CAPÍTULO 7 Difícil despedida... Boas vindas piores ainda!

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No vasto dicionário de minha amizade com a Tina a palavra "briga" jamais poderia ser aplicada, se não entre aspas

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No vasto dicionário de minha amizade com a Tina a palavra "briga" jamais poderia ser aplicada, se não entre aspas. De fato a nossa última "briga" foi, de longe, o pior desentendimento que já tivemos, conseguindo superar o dia em que Tina deixou, sem querer, uma mancha de fundo de copo numa das minhas melhores ilustrações... Mesmo assim, bem no fundo do meu gelado coração, não restava o menor floco de neve de dúvida, o prolongado estado de choque psíquico que experimentávamos, perante a nossa impotência em controlar os nossos próprios destinos, era o verdadeiro responsável por não nos reconciliarmos pelos dias que se seguiram.

Passaram-se três dias antes que a Tina estendesse sua bandeira branca ao enviar-me uma mensagem de texto, o que bastou para que passássemos as tardes que nos restavam juntas, como de costume, acomodadas no velho sofá de casa. Ao final de seu último dia na cidade, mal tínhamos trocado uma dúzia de palavras, enquanto assistíamos à tevê sintonizada num canal qualquer. Quando ouvi Lucas, o irmão de Tina, que passara aquela tarde na rua jogando bola, chamando-a do portão; era hora de dizer "tchau".

Em frente ao portão de casa, pude ver seus olhos vermelhos e inchados, e Tina nem precisou explicar que o garoto também estava inconformado por deixar a sua turminha de amigos. Por um instante, senti minha empatia pela dor de Lucas substituir a minha própria, mas antes que tal sentimento pudesse se concluir, a ratazana da ansiedade já voltara a roer novos buracos pelo meu cerne adentro. Senti uma ardência em meus olhos ameaçar o embaraçoso efeito fisiológico que estava por vir, quando um estalo fez a minha bochecha esquerda começar a queimar.

"AAAAAAAUUUU! Mas o que...", comecei meu protesto ao tapa de Tina dividida entre sentir-me idiota ou rir da patética cena que acabara de vivenciar.

"Não ouse chorar! Estou partindo, não morrendo."

Levar uma bofetada de sua melhor amiga sabendo que esta teve a melhor das intenções, é ou não é o nível mais elevado de amizade que duas pessoas podem atingir?!

Vi Tina montar sua bicicleta e o Lucas acomodar-se na garupa.

"Se por acaso não nos virmos... bom dia, boa tarde e boa noite!", disse ela.

Não pude evitar um automático sorriso ao identificar a fala de Jim Carrey no filme "O Show de Truman", um dos nossos favoritos, citada num propositalmente tosco tom melodramático pela minha tão querida amiga que, em sua infinita sensibilidade, prestou-se em aludir de modo a diminuir um pouquinho que fosse a tristeza de tal momento. Um belo ato de fato que, no entanto, só conseguiu obscurecer em alguns tons a melancólica sombra sob a qual sua partida deixava-me esquecida, acompanhada apenas pela certeza das ínfimas possibilidades futuras de eu encontrar alguém com um caráter que chegasse ao dedo mindinho do de Tina para sobreviver comigo ao tédio que por certo também já me aguardava sem grandes expectativas em meu último ano de juventude ajuizada.

"Vê se não some!", eu disse.

"Sumir, eu? Brilho demais pra isso!", ela respondeu ironicamente e me deixou.

AlienadaOnde histórias criam vida. Descubra agora