Passei as primeiras semanas de janeiro tentando inutilmente terminar de assistir a ridiculamente longa lista de filmes por mim gravados na tevê a cabo (poucas coisas trazendo-me mais satisfação, desde que caí nesse adorável vício, do que adicionar novos títulos a ela — e ao mesmo tempo frustração por não ser capaz de zerá-la uma vez por todas).
Após aquela tarde de domingo maratonando minha série favorita junto de Tina, duas semanas se passaram sem que ela voltasse a dar as caras, e eu, consciente da criatura maligna estraga-prazeres com quem certamente me depararia em sua casa, tampouco ousaria visitá-la.
Em quase todo início de ano, alguns dos parentes de Tina, que vivem em outra cidade, vão passar algumas semanas em sua casa, tornando minha amiga menos disponível durante esse tempo. Sua prima Joana, a quem fui apresentada três anos atrás, sendo o verdadeiro motivo para eu evitar até a mesmo a rua de Tina enquanto sua estadia ali durasse.
Permita-me desanuviar sua visão do tipo de criatura a qual me refiro; o efeito psicológico de estar numa conversa com a dita cuja podendo ser perfeitamente comparado ao modo como uma jiboia ataca sua presa: envolta por cada uma de suas críticas, orquestradas com a sutileza da caminhada de um felino, vou sendo lentamente esmagada... creck ... creck... creck (som dos ossos do meu ego partindo-se a cada nova ofença de Joana)...
Por essas e outras, a única coisa que poderia me animar então era a estreia do filme da série "Alienuts" (lançado no Brasil com o péssimo título "Aliens Muito Loucos"), uma produção que, pela impopularidade da série, chocou tanto quanto empolgou a mim, assim como acredito que a todos os seus pobres fãs solitários espalhados pelo globo, desde que descobri estar em desenvolvimento. Assim que tal data chegou, às 14 horas eu já aguardava Tina no ponto de ônibus mais perto de casa. Não demorou muito tempo para eu evar um micro susto ao ouvir o irritante toque do meu celular "das antigas", afinal, desde que Valéria o passou a mim, ele só havia tocado duas vezes — as únicas pessoas que tinham meu número sendo justamente Tina e Valéria. Ao ver na pequena tela o número de Tina, atendi a ligação já esperando pelo pior, sem, no entanto, desconfiar que o que eu estava prestes a descobrir superaria todos os meus piores pressentimentos quanto às eventualidades que poderiam impedir nosso passeio, os quais, tal como foguetes rasgaram caminho em minha mente no átimo que levei para atender àquela chamada.
Descobri que aquele telefonema foi o único modo que Tina encontrou para, na última hora, deixar-me a par quanto a soma de um novo elemento em nossa saída: ninguém mais, ninguém menos do que a própria JOANA. Se isso não parece tão ruim pra você, é porque teve a grande sorte de nunca ter sido solicitado a olhar para a quadrada cara daquela garota (um perfeito par junto de sua personalidade retrógrada), assim como para seu cabelo duro e seco, como cabelo velho de boneca, só que num tom natural de de loiro-escuro, e para seu aparelho dental de borrachas alaranjadas...
No dia em que a conheci, o pouco tempo que passamos juntas foi o suficiente para eu formar uma primeira impressão nada favorável a seu respeito. Sabe o tipo de pessoa que trata todos ao seu redor como criancinhas de três anos de idade? O tipo de pessoa na qual as pontas das sobrancelhas no centro da testa estão sempre meio curvadas para cima como se fossem incapazes de relaxar em sua posição natural... Pois Joana era assim. Só de lembrar do seu olhar presumido e de sua voz, sempre a destilar um venenoso tom de sarcasmo, superioridade e condescendência, sinto calafrios!
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Alienada
ChickLit(*Tem trailer no capítulo de introdução!!) Aline é uma garota sensível, ansiosa e cheia de ideias a compartilhar, porém frequentemente subestimada por todos por causa da sua timidez. Em seu último ano no ensino médio, quando sua única amiga se muda...