CAPÍTULO 11 Hora do chá com o camaleão

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O mês de abril começou prometendo paz e tranquilidade, e bem como acontece em tempos de paz e tranquilidade, apatia, tédio e desânimo, além de todos os outros sintomas do meu sedentarismo, como dor de cabeça e moleza no corpo, dominavam-me por com...

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O mês de abril começou prometendo paz e tranquilidade, e bem como acontece em tempos de paz e tranquilidade, apatia, tédio e desânimo, além de todos os outros sintomas do meu sedentarismo, como dor de cabeça e moleza no corpo, dominavam-me por completo.

Vivia no piloto automático, estando então, um pouco mais conformada com o novo recorde do nível de chatice que, não surpreendentemente, mais uma vez a minha realidade batia com maestria.

Pela primeira vez no ano, as coisas estavam bastante zen. Em casa meu pai parecia mais conformado com seu novo trabalho ajudando o vô Luís com as reformas em sua nova casa. Na escola, eu seguia ignorando a todos ao manter a minha cabeça afundada num velho livro de poesia, o qual eu, por pura culpa de minha total incompetência em manter a concentração, quando encontro-me em meio ao absoluto caos, apenas fingia ler, e além de uma das ex-namoradas do tio Júlio fazer um escândalo ao aparecer em casa no meio da madrugada, despertando a todos com os seus gritos até que o Júlio saísse para falar com ela[5], nada mais de tão "empolgante" me surpreendera então.


[5]Resultando numa discussão entre os dois no meio da rua, a qual terminou com a pobre moça, não correspondida em sua expectativa (ou insanidade) romântica, arremessando o seu novo e caríssimo celular no muro de casa, conseguindo a façanha de quebrá-lo de maneira irreparável. Levando o tio Júlio a dormir as noites seguintes na casa da sua mais nova namorada (a facilidade com a qual o tio Júlio as troca, sendo a melhor prova da lamentável realidade do quanto a "Clichêlandia" é superpovoada por mulheres com o pior tipo de gosto para homens).


Já no final desse mesmo mês, numa tarde de sábado, um caminhão de mudança estacionou bem em frente à casa do outro lado da rua, e eu, que nem mesmo havia notado que tal casa estava à venda, mal pude acreditar na sorte que tive pelo vô Luís não tê-la comprado antes. Deveria, no entanto, ter esperado um pouco mais antes de depositar a menor quantia de fé na minha própria sorte, desviando assim o poderoso golpe da decepção que me abateu ao descobrir quem seriam os meus novos vizinhos.

Saindo de um carro mais adiante, pude ver Pedro, o professor de Educação física, juntamente de um adolescente que julguei ser seu filho.

A partir desse dia, passei a sair de casa disfarçada (usava um velho boné de Júlio, os óculos escuros da Valéria e uma camiseta xadrez do Paulo), afinal, ninguém é obrigado a ficar cumprimentando o seu professor menos favorito todo maldito santo dia. Tá certo, essa não é uma explicação muito boa para a minha atitude... Acho que eu só estava um pouco receosa de que se o professor Pedro soubesse que sou sua vizinha, ele passaria a pegar ainda mais no meu pé nas suas aulas e... OK! Essa explicação também não faz sentido!

Certo! Eu não sei bem o porquê, mas o fato é que eu estava fazendo de tudo para evitá-lo e não demorou muito para este meu estranho comportamento ser notado justamente pela única pessoa que saberia tirar algum proveito disso.

AlienadaOnde histórias criam vida. Descubra agora