Capítulo 28

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SEBASTIAN WERDEN

Feller.

Maldito.

Fodido.

Feller.

Eu deveria ter feito mais do que cortar seus dedos. O certo seria segurar seu rosto até que o fogo o consumisse e ele sucumbisse a dor. Melhor, eu deveria tê-lo matado e separado seus pedaços por toda a casa, assim o desgraçado do irmão poderia ter encontrado a perna do bastardo largada nas escadas. Ao mesmo tempo, sinto meu peito apertar por ver Lara encolhida por culpa dos Feller. Definitivamente, minhas próximas vítimas, sendo parte do meu serviço ou não.

A rigidez dos valores e princípios da Famiglia italiana é de conhecimento geral e por mais que eu ache Melissa Santinelle maluca, vejo o quanto Lara a admira e o impacto que essa situação causou em sua vida.

Nunca vi sentido em toda a valorização da virgindade. Desde o que o mundo é mundo as pessoas fodem, dentro do convencional ou não. Inocente é quem acredita que mesmo em épocas extremamente religiosas, como a Idade Média, todos se casaram imaculados.

Eu não tenho ideia do que fazer.

Normalmente eu sou a causa das pessoas chorarem e, em geral, o sentimento predominante é de medo. Ao ver uma pessoa tão especial para mim se lamentar com os olhos brilhando de lágrimas me deixa perdido. Eu deveria deixá-la sozinha? Esperar que se acalme? Se ela está em um momento delicado, expondo seus sentimentos, é esperado que eu lhe dê suporte, certo?

Me esforçando para deixar minha raiva de lado por um momento, compreendo que sua reação não é pela castidade ou não teríamos ido tão longe. É o sentimento de acreditar em alguém que supostamente te amava e descobrir que tudo não passou de uma farsa, um plano em que Lara foi usada como um meio para um fim.

A garantia de acesso dos adolescentes aos cassinos de público exclusivo dos Brachmann.

— Eu sinto muito! — Uma lágrima solitária escorre por sua bochecha e sou rápido em usar meu polegar para limpá-la.

— Não há motivo para sentir. — Passo meu braço por seus ombros e a puxo para mim. — Não foi sua culpa.

— Eu deveria ter sido mais esperta.

— Você era apenas uma garota inocente. — Acaricio seu braço com movimentos regulares de subida e descida.

Lara foi criada e trata como uma princesa por toda a sua vida. Uma garota superprotegida que nunca aprendeu a ler os sinais de intenções erradas. Como poderia culpá-la por ser dessa maneira? Aliás, quem pensaria que uma garota tão protegida precisaria enfrentar as maldades do mundo?

Não é preciso ser um gênio da observação para notar como Luke Brachmann olha para a filha. É como se ela fosse a luz em seu mundo e, pela maneira como Lara olha para ele de volta, ela o tem como seu herói. Se eu tivesse uma garotinha que me olhasse dessa forma, eu também a guardaria dos males do mundo e sem dúvida caçaria qualquer um que ousasse machucá-la.

— Obrigada por não me julgar. — Funga com a cabeça apoiada em meu ombro.

— Quando eu te contei sobre a minha família, você disse que não era ninguém para me julgar. O que a faz pensar que eu agiria diferente?

— Eu tenho tanta vergonha sobre isso.

— Você não precisa se envergonhar por esperar o melhor das pessoas. Os Feller deveriam se envergonhar pelo que causaram a você!

— Eu nunca contei ao meu pai sobre isso. Nunca quis que ele se decepcionasse comigo.

— Então guardou o segredo e permitiu que os Feller continuassem a frequentar os cassinos?

— Eles o fariam de qualquer maneira. Os Feller são uma família de dinheiro velho e muito influentes no Reino Unido. Possuem o mesmo perfil dos que são aprovados nos cassinos. Eu só fiz com que pudessem frequentar antes do esperado.

— Nunca pensou que eles poderiam recontar essa história em uma noite de jogos e bebedeira? — Questiono com curiosidade.

— Não. Em meu último dia na escola garanti que eles soubessem com quem estavam mexendo. Fiz um teatro perfeito de "garotinha mimada do papai" e os avisei que se ousassem me difamar em um dos nossos cassinos, meu pai teria as cabeças deles como enfeite do escritório.

Bem, eu as planejo como alvo para prática de tiro. 

Quem precisa de um papel com círculos quando se tem uma cabeça decaptada?

— Você fez bem.

E eu ainda tenho muito a fazer.

— A minha avó sabe do que aconteceu. Implorei a ela que não contasse ao meu pai ou ao meu tio.

— Sua avó faz alguma coisa?

— Ela conseguiu intimidá-los e garantiu que a história nunca ressurgisse.

Isso até um deles dever ao cassino e tentar usar a história como uma moeda de troca logo na primeira oportunidade. Lara não precisa saber do meu encontro com o caçula mentiroso e fofoqueiro que resultou em dois dedos a menos para ele. Se a princesa já se sente culpada, não acho que reagiria bem a ideia de vingança.

Lara pode não querer se vingar, mas eu quero e estou sedento por sangue.

— Eu admiro o seu coração puro. — Digo e ganho uma pequena risada como resposta.

— Não tão puro assim. — Pega a minha mão que acariciava seu braço e entrelaça nossos dedos. — Fiquei extasiada enquanto você batia naquele homem na noite da luta. Se eu tivesse um coração puro de verdade teria pedido para você parar, não acha?

— Acho que você é pura dentro da sua realidade. Não há como pertencer a Organização e ser imaculado.

— Você realmente quer conversar com o meu pai? — Muda o assunto.

— Decidi isso antes de sairmos daquele jantar infernal.

— Foi um jantar divertido!

— Não para mim. Não com aquele loiro te tocando demais para a própria segurança.

— Você é tão ciumento!

— Eu só quero garantir que aquele homem saiba que você está fora do mercado.

— Que eu me lembre, você ainda não falou com o meu pai. Se quer me fez um pedido.

— Para uma mulher tradicionalista, você está ansiosa para inverter a ordem das coisas. — A deito em sua cama e me encaixo entre suas pernas, apoiando meu peso em meus braços. — Eu terei a permissão do seu pai antes de fazer o meu pedido a você.

— Eu não sabia que você era tão tradicional.

— Não sou, mas você vale o esforço.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Onde histórias criam vida. Descubra agora