O Acordo

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Os cinco bruxos, determinados a não mais se esconderem dos humanos e a não mais se submeterem às suas leis opressivas, uniram-se em um pacto sagrado. Eles decidiram que era chegada a hora de se unirem aos outros bruxos que ainda resistiam em Aranthia, formando uma comunidade poderosa e independente. Juntos, eles seriam uma força imparável, protegendo uns aos outros e defendendo seus direitos e liberdade.

Naquele dia, nasceu a primeira Irmandade, cujo nome seria Ignis, em homenagem ao elemento que os havia salvado: o fogo. O fogo era um símbolo de renovação, destruição e transformação, representando perfeitamente a força e a determinação que ardiam dentro de cada um deles.

Em um ritual solene, eles se reuniram em um círculo, de mãos dadas, jurando lealdade uns aos outros e aos ideais da Irmandade. Sob as estrelas cintilantes, eles prometeram proteger-se mutuamente, compartilhando seu conhecimento e sua magia, fortalecendo-se como uma unidade coesa.

Mas havia uma promessa ainda mais profunda que eles fizeram. Eles juraram vingança contra a Sociedade Sagrada, aqueles que os perseguiam e tentavam suprimir sua existência. A sede de justiça queimava em seus corações, alimentada pela lembrança daqueles que haviam sido vítimas da intolerância e crueldade.

Eles juraram fogo.

Naquele dia sombrio, enquanto os bruxos estavam unidos em seu juramento de lealdade e propósito, um ser de pura maldade voltou sua atenção para eles. Um sorriso perverso curvou seus lábios enquanto ele se regozijava com a ira que emanava daquele lugar.

Ele estava interessado nos bruxos, pois via neles um potencial para espalhar o caos e as trevas por Aranthia. Ele queria usá-los como seus servos, como seus soldados, como seus instrumentos. Ele queria corrompê-los e destruí-los.

Movido pela sua sede de poder, ele enviou um de seus demônios para oferecer uma proposta tentadora aos bruxos: poder.

O demônio, uma criatura de sombras e malevolência, aproximou-se do círculo dos bruxos, sua presença sinistra envolvendo-os como um manto escuro. Seus olhos brilhavam com uma promessa sedutora, uma promessa de poder além de suas imaginações. Sua voz sussurrou insidiosamente, como um eco sibilante.

"Bruxos corajosos, vejo em vocês uma força incomum. Eu, que sirvo um Senhor de grande poder, venho oferecer-lhes um presente único. Poder. Poder que irá desafiar qualquer limite. Magia que transcende as fronteiras do entendimento humano."

O ar ficou tenso, carregado com a escolha que agora pairava sobre eles. O demônio oferecia a possibilidade de se tornarem invencíveis, capazes de derrotar seus inimigos com uma facilidade avassaladora.

A promessa de poder tentador era como um canto de sereia, chamando-os para um abismo de escuridão e perdição.

Os Ignis, envoltos em um turbilhão de emoções intensas, encontravam-se perdidos em meio à sua dor e revolta. A ira e a vingança queimavam em seus corações, obscurecendo sua visão e nublando seus julgamentos. Movidos pela ânsia de proteger sua espécie e sedentos por justiça, eles foram tomados pelo medo e pela sede de sangue.

Em sua cegueira emocional, os Ignis não desconfiaram das verdadeiras intenções do demônio. A oferta tentadora de poder absoluto havia sido aceita sem questionamentos, sem refletir sobre as consequências que iriam enfrentar. Foi um pacto precipitado, um acordo firmado às pressas, mergulhando-os em um abismo desconhecido.

Os Ignis sentiram uma onda de energia percorrer seus corpos, uma energia que os fazia se sentir vivos e invencíveis. Eles sentiram suas habilidades se ampliarem, seus sentidos se aguçarem, suas forças se renovarem. Eles sentiram algo mais: a imortalidade.

Eles agradeceram ao demônio pelo seu presente, sem saber que ele era na verdade uma maldição. Eles não sabiam que Abaddon não abençoava, não entregava dádivas.

Os bruxos não sabiam que o Príncipe Daeva viu neles uma oportunidade de espalhar o caos, de pender a balança para as trevas.

Os Ignis, sedentos pelo poder que lhes foi concedido, enfrentaram uma consequência devastadora. Seus corpos agora dependiam da essência vital de outras vidas para sobreviverem. Uma sede gutural e cruel de sangue os consumiu, transformando-os em criaturas insaciáveis.

Perdendo o controle sobre sua humanidade, os Ignis lançaram-se em uma caçada impiedosa. De reino em reino, eles deixaram um rastro de morte e destruição, alimentando-se sem remorso do sangue de humanos e bruxos. O que antes eram bruxos corajosos agora se tornaram monstros vorazes, predadores implacáveis.

Sob as ordens do Príncipede Daeva, o senhor das trevas ao qual haviam se aliado, os Ignis se uniram aos bruxos das trevas, os seguidores de Abaddon.

Juntos, eles causaram um terror inimaginável, espalhando uma escuridão impiedosa por toda Aranthia. O sangue da Irmandade transformava os inocentes em demônios, seres desprovidos de magia, porém tão fortes e cruéis quanto os Ignis, mãos tarde conhecidos como vampiros.

Os bruxos da luz se tornaram alvos, junto com os humanos indefesos. O terror e o desespero se espalhavam pelo reino, enquanto os Ignis e seus aliados mergulhavam cada vez mais fundo na escuridão.

Aqueles que um dia foram os defensores da liberdade e da justiça agora estavam aprisionados em sua própria sede insaciável. Condenados a uma existência de eterno tormento, sedentos por sangue e destituídos de sua humanidade.

Enquanto a escuridão se espalhava e a sede de sangue dos Ignis continuava implacável, Aranthia mergulhava em um abismo sombrio, onde a esperança parecia uma chama prestes a se extinguir.

Herdeiros do Destino - Contos de AranthiaOnde histórias criam vida. Descubra agora