Capítulo 2

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SEBASTIAN WERDEN

— Preciso que cuide disso para mim. — Luke Brachmann se recosta em sua cadeira.— Não é a primeira vez que treinará alguém da família.

— Eu não sou um treinador, muito menos um segurança.

— Não em situações normais, de fato. Entretanto um de nossos cassinos sofreu uma tentativa de ataque recentemente, como você bem sabe. Ainda não descobrimos os responsáveis e com a ausência do meu irmão não seria uma surpresa se tentassem um novo ataque.

— Por que não designar alguém da segurança?

— Você é o melhor que temos, Werden. Minha esposa optou por ficar comigo aqui, mas minha filha prefere retornar para casa e eu não quero um alarde movendo um pequeno batalhão atrás dela.

— Senhor.

— Se uma ameaça surgir sei que não hesitará em sujar suas mãos. Não é um trabalho permanente. Adam retornará até o próximo mês e você estará livre para retomar suas atividades.

— Tem certeza que me quer perto da sua filha?

— Eu não poderia escolher diferente.

— Tudo bem. — Me levanto pronto para sair daqui. — Estou dispensado, senhor?

— Sim, isso é tudo. — Aceno com a cabeça e caminho na direção da porta. — Werden?

— Sim, senhor?

— Cuide bem da minha filha.

— É o que farei, senhor. — Respondo antes de sair.

Nunca pensei que seria designado para ser segurança de princesa. Estou acostumado ao trabalho sujo, ter sangue em minhas mãos faz parte da rotina e eu gosto da excecução do serviço. Sou chamado quando alguém precisa sofrer muito, então é possível imaginar a minha surpresa ao ser convocado para proteger uma filhinha preciosa. Em geral, eu não fico na segurança. Sou eu que represento a ameaça!

Não fui selecionado como todos os outros caras da segurança. A verdade é que eu deveria estar morto. É a sentença padrão por matar o próprio pai, mas os irmãos Brachmann perdoaram minhas ações. Eles têm minha lealdade e lhes devo a minha vida. Entretanto, eu nunca disse que me arrependi do que fiz e eles sabem disso. É o que justifica um ramo de trabalho tão violento quanto o meu.

Essa porra monótona não faz parte do meu trabalho.

Não que eu conheça bem a garota, nos encontramos poucas vezes e nunca ouve qualquer interação. Meu conhecimento sobre ela se limita aos boatos que correm por aí. Fofocas infundadas. Dizem que ela é doente, que algo a desgraçou e ela prefere se manter longe de todos, que é esnobe demais para sair de seu palacete encantado. Esses boatos são alimentados por ninguém vê-la fora das propriedades da família, ela raramente sai ou aparece em público.

A verdade é que desde que comecei a trabalhar para os Brachmann eu a vejo cercada por seguranças, eles estão por todos os lados e sendo ela filha de quem é, não me surpreende. Era de se esperar que a ruiva virasse uma garota rebelde, com fugas incansáveis e motivo de muita dor de cabeça, mas ela realmente não sai das propriedades. Quando se aventura muito é pintando nos jardins.

Encontrei meu novo trabalho conversando com sua avó e com sua mãe na sala de estar. Verena Brachmann foi a primeira a me notar, seus cabelos antes loiros quase platinados agora estão grisalhos, mas não a envelheceram nada. Em meus quase vinte anos trabalhando para os Brachmann, ouso dizer que somos bons conhecidos. Desconfiados demais para sermos amigos, porém interagimos demais para sermos completos desconhecidos.

Verena é uma pessoa muito boa em notar quando algo está errado. Quando ela arqueia a sobracelha eu já sei que terei muitas perguntas a responder. Sua expressão chama a atenção das mulheres que conversavam com ela e logo seus olhos estão em mim também.

— Aconteceu alguma coisa, Werden? — Verena toma a iniciativa de perguntar.

— Não, senhora. — Coloco minhas mãos para trás. — Vim informar a senhorita Brachmann que podemos ir quando ela decidir.

— O senhor virá comigo?! — Sua voz soou uma mistura de estridente e engasgada, a expressão de surpresa em seu rosto.

— Sim, senhorita. Seu pai me colocou como responsável pela sua segurança.

Não me passou despercebido a troca de olhares entre as senhoras Brachmann, mas a jovem permeneceu me olhando fixamente com seus olhos cor de esmeralda. Ela tem olhos lindos, eu sou obrigado a admitir, mas não gosto de como eles me deixam inquieto. 

— Você ainda pode ficar conosco, se quiser. — A senhora Amélie informa a filha com ternura, acariciando seu braço.

— Obrigada, mãe. — Lara agradece sem desviar os olhos dos meus. — Mas eu prefiro ir para casa. Tenho algumas encomendas para terminar e os quadros não ficarão prontos sozinhos.

— Eu preciso falar com o meu filho. — Verena me lança um sorriso cúmplice antes de se virar para suas parentes. — Nos falamos depois, queridas.

— Você não costuma ficar na segurança, Werden. — A senhora Brachmann comenta.

— Ellie! — Lucy, a governanta da casa, entra na sala com bastante pressa e me salva de responder perguntas que não devo. — Poderia me ajudar aqui na cozinha?

— É claro! — Se volta para nós. — Eu volto logo.

— A senhorita está bem? — Me atrevo a perguntar.

Lara ainda me olha surpresa, seus brilhantes olhos verdes encarando os meus, sua boca levemente aberta de choque. Eu nunca havia reparado, mas ela tem um punhado de sardas espalhadas no nariz. Seu cabelo está preso em uma trança com um lanço preto na ponta.

— Eu? Estou, eu acho. — Inspira fundo e seus olhos rapidamente voam por toda a sala antes de voltar a focar em mim. — Vai mesmo fazer a minha segurança?

— Sim.

— Qual o motivo?

— Não estou autorizado a falar.

— Sério? Eu não acredito... que... é um sonho muito maluco.

— Não é um sonho, senhorita Brachmann.

— Sim. — Solta uma risada nervosa. — É claro! Não haveria motivos para ter um sonho assim. Eu preciso pegar algumas coisas e podemos ir.

— Tudo bem.

— Tudo bem? — Inpira nervosamente.

— A senhorita está bem?

— Sim! Sim, é claro que sim, eu... — Engole em seco e abre um sorriso trêmulo. — estou ótima!

— A esperarei na entrada.

— Entrada, sim. Certo. Eu não demoro.

Lara saiu andando apressadamente, me deixando na sala sem entender nada do que havia acontecido. Eu não sei dizer se isso é uma reação comum aos jovens. Ignorando minha própria confusão, saio da sala e vou até a garagem para pegar um dos veículos. Luke Brachmann não ficaria muito feliz se eu levasse sua princesinha em minha moto, ele costuma ver perigo em tudo.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Onde histórias criam vida. Descubra agora