Capítulo 3-

379 39 7
                                    

No quarto, sozinho debaixo das cobertas, Éric maratonava Friends para tentar ficar à parte dos pensamentos intrusivos que gritavam tão alto ao ponto de fazerem eco em seu crânio. "Eu gostei do beijo", "Sua boca era macia", "Eu não recusaria beijá-ló novamente", "Sinto ciúmes das garotas que irão estar com ele no futuro".

- Que porra!- Esbravejou, agradecendo em seguida pelo fato de sua mãe não estar em casa para o repreender enquanto dissertava sobre as energias negativas que eram atraídas quando que se falava um palavrão. Baboseira!

Sem mais aguentar a figura do Kaulitz mais novo sendo o centro de todos os seus pensamentos, ao ponto de que sequer as piadinhas água com açúcar de Friends conseguiam o distrair, Éric saiu de casa planejando caminhar sem rumo por aí. Vestiu seu típico moletom amarelo, calçou seus tênis meio surrados e saiu do apartamento.

Em uma das ruelas em que havia se metido após um tempo de caminhada, ele encontrou Astrid. Essa que acabou tornando-se uma conhecida sua também devido às tantas vezes que ele frequentava a casa dos gêmeos. A garota tinha mechas loiras mal retocadas, sempre com pelo menos um palmo de sua raiz natural à mostra, usava maquiagens fortes com os lábios contornados de marrom e vivia andando por aí revezando entre a variedade de cropped's enfeitados com strass que possuía em seu guarda roupa.

Naquele dia em específico, os strass formavam uma cruz no centro do cropped preto, e a calça cintura baixa fazia com que sua barriga chapada chamasse bastante atenção.

Astrid tinha 17 anos, mas haviam boatos de que ela se interessava por garotos mais novos. Talvez Sandra, sua amiga, também compartilhasse dos mesmos gostos, e por isso beijou Tom quando ele tinha somente 10 anos e ela 14. Garotas geralmente preferem caras mais velhos e maduros, mas esse não era o caso.

- Oi, lindo! Quanto tempo.- Ela foi a primeira a se pronunciar quando se esbarraram. A mania que Astrid possuía apelidando todos ao seu redor de "lindos" chegava a ser irritante, mas naquele momento em que Magalhães tentaria a todo custo reafirmar sua sexualidade, o elogio soou convidativo.

- Como vai? Nunca te vi andando por essas bandas.

- Minha mãe pediu para que eu levasse o jantar do meu pai até o trabalho dele.- Ela justificou exibindo a sacolinha que tinha em mãos.

- Eu posso te acompanhar. É perigoso andar sozinha por aqui.- Éric constatou olhando a rua deserta.

- Tudo bem. Eu não negaria esse convite.- A garota sorriu mantendo aquele olhar penetrante de sempre. "Atirada", o brasileiro pensou, mas fingiu retribuir o flerte exibindo seus dentes de volta da maneira mais amigável possível.

Os dois juntos caminharam algumas ruas até chegarem finalmente ao bar em que o pai de Astrid trabalhava como gerente e funcionário simultaneamente. A sacola com suco e cozido foi entregue ao destinatário e o homem mais velho sorriu satisfeito enquanto agradecia à filha e simplesmente ignorava a presença do brasileiro ali no ambiente. Não era como se os mais velhos daquela região se importassem em receber bem os estrangeiros que supostamente manchariam a imagem de Magdeburgo.

Saindo do estabelecimento, os jovens voltaram a se encarar, da mesma forma que Éric havia encarado Bill mais cedo. "Droga, não pense nele de novo!"

- Obrigada por me acompanhar, lindo.

Quase como um mecanismo de defesa para se proteger dos pensamentos intrusivos com relação ao Kaulitz, o garoto respondeu meio sem pensar:

- Quer me agradecer de outra forma?

- Como assim?- A loira perguntou como se não estivesse esperando pelo convite desde o dia em que conheceu Éric na casa dos gêmeos e não parou de se oferecer para ele até então.

- Eu aceito um beijo como forma de pagamento por te proteger dos perigos noturnos.

A garota fingiu pensar enquanto arrumava uma das mechas de cabelo que caia sobre o rosto pálido. Após alguns segundos, ela olhou Éric nos olhos como se desejasse devorá-lo e respondeu:

- Tudo bem, lindo. Mas não aqui na frente.

Ambos foram juntos até um terreno abandonado longe dos olhares dos moradores da região, e principalmente, longe do campo de visão do pai de Astrid.
Tudo foi muito rápido, sem cerimônia alguma. As bocas se tocaram de maneira brusca e Éric só constatou que os lábios alheios eram tão ásperos quanto aparentavam. Durante o ato, Magalhães sentiu como se houvesse uma cachoeira de baba entre eles e os seus dedos enroscavam nos longos cabelos lisos na nuca da garota. Tudo contrastava absurdamente com o beijo que havia tido mais cedo.

Naquele momento, o estopim para que o ósculo fosse interrompido foi quando Astrid retirou a mão de Éric que descansava sobre sua cintura e reposicionou ela sobre um de seus seios.
Não era daquele jeito bagunçado e repentino que o brasileiro planejava ter contato com o íntimo feminino pela primeira vez.

- Tenho que ir para casa.- Ele falou se afastando e enxugando indiscretamente a própria boca.- Vai escurecer logo e eu não quero chegar tarde.

- Tudo bem, lindo.- Ela disse parecendo meio desnorteada. Talvez os garotos não costumassem recusar a chance de apalpar seus peitos, principalmente quando se está na puberdade.- Até mais.

- Até.- Ele disse dando meia volta e saindo do "esconderijo" onde estavam.

- Nem fudendo!- Tom parecia mais empolgado do que qualquer outro, como se seu jogador favorito de basquete houvesse marcado cesta. Naquele caso, o jogador era Éric, e a cesta era a vizinha mais velha que os garotos do bairro almejavam.

O brasileiro decidiu contar sobre o acontecimento do final da tarde anterior sentindo a necessidade de reafirmar para os outros dois na rodinha sobre sua heterossexualidade e reforçar como beijava mulheres, mesmo que Tom não estivesse ciente do que havia rolado enquanto ele tocava guitarra aos fundos da casa. Éric apenas pulou a parte do quão ruim toda a experiência havia sido.

- Então você não respondeu minhas mensagens porque estava ocupado enfiando a língua na boca dela?- Foi a vez de Bill se pronunciar, meio enraivecido.

- Ele está com ciúmes da vizinha gostosa.- Tom caçoou.- Você por acaso queria beijá-la também?

- Eu não beijaria Astrid nem que me pagassem uma boa grana. Ela fede a bebida e anda rodeada de fascistas loucos.

- Então com quem você perderia o BV?- Tom perguntou curioso, e o tópico da conversa fez os dois garotos que confiscavam o segredo ficarem constrangidos ao se encararem rapidamente.

- Não te importa, mané!- Ele respondeu dando um soquinho no braço alheio e revirando os olhos em seguida.

- Mudando de assunto, amanhã temos um show da banda. Você quer assistir, Éric?

Ah, a nova banda dos Kaulitz... Um dos maiores sonhos dos gêmeos sempre foi seguir pelo caminho da arte, e foi Gordon, padrasto de ambos, quem os introduziu ao mundo da música de uma maneira mais incisiva. Ele ensinou Tom a tocar sua guitarra e o presenteou com uma nova meses depois, enquanto ajudava a bancar as aulas de dança de Bill e os deixava ensaiar juntos algumas músicas em seu estúdio.

"Seria legal termos uma banda igual a sua" disseram os irmãos em uma conversa qualquer frente ao padrasto, e ele logo se empolgou ao saber que seus enteados gostariam de trilhar um caminho igual ao seu.

Gustav chegou primeiro no grupo, com suas habilidades na bateria e personalidade agradável, fácil de conviver. Depois veio Georg, um aluno de Gordon que só tocava baixo há uns dois meses como um novo hobbie dentre os vários outros que tinha.

Ao contrário dos outros três da banda, Georg era privilegiado, com ambos pais médicos, morador de um bairro repleto de casas bonitas e até mesmo tendo uma tartaruga de estimação. Éric não gostava dele, e nas poucas vezes que se encontravam, algumas farpas eram trocadas.

- Pode ser.- O brasileiro concordou por saber que teria a rara oportunidade de ver os amigos despidos de vergonha em cima do palco. Os gêmeos se transformavam quando assumiam cada um os seus respectivos papéis na banda, e Magalhães adorava acompanhar tudo isso.

Ready for love- Bill Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora