Depois de contar como andam as coisas, me despedi deixando flores , sai descendo as escadas e só parei quando cheguei até a rua. No meio fio esperava o carro de aplicativo, assim que chegou entrei e me sentei cruzando as pernas e colocando minhas mãos dentro dos bolsos do casaco.
Quando cheguei até o prédio, passei pela portaria comprimentando o porteiro, adentrei o saguão e peguei o elevador, cliquei no botão que pararia no vigésimo e segui pensando.
Adentrei a cobertura me sentando no sofá, tirei o salto jogando em qualquer canto, me deitei olhando para o teto enquanto ainda pensava . Com pouca fome me levantei cambaleando até a sala de Jantar, fettucini e um vinho branco suave, a mesa de 12 lugares com 11 sobrando.
Embora calada, para Betina era como se eu estivesse gritando :
- Tá tudo bem Bah? Você tá tão quietinha -
- Fui no cemitério ver minha mãe -
- Ah querida, era hoje? -
Sim, era hoje. Hoje faziam exatos 3 anos que minha mãe tinha morrido, um dos dias mais perturbadores da minha vida.
Betina, ou só Tina, minha querida babá. Eu já vou fazer literalmente 23 anos e tenho uma babá, ela é meu apoio, meu alicerce... Ela me conhece muito mais do que eu mesma.
Enquanto me lamentava, meu pai "Dr." Marcos passou ao lado da porta:
- Oi Barbara - em sobe as escadas.
Minha única reação foi mostrar o dedo do meio enquanto fazia uma careta , Tina riu e foi em direção a cozinha. Eu então fui para o quarto, escondi debaixo da cama um cigarro eletrônico , liguei a televisão colocando malandragem, da Cassie Eller em um Tok bem auto .
Me debrucei então na cama fumando, enquanto cantava.
Quem sabe ainda sou uma garotinha ?
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada,com minhas meia três quartos
Rezando baixo pelos cantos .Enquanto isso, na sala de jantar Marcos parecia incomodado com o som :
- Oque ela tem hoje Betina? -
- Hoje faz três anos que a Dona Teresa morreu Dr. Marcos - ela o serve .
- Ah, é hoje -
- Sabe como é um dia difícil para nossa menina -
- Independente disso, vá lá em cima e mande ela desligar aquele som -
- Sim senhor-
Chorando em minha melancólica dor, estava escutando Chico Buarque... Uma das músicas que minha mãe mais gostava. Tina então abriu a porta me assustando :
- Ah não Bárbara! Já falei pra você não fumar essa porcaria - ela pega o objeto da minha mão.
- Tina me deixa vai -
- Sei pai mandou desligar o som -
- Deixa ele ouvir essa pérola! Quem sabe ele se lembra da minha mãe - falo alto para que ele ousa .
Tina fecha a porta :
- Querida, de uma forma ou outra vai ter que aceitar que a vida com o seu pai é essa. Vai ter que se acostumar! -
- Tina, por que ele não ficou em Aspen?? Ele poderia ficar lá quanto tempo quisesse... Eu não ia me importar , por mim que ele morasse lá pra sempre . -
- Escuta meu amor, as coisas nem sempre são como gostaríamos que fosse... Se fossem, sua mãe estaria aqui agora . -
Ela saiu, me sentei na beira da cama com as mãos no rosto. Levantei indo até o banheiro, tomei um banho e me deitei, era impossível não chorar, era tudo que eu queria.
O vazio no meu peito doía mais do que nunca, não me lembro de parar de chorar, apenas de cair no sono .
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𝐌𝐄𝐔 𝐐𝐔𝐄𝐑𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐑𝐎𝐅𝐄𝐒𝐒𝐎𝐑 ~ Wagner Moura
FanfictionApós a dolorosa perda de sua mãe, Bárbara embarcou em uma jornada de luto e autodescoberta que a levaria ao Rio de Janeiro, em busca de um novo começo. Com coragem no coração e o sonho de se tornar atriz como um farol de esperança, ela mergulhou de...