Como reconhecer a veracidade de uma amizade? Para mim, sua prova mais real é encontrar aquela pessoa que ri comigo de coisas que eu nunca acharia graça caso estivesse sozinha; e por que é tão difícil para alguns de nós encontrar amigos de verdade? Não sei quanto aos outros, mas, no meu caso, as pessoas simplesmente parecem não desejar a minha amizade, tudo o que elas querem é encontrar a primeira oportunidade para rir e zoar COM A MINHA CARA!
Na semana que seguiu o meu aniversário, vô Luís foi o único na minha família a notar o meu astral estando mais baixo do que de costume. Perguntou-me como iam as coisas.
"Tirando o fato de eu não ter amigos, receber olhares de desprezo de algumas garotas que ainda não me perdoaram só porque fiz o seu time perder e descobrir recentemente que até os meus professores repararam no quão patética eu sou, está tudo ótimo!", respondi.
"Oh, mas isso é mesmo ótimo Aline!", bradou vô Luís a sorrir. "Lembre-se: é nos momentos em que está cercada por inimigos que você tem a chance de ser a sua melhor amiga!"
Fiz um esforço hercúleo para controlar o meu ímpeto de revirar os olhos (é como mostro o meu respeito aos mais velhos). No estado de espírito em que eu me achava, não fui capaz de absorver a sabedoria em tais palavras as quais soaram tão cinicamente aos meus adormecidos ouvidos.
Passados meses de corroída solidão, eu forçava-me a reconsiderar os meus refinados padrões quanto à casta de jovens que admitiria como companhia. Logo detectei duas garotas na minha turma com um comportamento razoavelmente aceitável: Bianca e Luana. O único obstáculo à minha frente eram ambas já fazerem dupla com outras garotas as quais, eu nunca, sob qualquer circunstância, JAMAIS me submeteria a forçar a menor interação.
Bianca andava com Gabi, que, sendo filha de pais religiosos, mantinha seu belo cabelo ruivo acobreado longo até a cintura e só vestia saias compridas e blusas com mangas ("alcinhas diabólicas" jamais!); dona de uma personalidade um bocado peculiar, num mix de simplicidade e extroversão, agia como se vivesse num mundo mágico onde unicórnios arrotam arco-íris, sem hesitar em sair abraçando outras alunas, sempre de um modo meigo e infantil que, por vezes, beirava a insanidade.
Bianca, por sua vez, era o seu total oposto, séria e quieta, com um ar intelectual.
Minha segunda amiga em potencial era a Luana com sua "vibe" tranquila e simpática. Depois de mim, era ela quem fazia os mais interessantes trabalhos de Artes em nossa turma.
Infelizmente, Irene, a garota com quem a Luana sempre estava, destacava-se em sua repelência, não devida à sua voz fanha e aguda, mas à sua atitude extravagante e convencida, constantemente referindo-se ao "assunto proibido" (garotos!). Num determinado dia não pude deixar de ouvi-la discorrer sobre "tipos de celulite"... Será preciso dizer mais alguma coisa?
Confundia-me o quão bem essas duas duplinhas pareciam se entender me levando a cogitar a possibilidade de apenas fingirem tal afinidade, assim como eu, relutantes à ideia de passarem sozinhas seu último ano na escola. Então lembrei de minha amizade com a Tina, questionando-me se, no passado, também éramos vistas como sendo tão incrivelmente incompatíveis.
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Alienada
Chick-Lit(*Tem trailer no capítulo de introdução!!) Aline é uma garota sensível, ansiosa e cheia de ideias a compartilhar, porém frequentemente subestimada por todos por causa da sua timidez. Em seu último ano no ensino médio, quando sua única amiga se muda...