Capítulo 14

11.3K 1.5K 117
                                    

SEBASTIAN WERDEN

— Então ele entendeu o recado. — Luke Brachmann fala observando a tela do computador. — A dívida foi paga no mesmo dia.

— Eu não acho que ele consguirá reimplantar os dedos. — Aviso.

— Melhor ainda. — Se recosta em sua cadeira com um sorriso de satisfação no rosto. — Mais um trabalho muito bem feito.

— Obrigado, senhor.

Luke apenas me observa, sua mão apoiada sob o queixo. Meu trabalho foi concluído, como sempre. A dívida foi paga e por mais que eu quisesse caçar o Feller mais velho e cortar suas bolas fora, tenho obrigações em Munique.

— Aconteceu alguma coisa extra por lá?

— Não, senhor.

Eu sei que deveria reportar o que me foi dito pelo riquinho mimado. É parte do meu trabalho e eu não sou negligente. Entretanto, esse é um assunto delicado e, particularmente, prefiro conversar com Lara e esclarecer essa história ao invés de repassar uma fofoca ao pai dela.

Uma fofoca que, dentro do meu julgamento, pareceu verdade.

Minha hesitação pode ser reflexo do meu envolvimento com ela, mas meu juízo de valor no trabalho não sofreu qualquer interferência. Sempre soube o que e quando reportar aos meus chefes, é uma das razões de permanecer há tantos anos trabalhando para eles.

— Eu não gosto dos Feller. — Declara por fim.

— Eu também não! — Uno minhas mãos em minhas costas. — Tivemos uma boa conversa antes de ele perder os dedos.

— Eu imagino. — Arqueia sua sobrancelha. — Estou certo de que ele manterá a boca fechada.

— Ele não se arriscaria a falar. — Um meio sorriso cresce em meu rosto. — Prometi uma nova visita se ele o fizer.

— Ótimo! Espero que ele não volte a acumular dívidas também. — A expressão em seu rosto é de pura satisfação. — Quero que retome suas atividades como segurança da minha filha.

— Sim, senhor.

— Não se preocupe. Em poucas semanas meu irmão retornará e você estará livre do posto.

— Não é um trabalho ruim, senhor.

— Eu sei que não. Certamente a monotonia o incomoda até certo ponto, mas é uma oportunidade para se ocupar. Fiquei sabendo que precisou de serviços extras na sua última luta.

Se há uma habilidade de Luke Brachmann que sempre achei notável, é sua forma de abordar uma conversa com avisos subliminares. Não tenho dúvidas de seu conhecimento sobre a confusão na última luta, mesmo que não tenha qualquer relação com a Organização, mas tudo de criminoso que acontece nesta cidade chega aos ouvidos dos Brachmann. Apenas posso supor que ele não sabe sobre a presença de sua filha na confusão ou não me manteria vivo, muito menos como segurança dela.

— Um filho da puta me irritou. — Dou de ombros. — Ele fez por merecer.

— Nesse tipo de evento, normalmente os corpos são retirados do ring, não da plateia. Estou certo?

— Está, mas nem todo imbecil tem coragem de subir no ring. Alguns se acham corajosos o suficiente da plateia e, às vezes, acontece de falarem besteira demais para o próprio bem.

— Entendo.

Haveria uma bala cravada em meu crânio se ele descobrisse sobre meu envolvimento com sua filha. Eu sou muito mais velho que ela, um mero subordinado cujas principais funções são causar danos e executar. Não é questão de estima, mas pura lógica de que não sou um predentente para Lara Brachmann. Estamos em patamares diferentes na Organização, ela tem um jantar marcado com algum idiota importante e eu não estou procurando um relacionamento.

— Permissão para me retirar, senhor?

— Permissão concedida, Werden.

Saio do escritório e atravesso o salão de jogos o mais rápido que posso. Definitivamente não é o meu lugar favorito para estar, mas quando os Brachmann não me enviam atrás de alguém, costumam me manter por perto exibir seu "cão de guarda". Eu sou maior e mais musculoso, não costumo ser simpático e as tatuagens ajudam na mensagem de "fique longe". É tedioso, para não dizer patético, observar gente rica desperdiçando tanto dinheiro em uma única noite de jogatina.

Eu ganho muito bem, mais que o suficiente para gastar em vida, porém esse trabalho me ensinou que certos tipos de diversão são infrutíferas. O jogador sempre começa ganhando, então decide tentar a sorte novamente e perde, então tenta outra vez e outra vez. Os jogaodres sempre voltam porque acreditam na ilusão do "dia de sorte", mas tudo o que conseguem é se endividar com a Organização e uma vez que estão devendo aos Brachmann e não pagam, recebem uma visita minha.

A depender do quanto deve, minha visita pode terminar com as duas pernas quebradas, um braço decepado ou com o endividado aberto ao meio em sua sala de estar. Não estamos falando sobre um bêbado de esquina, os clientes da Organização são pessoas com alto poder aquisitivo e os cassinos são exclusivos.

Não é qualquer um que pode entrar, assim como todos sabem que ninguém sai devendo.

Uma vez que estou montado em minha motocicleta, atravesso a cidade até a residência de Luke Brachmann. Não é um trajeto curto, por isso pude aproveitar a sensação de pilotar novamente. Um dos malefícios das viagens a trabalho é a necessidade de descrição e uma Harley-Davidson Custom não atende a esse requisito.

Uma vez identificado, adentro a propriedade e dou a volta na casa, pretendendo estacionar nos fundos, como faço normalmente. Para a minha surpresa, Lara não está pintando em seu estúdio, mas sim no meio do jardim, próxima a uma grande fonte de mármore.

Hoje o laço em seu cabelo é vermelho, assim como o vestido que ela está usando. O avental evita que suje sua roupa, mas posso ver uma mancha de tinta preta em sua bochecha. Seus olhos desviam da tela quando ela ouve o motor da moto. Não sei ao certo que tipo de reação eu esperava, mas definitivamente não era o escrutínio de desaprovação que recebi.

Desço da moto e espero pacientemente até que seus olhos encontrem meu rosto. Sua expressão se torna ainda mais fechada e eu arqueio uma sobrancelha. Sem qualquer indício do que poderia estar errado, ela retoma sua pintura e me ignora por completo.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Onde histórias criam vida. Descubra agora