Em Busca da Própria Voz

O Jardim da Eternidade

O amanhecer trouxe consigo uma aura de renovação. Os primeiros raios de sol espreitavam timidamente pelas cortinas, iluminando suavemente o quarto de Izabel. Ela despertou lentamente, com os pensamentos ainda mergulhados nas lembranças de Ágata. O vazio em seu peito era palpável, mas uma sensação de paz começava a envolvê-la.

Lentamente, Izabel levantou-se da cama, sentindo os lençóis sedosos escorregarem por sua pele. Caminhou até a janela, observando a paisagem que se estendia diante de seus olhos. O céu estava pintado com tons suaves de rosa e laranja, enquanto os pássaros cantavam uma melodia harmoniosa. Era como se a natureza também sentisse a mudança no ar.

Enquanto o aroma do café fresco invadia o quarto, Izabel decidiu que era hora de enfrentar um novo dia. Ela se banhou, deixando a água quente acariciar sua pele cansada. Cuidadosamente, escolheu uma roupa que refletia sua força e determinação. Hoje, ela precisava encarar seu chefe e resolver questões pendentes no trabalho. Era um passo necessário para seguir adiante.

Após se arrumar, Izabel desceu as escadas, sentindo a madeira macia sob seus pés descalços. Ao entrar na cozinha, o cheiro de pão recém-assado e café fresco a envolveu, trazendo uma sensação de acolhimento. A cafeteria estava vazia, preparada apenas para recebê-la naquele momento.

Izabel se aproximou do balcão, onde encontrou o olhar gentil de Ágatha olhando para ela em uma foto enfeitando o espaço. Um sorriso triste se formou em seus lábios. Ela sabia que precisava compartilhar suas palavras com Ágatha, mesmo que ela não estivesse fisicamente presente.

"Eu sei que você está aqui, Ágata", sussurrou Izabel. "Eu sinto você em cada canto deste lugar, em cada pensamento meu. Eu sei que você me ouve, onde quer que esteja."Em seguida, Izabel pediu um pão francês, que Ágata costumava fazer com maestria, e um chocolate quente. Sentou-se em uma das mesas, observando o vapor quente se elevando da xícara, enquanto memórias doces e amargas se misturavam em sua mente.

O tempo pareceu se estender enquanto Izabel demorava a saborear cada pedaço do pão crocante e cada gole do chocolate quente. Ela queria aproveitar cada momento, permitindo que as lembranças de Ágata a envolvessem e aquecessem seu coração.

Após os clientes irem embora, Izabel se levantou, decidida a compartilhar suas palavras com Ágata. Ela subiu as escadas em direção ao antigo apartamento que costumavam compartilhar. As lembranças dançavam em sua mente, trazendo consigo uma mistura de saudade e gratidão.Ao entrar no apartamento, o silêncio parecia ecoar pelas paredes. Izabel respirou fundo, tomando coragem para expressar tudo o que estava em seu coração. Ela caminhou até a sala, onde uma foto emoldurada de Ágata sorria para ela, iluminada pela luz do sol.

"Ágata, eu preciso que você me ouça", disse Izabel, sua voz ecoando pelo ambiente vazio. "Eu fui tão resistente, tão teimosa em não deixar você entrar. Mas agora eu entendo. Entendo que o amor é maior do que qualquer barreira, qualquer medo. E eu te amo, Ágata. Sempre amei e sempre amarei."

Lágrimas escorriam pelos olhos de Izabel enquanto ela falava, sua voz cheia de emoção. Ela se aproximou da foto de Ágata, segurando-a com carinho, como se pudesse sentir seu calor novamente.

"Eu fui egoísta, Ágata. Eu me afastei de você porque tinha medo. Medo de enfrentar meus próprios sentimentos, medo de enfrentar a sociedade, medo de perder tudo. Mas agora eu vejo que não importa o que os outros pensem ou digam. O que importa é o nosso amor, a nossa conexão única."

Izabel deixou as palavras ecoarem no vazio, sentindo um peso sendo retirado de seus ombros. Era como se uma porta se abrisse, permitindo que ela se libertasse das amarras que a prendiam.De repente, uma brisa suave atravessou o apartamento, acariciando o rosto de Izabel. Ela fechou os olhos, sentindo a presença de Ágata ao seu redor. Em seu coração, ela sabia que estava tudo bem, que sua mensagem tinha sido recebida.

Enquanto Izabel se afastava da foto de Ágata, algo no canto do quarto chamou sua atenção. Uma rosa vermelha desabrochava em um vaso, irradiando uma beleza delicada e perfumada. Izabel sentiu um arrepio percorrer sua espinha, entendendo o significado daquela rosa. Era um símbolo de amor, renovação e esperança.

Ela se aproximou do vaso, acariciando as pétalas suaves da rosa vermelha. Lágrimas de gratidão encheram seus olhos enquanto ela sussurrava uma oração silenciosa de reconciliação."Ágata, onde quer que você esteja, saiba que meu coração está em paz. Sei que você partiu, mas nosso amor permanecerá eterno. Seguirei em frente, honrando nosso amor e dedicando minha vida a ser a melhor mãe que eu possa ser, como você sonhava."

Com o coração leve e cheio de amor, Izabel deixou o apartamento, encerrando um capítulo importante de sua vida. Ela sabia que tinha um longo caminho pela frente, mas agora tinha a certeza de que não estava sozinha. O amor de Ágata a acompanharia a cada passo, guiando-a em direção a um futuro repleto de esperança e felicidade.

Enquanto Izabel fechava a porta do apartamento, uma última brisa suave passou por ela, levando consigo um suspiro suave e um sussurro inaudível. Era como se Ágata estivesse sussurrando em seu ouvido: "Eu estou com você, meu amor. Sempre estarei."Com um sorriso sereno nos lábios, Izabel seguiu em frente, sabendo que Ágata a acompanharia em cada passo de sua jornada. O jardim da eternidade havia sido plantado, regado pelo amor que elas compartilharam, e as rosas continuariam a desabrochar, trazendo consigo a promessa de um futuro repleto de amor e lembranças felizes.Fim.---