CAPÍTULO DEZ: AS PISTAS

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ASSIM QUE CHEGOU na sede da NSY, Aurora percebeu a comoção no olhar dos policiais e do pessoal interno. Caminhando a passos rápidos, com os olhos marejados, seguiu direto para sala da chefe Dick, que estava com as cortinas fechadas, ocultando quem estivesse ali dentro e o que estivessem fazendo.

Respirando fundo, bateu na porta e se apresentou. Após escutar um suspiro, ouviu a voz da Merissa lhe autorizando a entrada.

Suspirou aliviada ao ver Reece sentado na cadeira em frente à mesa da chefe e, ao seu lado, Dennis. Entretanto, o alívio desapareceu quando viu as roupas e mãos de Reece manchadas de sangue. Seu olhar estava distante, perdido no vazio. Respirando fundo, deu alguns passos para perto deles. Pousou com gentileza a mão sobre o ombro de Reece, que não reagiu.

— Reece... você... como você está... – Aurora indagou.

— Ele esmagou a cabeça dele... – Reece respondeu após alguns segundos em silêncio, sem tirar os olhos do vazio – aquele monstro, ele... ele pisou na cabeça do oficial Blackhart como se fosse uma uva... se eu não estivesse com meu revólver, se eu estivesse com o taser... eu vi nos olhos daquele homem. Se eu tivesse usado o taser, meu corpo estaria ao lado do Blackhart agora...

— O assassino matou o policial Blackhart enquanto eles investigavam um dos lugares que a nossa suspeita esteve – Merissa Dick começou a explicar – Havia também três corpos no local, aparentemente em um tipo de... cerimônia ritualística. Reece, meu querido, pode ir... obrigado por todas as informações. Tire o dia de folga e...

— Preciso contar – Reece a interrompeu, segurando as lágrimas ao máximo – Eu preciso falar com a família do Blackhart... eu... eu não consegui salvá-lo. Aquele homem apareceu como um fantasma... eu fracassei...

— Hey, Reece, olha pra mim – Aurora disse, segurando seu rosto com leveza e fazendo com que ele a encarasse – Sei que isso foi terrível e... e eu nem imagino o quanto você deve estar se sentindo mal. Blackhart, assim como você, sabia dos riscos da profissão. Você estava ao seu lado, no fim. Vá para casa, tome um banho e descanse um pouco. Confie em mim, tá bom?

O olhar, antes perdido no vazio, se focou nos olhos de Aurora e assim ficou por um tempo. De alguma forma, pôde sentir como se parte do nervosismo, da tensão aterradora, da raiva que se acumulava como fogo, tivesse diminuído. Devagar assentiu e, por fim, seguiu para fora da sala.

Antes de sair, olhou para trás e encarou os três personagens.

— Eu seguirei com essa investigação até o fim. Por favor, senhora Aurora, conte comigo.

Sem dizer uma palavra, apenas assentiu, Reece finalmente saindo.

— Eu não sei se é uma boa ideia, Aurora – Merissa disse, encarando-a.

— Ele está abalado e em choque, eu sei, mas eu vi o histórico dele. Ex-militar, cumprimento impecável de suas atividades, bem preparado para situações extremas. Talvez estivesse um pouco enferrujado, mas... pude ver, no fundo dos olhos dele... é melhor que continue dentro dessa investigação e acompanharmos as ações mais de perto, do que deixá-lo de fora e correr o risco de tentar fazer algo por si só.

— Nunca duvide da psicóloga, não é mesmo? – disse Dennis, com um sorriso sem graça no rosto.

— Dennis...

— Desculpa, chefe Dick.

— Bom... Reece trouxe também algumas informações bastante relevantes. A perícia já averiguou e catalogou o material, em breve chamarão vocês para que possam analisar. Além disso, o MI6 está envolvido oficialmente. Então, qualquer coisa que vocês descobrirem, reportem para mim, e irei passar ao pessoal do MI6.

— O quê? Como? Por que o MI6 está envolvido? – Aurora indagou, surpresa.

— Parece que o MI6 estava investigando alguma coisa que tem correlação com esse cara que matou o Blackhart – Dennis respondeu – Por isso, tudo que fizermos terá que passar para eles. Por pouco não nos tiraram do caso. Seja lá o que for, é coisa grande.

— E nós iremos até o fim – afirmou Dick – Bom, é isso. Podem sair. Preciso fazer algumas ligações... muitas ligações... uma cacetada de ligações, por deus! E, só reforçando: o que vocês descobrirem, me informem imediatamente.

...

Andrey continuava a analisar as leituras realizadas dentro do prédio onde encontraram o policial Reece Connor, junto com o cadáver de seu colega, assassinado de forma cruel, bem como o suspeito e outras vítimas.

Não sabia bem o que supor sobre tudo aquilo, mas seus instintos lhe diziam que deveria continuar seguindo nas investigações. Pela primeira vez, se sentia realmente empolgado com tudo que estava acontecendo. Não pelas mortes, mas por sentir que estava, finalmente, fazendo parte de algo maior em seu tempo no SIS.

As análises eletromagnéticas possuíam um padrão semelhante entre o que detectaram inicialmente naquele dia e o que detectaram logo depois, onde viria a ser a cena do terrível crime. O intervalo de tempo era bastante curto entre um e outro, com o mesmo nível de pico, mas nada justificava os fenômenos. Quanto a primeira anomalia, não conseguiram encontrar o ponto de origem. Mas a segunda, apesar de não ser confirmado, não lhes deixava dúvida: era naquele prédio residencial grotesco.

E, pela primeira vez, havia algo que conectava essas anomalias. Ao menos a que observara na noite anterior e essa mais recente: o símbolo de caráter esotérico. Não que acreditasse em misticismo, mas era a melhor forma de se referir àquilo.

— Curioso... Hicock, Revil, venham aqui! – Andrey chamou, enquanto relia algumas das leituras dos distúrbios anteriores. Seus dois colegas de trabalho se aproximaram, revirando os olhos.

— Eu não entendo a dificuldade em falar HiTHcock e RevilLE – Alex resmungou – O que é, Guerra Fria?

— Quando fizemos a primeira leitura dos distúrbios eletromagnéticos?

— Ah... foi em março desse ano – Frederick Reville respondeu.

— O dia, em específico, por favor.

— Só um instante... – Alex disse, analisando os registros em outro computador – Ah... pronto: 20 de maio. Mas por que a...

— Precisamos das imagens das câmeras de segurança da área onde aconteceu a anomalia. Reville, espero ter acertado dessa vez, preciso que você analise as imagens e dados referentes ao dia 22 de maio, quando...

— Quando aquele terrorista atropelou várias pessoas em Westminster... – Alex completou, com os olhos arregalados – Você acha que os eventos tem correlação?

— É possível. Perceba: a primeira leitura das anomalias foi dois dias antes do atentado em Westminster. Também preciso que verifiquem dados anteriores a isso. Talvez seja mais antigo do que acreditamos. Enquanto cruzam os dados, também verifiquem o incidente de março e observem se alguma anomalia havia sido registrada, seja por alguém daqui ou algum amador nas redes sociais.

Enquanto Andrey dava as ordens, Alex Hithcock e Frederick Reville agiam com o máximo de empolgação e foco, abrindo telas e mais telas em seus computadores e juntando os arquivos, solicitando auxílio de outros departamentos e utilizando softwares avançados de cruzamento de dados. Pela primeira vez, as pesquisas sobre as recentes anomalias eletromagnéticas pareciam ter um caminho a se seguir: um propósito.

— Hithcock, Reville... – Andrey chamou, ambos o encarando assustados, ao vê-lo acertando seus sobrenomes. Na tela do computador do cientista russo, uma imagem se abriu, para a qual ele apontou: a imagem do símbolo – E verifiquem, minunciosamente, se essa imagem aparece em qualquer outra situação. Seja lá o que for, essa pode ser a chave para toda essa investigação.

O Culto da Cabra Negra de Mil Crias • Série Tentáculos do Caos, livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora