CAPÍTULO XIV - Perigos da mata

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Pego meu vestido do chão e tento voltar, o problema é que eu havia saído da trilha e agora não fazia idéia de como tinha chegado aqui.

A brisa fria do entardecer se choca com minhas roupas molhadas me fazendo arrepiar de frio. Enrolo o vestido sobre os ombros e começo a analisar qual caminho irá me levar de volta à trilha. Neste momento outro barulho de folhas secas, me desperta, e meu sexto sentido me diz que tenho que me achar o mais rápido possível.

A noite não havia chegado ainda, mas ao alto no crepúsculo uma Lua enorme apontava sobre minha cabeça, eu precisava me achar, logo a noite chegaria.

Ando depressa na direção norte, ao qual lembrava brevemente de ter passado, mas não me levou a lado nenhum. Começo a retornar a cachoeira, mas o seu chiado já está tão longe que não consigo identificar sua direção.

Me arrependo da minha rebeldia de mais cedo, não devia ter saído do caminho.

A fome aparece, mas meu estômago embrulha com o nervosismo, precisava me acalmar ou não sairia dali nunca. - Afinal o que poderia acontecer comigo? Dreik tem as patrulhas montadas, nada chegará às redondezas do reino sem que ele fique sabendo. - Isto me tranqüiliza um pouco, mas quando a noite chega, e a mata fica escura e silenciosa, meus temores retornam com força total.

Outro barulho, pegadas, ou passos. Deve ser os homens de Dreik que vieram procurar por mim. Vou me aproximando cada vez mais dos passos.

- Dreik? - Chamo quase num sussurro, em dúvida se queria mesmo que o dono dos passos me ouvisse. Então um rosnado brutal e aterrorizante, faz com que eu me arrependa por ter chamado.

Estou congelada no lugar, simplesmente vidrada na criatura a minha frente. Jamais pensei que algo como isto pudesse existir. Uma fera enorme, com a estatura de um tigre, porém maior, sua pele aparentava ser pegajosa e preta, sua cabeça redonda com três olhos totalmente pretos e uma boca grande e redonda, com dentes minúsculos e finos, que juntavam lado a lado em espiral por sua boca adentro. Uma baba escorria por ela. Suas patas eram enormes e suas garras compridas me alertaram que para alguma coisa serviam.

Tento fazer um movimento para trás, mas ele rosna e um mau cheiro chega a mim, podridão, carniça.

Hora de correr.

Como se tivesse despertado de um transe, me viro e começo uma corrida, e a fera com imenso estrondo me segue mata adentro.

Nunca corri tanto em minha vida, pulo sobre um barranco e caio rolando ribanceira abaixo. Levanto rapidamente e continuo sem olhar para trás, porém os barulhos que aquele bicho fazia me diziam que ele estava ficando sem paciência. As únicas coisas que consegui pensar foram.

1 - Será que eu vou morrer?

2 - Eu acho que eu vou morrer!

3 - Tomara que seja rápido.

Mas eu não desistia, corria sempre atenta a um lugar do qual poderia escapar.

Encontro uma ponte velha de madeira que passa por cima de um pequeno riacho, meu vestido que estava sobre meus ombros, tranca no parapeito de madeira quebrada e sem pensar duas vezes o largo ali mesmo, continuando minha sina. Não muito longe vejo uma fenda entre duas rochas, não sei se é uma caverna, não sei o que vou encontrar ali dentro, mas com certeza não será tão ruim quanto a este bicho.

Um tronco caído dificulta a passagem, mas reúno minhas forças e consigo liberar a entrada. Porém quando estou quase dentro, quase entre a fenda, sinto um ardor forte em minhas costas, minha carne havia sido rasgada. Concentro-me em passar e finalmente atravesso.

O esconderijo não era grande, duas pessoas não caberiam naquele local, me encolho o mais longe que consigo da fenda, mas a Fera parece não querer desistir e suas garras batem nas pedras conseguindo passar um pouco ao lado de dentro, o que me apavorou mais ainda. Mas eu não tinha escolha, esperaria ali para viver ou morrer.

GRIMM A MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora