Capítulo 20

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SEBASTIAN WERDEN

Coloco minha mala em cima da cama e começo a retirar as armas que trouxe comigo. Eu deveria estar nas acomodações da segurança, mas Fagner disse que não seria uma boa ideia descansar por lá com homens entrando e saindo o tempo todo. Dormir na casa me permite descansar entre as rondas e cochilar um pouco durante o dia.

Eu me mantive longe dos quartos principais, estou em um quarto para empregados que, definitivamente, não deixa a desejar. Não é um palacete como os quartos principais, mas é muito confortável. Uma cama de solteiro, banheiro privativo, roupeiro e até uma pequena escrivaninha.

Deixo toda a aparelhagem em cima da cama para que eu possa contabilizar novamente. Priorizei trazer armamento de pequeno porte, foi doloroso deixar minhas submetralhadoras em casa, mas tendo apenas a ideia de ameaça e não um prelúdio de fato, não há necessidade de tanto. Além disso, minhas pistolas são perfeitamente capazes de resolver um problema por serem menores, mais leves e de manejo mais fácil.

Não há nada que uma Glock, uma Taurus ou uma Magnum não resolva.

Contabilizo também os carregadores e a quantidade de projéteis dispoíveis. É essencial ter uma margem de segurança para tiros e não somente desperdiçar munição. Gasto exagerado de protéjeis durante um confronto, atirando para o nada, sugere despreparo.

Leves batidas na porta despertam a minha atenção. Pensando ser Fagner retornando para debatermos mais alguns detalhes de segurança, dou rápidas passadas até a porta, apenas para encontrar Lara. Um sorriso tímido cresce em seu rosto quando ela me olha. O laço em seu cabelo hoje é verde, assim como o suéter de tricot que está usando. O tom mais escuro de sua roupa destaca ainda mais seus olhos.

— Minha avó te enviou seus cumprimentos.

— Sua avó? — Arqueio uma sobrancelha.

— Hum... sim. Ela foi embora agora.

— Eu agradeço os cumprimentos. — Olho para ela por um instante e depois para dentro do quarto. É uma péssima ideia, eu tenho certeza disso. Fagner pode aparecer a qualquer momento e encontrar a filha do chefe no meu quarto seria uma merda. — Gostaria de entrar?

Uma péssima ideia e mesmo assim estou acatando-a.

— Sim. Obrigada! — Lara entra no quarto se contorcendo para passar entre eu e a porta, o que a fez se esfregar em mim. Sou cordial, mas não inocente. Uma oportunidade é uma oportunidade. — Pretende transformar a casa em uma loja de armas?

— Não. — Dou-lhe um meio sorriso ao fechar a porta. — É apenas o básico para emergências.

— Qual a necessidade de trazer tantas armas para cá? — Agora é ela quem arqueia a sobrancelha, seus olhos brilhando em atrevimento.

— Uma mudança temporária. — Cruzo meus braços e me apoio em uma parede. — Ordens superiores.

— E eu pensando que você seria meu cavaleiro protetor. — Balança a cabeça em negação, um sorriso brincalhão em seu rosto.

— Eu não tenho dotes de realeza, princesa. Faço o que preciso fazer.

— Está certo. — Passa o dedo pela escrivaninha do quarto, desenhando descoordenadamente. — Eu gostaria de fazer uma pergunta.

— Eu estou ouvindo.

— Certo. — Respira fundo e se senta na cama, brincando nervosamente com um dos meus carregadores. — Você tem medo do meu pai? É uma pergunta boba, eu sei, mas...

— Não. Eu não tenho medo do seu pai ou do seu tio, eu os respeito e sou grato por tudo o que fizeram por mim. Sou o Executor deles porque gosto do trabalho, não por medo deles.

— Não tem medo do que meu pai pode fazer se descobrir o que está acontecendo entre nós?

— Sinceramente? Não. Ele ficará bravo, é claro, talvez queira me bater e na pior das hipóteses eu perderia o meu cargo, mas isso é tudo.

— Não pensa que pode haver outro tipo de punição?

— Como o que? Casamento? — Uma risada mais irônica do que eu pretendia me escapa. — Eu não sou da realeza, princesa.

— Você vem de uma família de Koordinators, tecnicamente você também é da realeza. — O sorriso em seu rosto é provocador.

— Não mais. Perdi qualquer título e herança na noite em que matei meu pai. Seu pai provavelmente a casará com algum subordinado que cuide bem de sua princesinha.

— Você é um subordinado. — Lara fala e pela maneira como seus olhos arregalam, suponho que ela não pensou antes de deixar as palavras escaparem.

— Você é uma mulher especial, Lara, mas o que temos é passageiro. Eu não pretendo me casar ou ter qualquer relação com a família Brachmann além do meu trabalho. Eu funciono melhor sozinho.

Eu soube que havia feito merda no instante em que sua feição se entristeceu. Gosto dela, gosto muito, mas não posso enchê-la de promessas que não posso cumprir. Assim, como não seria justo alimentar esperanças que podem magoá-la no futuro, um futuro próximo.

Sempre fui sozinho, depois do meu julgamento aprendi a cuidar de mim mesmo nas ruas e tenho vivido sem companhia. Meu ramo de trabalho exige certos tipos de hábitos que não são os melhores para se criar uma família, sem mencionar o número de viagens.

O que diabos eu faria com uma família?

Os Brachmann me deram perdão perante a Organização, me permitiram continuar vivo, mas ser um deles? Eu não fui feito para eventos chiques ou para representar a liderança. Eu atuo no caos, nas sombras, causando medo e levando a destruição.

Me casar com Lara Brachmann soa como uma fantasia, um sonho irreal que nunca se concretizaria.

— Você funciona melhor sozinho. — Lara repete quase em transe, levantando-se da cama. — Tudo bem. Eu entendo. O que temos é passageiro. É melhor em encerremos aqui. Meu pai pode descobrir e não quero que ele o obrigue a se casar. Isso seria trágico, não é?

— Princesa. — Me afasto da parede e dou um passo em sua direção, a mágoa em seu rosto me causa dor no peito. 

— Não! É melhor eu ir, não queremos motivos para escândalos. — Ela passa por mim e alcança a porta. — Eu tenho trabalho a fazer.

— Lara.

— Eu estou apaixonada por você, Sebastian! Você não pensa em compromisso e eu não posso obrigá-lo a estar em um relacionamento sério. Está tudo bem.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Onde histórias criam vida. Descubra agora