CAPÍTULO QUATRO: O HACKER

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DENNIS SE SENTOU em sua cadeira na Divisão de Crimes Cibernéticos com mais olheiras do que no dia anterior atrás dos óculos de grau. Encarou sua coleção exclusiva de action figures sobre a mesa e, com cuidado, usou um pano umedecido para limpar a poeira sobre uma edição de luxo do Iron Man 3, utilizando uma armadura dourada e negra. Havia pagado belas £100, um dos itens mais caros em sua coleção. Um de seus colegas se aproximou por trás, bagunçando seus cabelos loiros já desgrenhados.

— Atrasado. Virou a noite jogando, Dennis? — disse o homem rindo, enquanto seguia para sua mesa. Dennis sorriu de volta, sem responder, enquanto ligava o seu computador e fazia o login de acesso. Mas, por trás daquelas olheiras, havia outras coisas.

Pegou o celular e olhou o horário. Eram 9:44am. Abriu a aba de mensagens e digitou para um amigo em específico:

"Já tô no trampo. Valeu pela ajuda ontem"

"Que ótimo. Achei que tinham
te quebrado dessa vez"

"Por pouco...ainda bem que me tirou de lá em tempo"

"Relaxe... sempre que precisar,
pode contar comigo. Só evita me
envolver nessas suas desventuras.
Posso perder clientes demais... e
talvez minha vida"

"Relaxe, sabe que nunca vão descobrir
que você me ajuda vez ou outra"

"Preciso trabalhar, até depois, hackerman"

"Até, motorista mafioso"

Soltou um leve riso ao ler a mensagem "hackerman". Mas, precisava admitir: se não tivesse sido a ajuda de James na noite anterior, talvez não estivesse vivo para contar história. Havia prometido para si mesmo que diminuiria aquelas atitudes justiceiras. Não estava mais no Estados Unidos e, além disso, aquele não era o seu mundo comum.

Porém, enquanto navegava pelas páginas obscuras e que se dizem inexistentes da dark web, encontrou algo na cidade de Londres que não foi capaz de ignorar. Fazia apenas um mês desde sua última jogada como soldado da justiça, mas não deixaria aquilo passar.

Não aquilo.

...

Na noite anterior, havia identificado algumas compras de material ilícito e tentou rastrear o criador do nefasto conteúdo, mas sem sucesso. Seja lá quem fosse, sabia muito bem o que estava fazendo na cripto-rede. Mas havia algo que conseguira rastrear...

Ficava há, pelo menos, cinquenta minutos de seu apartamento na 68 Billet Ln, em Hornschurch.

Respirou fundo e, terminando de arrumar algumas coisas, colocou o que precisava numa pasta para notebook e mandou mensagem para James, perguntando se podia fazer uma corrida para ele.

A parceria de ambos começara de forma um tanto inesperada e era inevitável não pensar sobre como dois indivíduos que poderiam, facilmente, serem rivais, tornarem-se parceiros. Não que Dennis acreditasse que exista alguém que possa ser seu arqui-inimigo.

...

— Mais alguma coisa, minha cara? – um simpático senhor, talvez com seus sessenta anos, perguntou para mulher sentada a mesa do pequeno restaurante no cruzamento da Teversham Ln com a Lansdowne Way, em Stockwell. A rua estava relativamente tranquila naquela noite. Era baixinho, talvez 1,55m, cabelos grisalhos com uma leve calvície na frente do cabelo. Sua pele branca e enrugada, com algumas manchas de pitiríase versicolor no rosto e braços gordos.

Caminhando com certa dificuldade, o simpático senhorzinho passou por uma mesa onde dois homens grandes e fortes estavam sentados, comendo sanduíches e conversando a esmo. Assentiu para ambos e foi em direção ao balcão, conferindo o computador e lendo as últimas notícias na tela.

O Culto da Cabra Negra de Mil Crias • Série Tentáculos do Caos, livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora