A Sombra da Lua

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Há muito tempo, em uma aldeia oculta entre as colinas de Calandria, residia uma bruxa triste e solitária chamada Isadora.

Sua beleza envolvia um mistério sedutor, com cabelos negros como a noite que fluíam ao vento e olhos que pareciam capturar o brilho das estrelas. Sua pele era alva como a neve, contrastando com os lábios vermelhos como o sangue. Seu rosto era delicado e harmonioso, mas seus traços revelavam uma melancolia profunda.

Isadora vivia em uma cabana isolada na floresta, longe dos olhares curiosos e temerosos dos aldeões. Ela era uma bruxa poderosa, capaz de manipular as forças da natureza e invocar os espíritos ancestrais. Tinha um conhecimento vasto sobre ervas, poções, encantamentos e maldições. Mas não usava seus dons para o mal, pois tinha um coração bondoso e compassivo.

Na juventude, Isadora se viu completamente arrebatada pelo amor de um homem chamado Torin. Ele era um jovem caçador, forte e corajoso, que se aventurava pelas florestas em busca de presas. Seus olhos verdes pareciam refletir a luz do sol. Era gentil e carinhoso com Isadora, fazendo-a se sentir amada e protegida.

Seus encontros eram repletos de um amor clandestino, onde juras de eternidade eram sussurradas e corações se entrelaçavam. Eles se encontravam às escondidas na cabana da bruxa, longe dos olhares julgadores dos aldeões, que não aceitavam o relacionamento entre eles.

“Você é a minha vida, a minha luz, a meu amor”, declarava Torin, sempre a olhando nos olhos.

Eles se amavam com intensidade e fervor, como se cada momento fosse o último. Se entregavam mutualmente sem reservas, sem medos, sem culpas. Eram felizes naquele mundo só deles, onde nada mais importava.

No entanto, a felicidade de Isadora foi efêmera, pois Torin traiu sua confiança ao ficar noivo de uma mulher da própria aldeia, rompendo os laços que juraram preservar.

A bruxa descobriu a traição por acaso, quando viu o amado caminhando pela aldeia de mãos dadas com uma jovem. Ela era Lídia, a filha do chefe da aldeia, uma moça bonita e simpática, que era admirada por todos.

Isadora sentiu seu coração se partir em mil pedaços ao descobrir. Não podia acreditar que Torin havia mentido para ela, que havia trocado seu amor por um casamento arranjado. Sentiu uma dor lancinante em seu peito, como se uma faca tivesse perfurado sua alma.

Correu para sua cabana na floresta, chorando desesperadamente. Jogou-se na cama onde tantas vezes havia dormido com o homem, abraçando o travesseiro que ainda guardava seu cheiro. Soluçava sem parar, sentindo-se traída e abandonada.

“Por quê? Por quê?” repetia, sem entender o que havia acontecido.

“Como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde me enganar assim?” se perguntava, sem encontrar uma resposta. “Eu o amava tanto” confessava, sem consolo.

Passou dias e noites em sua cabana, sem comer, sem beber, sem sair. Só chorava e lamentava sua sorte. Sentia-se sozinha e desamparada. Não tinha ninguém a quem recorrer, que a compreendesse, que a consolasse.

Só tinha sua dor, sua mágoa, sua decepção.

Desolada e consumida pela dor, a bruxa sentiu-se traída e uma fúria inextinguível começou a crescer dentro dela.

Ela começou a pensar em vingança, em fazer Torin pagar pelo que havia feito. Começou a odiá-lo com todas as suas forças, com todo o seu ser. Desejou que ele sofresse tanto quanto ela havia sofrido, que ele se arrependesse amargamente de sua escolha.

Decidiu usar seus poderes para lançar uma maldição sobre Torin e sobre todos os que participassem de seu casamento, toda a aldeia que tanto a desprezou apenas por ser uma bruxa. Escolheu arruinar a felicidade dele e de sua noiva. Planejou transformá-los em monstros, em aberrações, em criaturas amaldiçoadas.

Herdeiros do Destino - Contos de AranthiaOnde histórias criam vida. Descubra agora