A Jornada Silenciosa

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Nossa chave para transformar qualquer coisa está em nossa capacidade de reformulá-la.

Marianne Williamson

Sâmia passou três longos anos sem conseguir pronunciar uma palavra sequer. Ela estava sob os cuidados amorosos das freiras em um convento, onde crianças órfãs encontravam um lar caloroso. Apesar do ambiente gentil, onde brincadeiras e risadas preenchiam o ar, Sâmia permanecia isolada, incapaz de se enturmar. A dor profunda e os pesadelos a assombravam constantemente, alimentando a culpa por não ter estado ao lado de sua família quando mais precisaram.Em uma tarde ensolarada, Sâmia sentou-se no jardim do convento, cercada por outras crianças que corriam e brincavam alegremente. Ela observava em silêncio, sentindo-se estranha e distante de seus sorrisos contagiantes. Irmã Maria, uma das freiras mais afetuosas, percebeu a tristeza em seus olhos e aproximou-se gentilmente.Irmã Maria: Querida Sâmia, posso me sentar ao seu lado?Sâmia assentiu timidamente, permitindo que a freira se juntasse a ela no banco.Irmã Maria: Vejo que você está em silêncio novamente, minha querida. Como tem se sentido?Sâmia abaixou a cabeça, suas mãos inquietas brincando com a borda de seu vestido.Sâmia (sussurrando): Sinto-me triste e culpada, Irmã Maria. Todos parecem tão felizes aqui, mas eu não consigo me livrar da dor e dos pesadelos. Sinto falta da minha família, e a culpa me consome.Irmã Maria colocou uma mão gentil sobre o ombro de Sâmia, oferecendo-lhe conforto.Irmã Maria: Minha querida, entendo sua dor. É normal sentir falta daqueles que amamos e passar por momentos difíceis. Mas lembre-se, você não é responsável pelo que aconteceu. Você era apenas uma criança. Sua presença aqui é uma prova de sua coragem e força para seguir em frente.Sâmia olhou para Irmã Maria, seus olhos marejados de lágrimas.Sâmia: Mas e se eu pudesse ter feito algo para protegê-los? E se eu estivesse lá naquela noite? Eu me sinto culpada, como se tivesse falhado em minha missão de proteger minha família.Irmã Maria apertou suavemente a mão de Sâmia, transmitindo-lhe compaixão e amor.Irmã Maria: Minha doce criança, você não falhou. Às vezes, a vida nos coloca em situações difíceis e dolorosas, mas isso não significa que somos responsáveis pelos atos de outros. Seu amor e sua presença foram um presente para sua família. Agora, você precisa encontrar a força para curar seu coração e seguir em frente.Enquanto Sâmia absorvia as palavras de Irmã Maria, outra criança se aproximou do banco, curiosa.Luisa: Sâmia, você quer brincar com a gente? Vamos jogar bola!Sâmia olhou para Luisa, seus olhos encontrando um brilho de esperança em meio à tristeza.Sâmia: Eu... eu adoraria brincar com vocês.Luisa sorriu e estendeu a mão para Sâmia, convidando-a a se juntar ao grupo. As outras crianças também se aproximaram, acolhendo-a com entusiasmo.Carlos: Vamos nos divertir juntos, Sâmia! Não importa se você não consegue falar, nós estaremos aqui para ouvir o que seu coração quer dizer.Sâmia sentiu seu coração se aquecer com a generosidade e a amizade que emanavam daquelas crianças. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu-se incluída, aceita e compreendida. Ainda havia muito a superar, mas Sâmia sabia que tinha encontrado uma nova família no convento.Com o tempo, Sâmia aprenderia a se expressar de outras formas, a compartilhar suas emoções e encontrar alegria nas pequenas coisas. Ao lado das crianças e das irmãs amorosas que a rodeavam, ela daria os primeiros passos em direção à cura e à reconstrução de sua vida, confiante de que, com o amor e o apoio de todos, encontraria seu caminho novamente.

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