltar pra cá hoje — mudou de assunto e eu encarei o teto, não sabendo o que falar.

Eu tava ligado que ela ia voltar hoje, escutei algumas pessoas falando sobre isso e até alguns caras elogiando ela dizendo que ela tinha mudado pra caralho e "uma nova carne tava chegando no pedaço". Eu fiquei puto quando escutei isso, por que apesar de tudo, ela significa muito pra mim e escutar um bando de filho da puta falando isso dela era revoltante demais.
Só que eu não sabia qual seria minha reação se eu trombasse com ela por aí porque apesar de tudo que a gente viveu, a mágoa falava mais alto e eu não tava disposto a fingir que nada aconteceu depois de todos esses anos, tá ligado?

— Eu tô ligado — falei depois de muitos minutos em silêncio. Me levantei e fui pra cozinha procurar alguma coisa pra comer.

— Eu tô vazando, ela deve tá quase chegando e eu marquei com a Lari de encontrar com ela — disse vindo atrás de mim e olhando em volta, logo após se afastando e indo em direção a porta — Fica bem, mano — ele disse, abriu a porta e saiu.

Respirei fundo e comecei a comer um pão que eu achei e bebi com água mermo. A vontade de ir ver ela tava martelando na minha cabeça mas logo tirei isso da mente e fui tomar um banho pra depois ir pra boca resolver umas paradas lá, já que ninguém consegue fazer nada sem mim.

                                     ~~~x~~~

— Eai, neguin— entrei na boca, vendo os cara arrumando algumas coisas a todo vapor — Tudo certo aqui? — perguntei me aproximando e olhando ao redor.

— Fala tu, chefe! tudo de marola e nos controles — disse me olhando e concordando com a cabeça. — Ótimo! — disse me certificando que estava tudo bem e saindo de lá.

O sol tava quente pra caralho, e ainda era três da tarde então ia demorar pra ficar mais fresco. Me escorei na parede do lado de fora e peguei um cigarro, logo acendendo e começando a fumar, observando o movimento.
Quando observei bem, vi um movimento perto de um barzinho que tinha aqui perto. Reparei que a dona Marta tava descendo sozinha, mas logo atrás dela, eu vi a Larissa e do lado dela a Melissa.
Simplesmente não consegui desviar o olhar, meu coração começou a acelerar e sem querer deixei o cigarro cair no chão, logo desviei o olhar apagando a bituca com o pé e ficando nervoso conforme via elas se aproximando.

A Melissa tava tão linda! ela sempre foi linda mas com o tempo ela se superou, mano! e parece que ela continua pequenininha.

Dei um sorriso ladino com esse pensamento e percebi que a dona Marta tinha notado minha presença, logo me chamando e se aproximando de mim.

— Fabrini?! — ela se aproximou e levantei a cabeça, vendo pela visão periférica que a Larissa e a Melissa estavam mais atrás paradas olhando. — Menino quanto tempo! faz umas semanas que eu não te vejo, como tu tá? — me abraçou e fiquei sem jeito, retribuindo o abraço meio desajeitado logo me afastando e coçando a cabeça.

— Eai, dona Marta — eu disse, lhe oferecendo um sorriso fechado — tudo na paz? — perguntei

— Graças a Deus, sim! — olhou para trás, sentindo falta das meninas do lado dela. — Meninas, cheguem pra cá! — disse, chamando elas com a mão e esperando que elas se aproximassem.

Assim que elas se aproximaram, olhei pra melissa e ela olhou pra mim. Encarei o fundo dos olhos dela, percebendo que ela ainda carregava o mesmo olhar que tinha quando éramos próximos. Não sabia o que tava passando na mente dela nesse momento mas pela falta de palavras dos dois, já dizia muita coisa.

Desviei o olhar, olhando pra Larissa, vendo ela com um sorriso no rosto e logo cumprimentei as duas— Eai tudo na paz? — perguntei vasto, logo olhando pra dentro da boca e achando um meio de escape pra sair dali logo. — Preciso vazar agora, os cara tão precisando de mim — apontei pra dentro da sala e acenando com a cabeça, me afastando de costas e entrando logo em seguida.

Me escorei na parede do lado de dentro, respirando fundo e perdendo que sim, eu tava muito fodido com a volta da Melissa. Só ela conseguia me deixar assim, mesmo depois de tanto tempo e isso era perigoso demais.

𝐑𝐢𝐬𝐜𝐨 𝐌𝐚𝐥𝐚𝐧𝐝𝐫𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora