CAPÍTULO 3 O primeiro contato

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Permita-me revelar um pequeno segredo. Não é nenhum podre! No máximo um comportamento um pouquinho fora do comum. A menos que considere ter um amigo imaginário aos dezessete anos de idade a coisa mais normal do mundo... Te peguei! Deve ter imaginado que eu estava prestes a revelar algum tipo de segredo muito sério, dramático, e perturbador... Não imaginou, não? Ótimo! Pode seguir mantendo as suas expectativas bem baixas. Continuando; já desde os meus dez anos de idade eu, de fato, venho mantendo contato com um ser alienígena imaginário. Não, essa parte não foi brincadeira. Mas não se preocupe, não é como se eu separasse uma cadeira ao meu lado sempre que sento à mesa para almoçar ou saísse falando sozinha pelas ruas. Tudo o que posso dizer a respeito é que acho preferível me contentar com os limites de meus diálogos internos a ter que me aventurar a interagir com certos humanos, por vezes, mais irreais, falsos e infinitamente previsíveis do que um ser criado pela minha própria consciência.

Quando se é jovem e alienado, no sentido de alheio à própria realidade, a consequência natural a isso, ou seja, o plano B de sobrevivência de um cérebro ao constatar sua irrevogável incompatibilidade com os cérebros dos adolescentes de seu convívio, é a criação de amigos imaginários e até mesmo de toda uma vida imaginária. Sem esse tipo de fuga da realidade não restaria sanidade viva em minha mente para contar história, e sou mais do que grata por tê-la encontrado antes que a luz da razão enfim me abandonasse por toda a eternidade de uma existência misantropa. (Se bem que contando que nenhum dos meus planos migratórios funcione como tenho imaginado, e considerando a total inexistência de hospitais psiquiátricos perto da minha "little city", enlouquecer pode acabar vindo a calhar sendo minha última chance de deixar minha cidade natal...)

Sete anos se passaram desde que o Alien, meu amigo imaginário, e eu nos "conhecemos". Com apenas dez anos de idade eu começava o meu primeiro ano numa escola totalmente nova. Tendo estudado até então, desde os meus três anos de idade, no mesmo lugar convivendo todo esse tempo praticamente com as mesmas "pestes", era de se esperar que tivéssemos criado laços quase familiares, e, pelo que eu lembro, assim foi, de modo que, apesar de, dentre todos, eu ser a irmã mais isolada da "família", deixá-los surtiu seu efeito traumático em mim.

Lidar com o novo nunca foi o meu forte. Lembro-me de Valéria ter comentado uma vez sobre o drama que eu costumava fazer em minha primeira infância cada vez que ela me levava para comprar roupas novas. Eu era sempre a única criança na loja a chorar. Recusava-me a vestir qualquer peça que ela escolhesse enquanto gritava e esperneava afirmando aquelas roupas não eram minhas... Se apenas roupas novas já me deixavam tão desconfortável aos quatro anos de idade, imagine o quão aterrorizante a ideia de uma nova escola não deve ter me soado aos dez.

O novo colégio ser o único mais próximo de casa com aulas para turmas dos últimos anos do ensino fundamental – assim como todos os do ensino médio – foi o que bastou para Valéria garantir minha matrícula ali. Já tratar-se de um intimidante prédio de três andares abrigado num terreno suficientemente grande para que, além de uma enorme quadra e dois campinhos, ainda restasse espaço de sobra para um largo pátio calçado por pedras de concreto e – tanto ao redor quanto entre os corredores dentro do prédio – lugares ocultos por todos os cantos como se toda a construção tivesse sido planejada com a perversa intenção de agradar as más intenções de certos alunos mais conhecidos como "valentões", entretanto, não pareceu constar como prioridade em sua lista de requesitos para o lugar onde seria mais seguro abandonar sua "tão querida" filhinha.

AlienadaOnde histórias criam vida. Descubra agora