Capítulo 27

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LARA BRACHMANN

Escolho uma camisola lilás para vestir, sentindo os olhos de Sebastian me percorrerem enquanto me ocupo com o tecido de seda. Por mais que ele tenha dito não se importar com a questão da castidade, quase posso ver as engrenagens girando em sua cabeça. Quem não ficaria tentado diante de um mistério como esse?

Estou constantemente cercada por seguranças, minha família é perigosa e eu saio pouco de casa. Como me tornei inapropriada segundo as regras dos italianos, a quem tia Melissa tanto admira e se esforça para manter como base em sua casa?

— Você está muito pensativo. — Me sento em minha cadeira acolchoada diante de minha penteadeira para retirar a minha maquiagem ou o que restou dela.

— Eu não costumo falar muito.

— Você costuma interagir mais quando estamos juntos. — Observo Sebastian através do reflexo no espelho. Não me passou despercebido que ele preferiu se manter de pé, em posição de guarda, a tomar a liberdade de se sentar em minha cama ou na poltrona. — Está arrependido?

Luto para não deixar meus sentimentos transparecerem em minhas feições. Fazer essa pergunta me causou um aperto no peito. Não sei como reagiria a uma rejeição depois de tudo o que aconteceu. Sebastian não é um homem qualquer com quem tive um envolvimento passageiro, meu interesse por ele é genuíno.

— Estou pensando em como falarei com o seu pai.

— Se planeja falar com ele por se sentir obrigado depois do nosso envolvimento, saiba que não há necessidade. — Minhas palavras soaram ácidas.

— Não me sinto obrigado. Quero que todos saibam que você é minha.

Olho para ele por cima do meu ombro.

— Apenas eu pertenço a alguém?

— Você é minha. Eu sou seu. Isso é tudo.

Deixo escapar um suspiro antes de me levantar, caminhar até ele, pegar sua mão e puxá-lo para se sentar comigo em minha cama. Confesso que, internamente, fiquei feliz por Sebastian me deixar assumir o comando e me seguir. Dada a sua constituição física, ele não teria qualquer problema em resistir e permanecer de pé próximo a porta.

Uma vez que nos sentamos e pude encarar seus olhos escuros abertamente, reuni minha coragem para relembrar um passado incômodo da minha vida. Um que minha avó sabe e minha mãe conhece partes, tudo porque não tive forças para olhar nos olhos da minha mãe e contar todos os detalhes. Ela é tão doce e gentil, mesmo com seu passado tórrido, eu não queria que ela se decepcionasse comigo ou pensasse que falhou em minha criação.

Minha avó, por outro lado, é desprovida de julgamentos morais. Eu precisava chorar no colo de alguém quando tudo aconteceu e a minha avó foi meu ponto de segurança. Ela me apoiou, aconselhou e ajudou. A melhor parte é que minha avó, de alguma maneira, garantiu que meu pai nunca descobrisse ou a vergonha me consumiria.

— Você foi aberto comigo e me contou sobre o seu passado. — Seguro sua mão, sua temperatura quente. Sinto os calos na palma, a aspereza de sua pele resultado de muitos trabalhos manuais. — É justo que você saiba sobre o meu antes de procurar o meu pai.

— Não precisa me contar se não quiser. — Reforça seu posicionamento e eu aceno com a cabeça em concordância, sentindo meus ombros relaxarem um pouco.

— Quando meus pais se casaram, eles decidiram me matricular em uma escola para que pudesse socializar mais. Minha mãe achava que ter lições em casa me impedia de conhecer mais sobre o mundo.

— Funcionou?

— Pode-se dizer que sim. Frequentei o ensino médio em uma escola muito conceituada, que reunia filhos de famílias influentes de todo o mundo. Muitos dos meus colegas eram detestáveis. Me impressiona como famílias com dinheiro antigo* conseguem gerar seres humanos tão deploráveis e egocêntricos.

— Eu compartilho do sentimento.

— No ensino médio eu tive uma paixonite por um jovem inglês. Meus sentimentos foram correspondidos e começamos um namoro secreto. Eu era inocente e estúpida, ele falava sobre nos casarmos no futuro e eu pensava que realmente o amava. Parecia tão real e intenso que me deixei levar. Eu tinha o sonho de me casar virgem, tia Melissa sempre falou dos princípios italianos com tanto orgulho que eu quis mantê-los comigo. Então quando ele propôs que tornássemos nossa relação mais íntima, eu pensei que estava me envolvendo com o meu futuro marido, ainda que não subisse virgem ao altar, ele seria o único homem da minha vida.

Sebastian apertou minha mão, atraindo minha atenção novamente para os seus olhos. Me sinto tão tola em contar tudo isso para ele, em relembrar aquele período em voz alta. Eu nunca poderei entender como permiti que minha paixão falasse mais alto, que os sentimentos me dominassem e me levaram a abrir mão de algo tão simbólico que eu gostaria de manter.

— Eu não estou te julgando, princesa.

A sinceridade em seu olhar é tão explícita que senti meus olhos marejarem. Sebastian aperta minha mão novamente e eu pisco mais rápido para impedir as lágrimas de escorrerem.

— Ele não me forçou, eu permiti e fui muito estúpida por isso.

— Eu não acho que você foi estúpida.

— Ele gostava de cassinos, frequentava muitos em Mônaco, então pedi ao meu pai que cedesse entradas para ele e para o irmão nos cassinos da minha família. Um dia encontrei o celular dele por acaso e acabei mexendo. Eu sei que não é certo, mas havia uma mensagem do irmão dele falando sobre mim e decidi abrir a conversa para ler. — Respiro fundo, tentando manter minha compostura. — Foi uma armação. Ele só se aproximou de mim para conseguir acesso aos cassinos.

— Filho da puta!

— Quando terminei tudo e lamentei ter me deitado com ele, ele riu e me chamou de burra. O irmão dele também teve a proeza de espalhar para toda a escola que eu era uma prostituta e que os dois haviam dormido comigo.

— Princesa...

— Eu preferi retomar as aulas em casa. Terminei o ensino médio na segurança da minha residência.

— Quais os nomes deles?

— Por que isso é importante? Já faz anos!

— Apenas uma curiosidade, amor.

— Estamos falando da família Feller, Sebastian.

*****

Para melhor entendimento:

Dinheiro velho - Old Money, em inglês - se refere às famílias que são ricas há gerações. É uma referência a quem já nasceu com a conta bancária abastada a ponto de não se preocupar em ascender na vida. Passando de geração para geração, a moeda vai envelhecendo e, sem perder o valor, resulta em heranças bem acumuladas. Ex.: família Kennedy, os Rockefeller, os Rothschild.

Já dinheiro novo - Young Money - trata-se de famílias que enriqueceram recentemente, na geração atual ou na anterior, por meio de algum negócio lucrativo ou invenção inovadora. A titulo de curiosidade, os "novos ricos" não são tão bem aceitos nos círculos sociais dos Old money.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Onde histórias criam vida. Descubra agora